30/07/10

Explicações que o PCP não dá

Sempre que a natureza do regime da Coreia do Norte - e também da (dita por antífrase) República Popular da China - vem à baila, aparecem militantes, simpatizantes, "companheiros de jornada" do PCP, secundados algumas vezes por outros expoentes da síntese das diversas experiências do "socialismo realmente existente" em vista da reactualização do seu programa, que reagem dos dois modos seguintes:

1. Qualquer denúncia da natureza dos regimes em causa é equiparada a uma defesa do imperialismo norte-americano e dos intuitos belicistas de Washington, pelo que os autores das denúncias são considerados defensores do capitalismo e da ordem existente.
2. Quando os acusados de servidores do imperialismo e da oligarquia do capital, ripostando, sublinham que os seus acusadores avalizam como "socialistas", "progressitas" ou dirigidos por "partidos-irmãos", regimes de exploração que nada ficam a dever nessa matéria aos piores exemplos da esfera "ocidental", o protesto passa a ser que "lá estão eles" a caluniar o PCP e a sua área política, uma vez que nem o Partido nem o seu eleitorado defendem os regimes de tipo coreano - ou, também, chinês.

Ora, se efectivamente o regime da Coreia do Norte, nos termos usados por Domingos Lopes, no momento da sua ainda recente ruptura pública com o PCP, "não passa de uma ditadura familiar brutal que abusivamente se apoderou do simbolismo do socialismo para o ridicularizar", enquanto a RPc "emerge como uma ditadura do aparelho do partido e do aparelho militar com vista à implantação do capitalismo com o mínimo de sobressaltos sociais" (e aqui eu diria, não como Domingos Lopes, "com vista à implantação do capitalismo", mas com vista ao reforço e intensificação da ditadura de uma economia capitalista - mas adiante) - se efectivamente é esta a realidade, não se compreende porque é que os referidos militantes ou "companheiros de jornada" do PCP condenam como pró-imperialistas os que denunciam as duas monstruosas ditaduras, em vez de saudarem a sua luta contra regimes, com os quais o PCP também não quer que o identifiquem, como solidária da luta contra a ordem global estabelecida e as suas iniquidades e prepotência.

Será que devemos entender que, embora não se identificando com as concepções e práticas norte-coreanas e chinesas, o PCP reconhece às duas experiências inspirações solidárias da sua lusa via para o socialismo, apesar das distorções causadas pela pressão belicista do imperialismo de Washington? Mas, nesse caso, seria necessário explicar como é que, tanto do ponto de vista da mobilização popular interna como do ponto de vista da tomada de consciência dos explorados ao nível internacional, podem contribuir para outra coisa que não seja "dar armas ao capital ocidental" regimes que transformam os seus países em enormes campos de trabalhos forçados, suprimem as liberdades civis e políticas, promovem uma desigualdade estrutural inseparável do tipo de governo que impõem aos seus povos. Como seria necessário explicar em que é que o sectarismo, o dirigismo, o horror à discussão das suas directivas e concepções e, em suma, a divisão do trabalho político no interior do PCP e no tipo de relação que adopta com o exterior contribuem para o desenvolvimento de uma alternativa democrática ao governo da oligarquia do capital nas regiões portuguesa e europeia.

8 comentários:

Luis Rainha disse...

“Mas se são eles próprios – em Cuba, China, Vietname, Laos, RDP da Coreia -
que definem que têm como orientação e objectivo a construção de uma sociedade socialista…porque carga de água é que não se deve aceitar? São eles que o dizem, não somos nós. ”
Recebi este comentário, há uns tempos de uma dessas criaturas que emergem sempre que o PCP é assunto: alguém que assina "Margarida".


:)

miguel disse...

A questão é simples: as "explicações que o PCP dá" (Programa Político) não servem ao Miguel Serras Pereira. Não há mal nenhum nisso. É como as calças: não servem em todos os cus e cada um procura as que melhor se ajustam ao seu.

Francisco Castelo Branco disse...

Ja estamos fartos do discurso do nosso PCP.
Não acredito que muitos PC´s por esse Mundo fora tenham esta arrogância e falta de visão politica.

Mesmo com esta postura continuam a ter votos.
isso é ainda menos explicavel!

Tiago R. disse...

chamarita76%Homem, você devia tentar arranjar alguma crítica ao PCP que não tivesse 30 anos!
Essa é uma velha k7 que já farta, não?

Bin Laden disse...

MSP:

A explicação que tu não dás é porque é que mantêm um post com uma notícia tão falsa que até vocês o reconhecem na respectiva caixa de comentários...

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo que assima Miguel:

não vejo que haja seja o que for no Programa Político do PCP que responda satisfatoriamente às questões que levanto.

Tiago R,
a crítica dos sindicalistas e radicais ingleses ao capitalismo, desmontando a especificidade do mecanismo da exploração, é bastante mais antiga do que o próprio Capital de Marx e ainda não perdeu a sua actualidade. Você precisaria de demonstrar ou que o objecto das minhas críticas nunca foi como eu o descrevo ou que mudou e se transformou noutra realidade. Se o não fizer, só poderá trazer água ao meu moinho dizer que as mesmas críticas se faziam já há 30 anos.

Bin Laden,
como saberá, não foram o Vias nem o meu camarada João Tunes a dar a notícia a que você se refere. O blogue limitou-se a citá-la - e, como você diz, na própria caixa de comentários do post foram introduzidas as correcções necessárias. Mas claro que isso não era razão para apagarmos o post - do mesmo modo que um jornal pode e deve rectificar os erros em que incorre, sem que isso implique retirar ou guilhotinar os exemplares da edição em que os publicou.

Saudações democráticas

msp

Anónimo que assina Miguel disse...

MSP: "não vejo que haja seja o que for no Programa Político do PCP que responda satisfatoriamente às questões que levanto."

Pois, isso é exactamente o que escrevi: o MSP não se satisfaz com as formulações expostas pelo PCP no seu Programa Político. As respostas estão lá - inclusivamente já foram expostas aqui no seu blogue. Mas o MSP não gosta delas, queria outras. Olhe, tem bom remédio: inscreva-se e participe.

Unknown disse...

Miguel Serra Pereira: e se, em vez de enunciados genéricos, que tantas coisas podem significar, o miguel procurasse apontar com exemplos, o que acha errado no Programa do PCP? Porque de facto, ou se concorda e se adere, ou se procura alternativas.
Agora, quem conhece o PCP sabe pelo menos uma coisa: a sua actividade política e o seu programa são determinados pelo imenso colectivo partidário.
Acho engraçada a análise do Francisco Castelo Branco: diz "estamos fartos", mas não diz quem. A não ser que no caso use o plural majestático, o que para quem não gosta do PCP, só fica bem. Esqueceu-se foi de dizer a que se dirige a fartura de que se queixa e a alegada falta de visão política. Dê exemplos, homem, senão não conseguimos atingir o seu pensamento, seguramente nada arrogante e carregado de visão política.
É que Salazar també estava farto do discurso do PCP e foi o que se viu.
Quanto à China e Coreia do Norte, aconselho-vos a lerem, se nºão entenderem a sugestão como arrogância, O Partido com Paredes de Vidro, que ilustra bem a nossa concepção de vida e o nosso ideal. O mais belo ideal da Humanidade.
Viva o PCP!