30/07/10

Os da burka e o seu chefe

Este repto do Miguel Serras Pereira, só por si, tinha obrigação de envergonhar intelectualmente os vendedores de duplicidades. Mas como pedir tanto a gente que patrulha a blogosfera de burka enfiada e se “de cima” os exemplos são o que se sabe?

Veja-se como Ângelo Alves (da Comissão Política do PCP onde, formalmente, é o responsável pelas relações internacionais) se posiciona perante o processo actual de libertação dos prisioneiros políticos cubanos através de um artigo publicado no penúltimo “Avante”. Naturalmente que o bom senso aconselharia a que, dado que o governo cubano pactuou a libertação dos seus presos políticos, se moderassem os termos de confronto e ódio com que estes são caracterizados. Aliás, as autoridades cubanas fizeram-no e fazem-no como não podia deixar de ser pois seria um absurdo que a cidadãos a que se continuasse a chamar de mercenários, traidores, gente a soldo de potências estrangeiras, se lhes desse a liberdade e a oportunidade de exílio. O governo cubano sabia que quem tinha na prisão eram “delinquentes de opinião” e que tinha necessidade de resolver esse problema, dando-lhe recorte de acto humanitário preferencialmente negociado com o Vaticano e o governo espanhol. Mas, para Ângelo Alves (AA), para os da burka, para o PCP, Cuba não tem nem nunca teve presos políticos. Reconhecê-lo seria um deslize para a natureza pantanosa da evidência de que todas as experiências de poder exercidas por partidos comunistas descambaram em repressão dirigidas por Estados policiais. Portanto “mais papista que o papa”, AA conserva intacto todo o seu arsenal de injúrias aos dissidentes cubanos tratando-os como criminosos e gente mercenária ao serviço de potências estrangeiras (repetindo, curiosamente, o argumentário repressivo utilizado em Portugal pela PIDE para se referir aos combatentes clandestinos do PCP). E refere-se ao “Projecto Varela” (um movimento animado internamente pela oposição moderada da democracia cristã) como sendo um plano para derrubar pela força o governo cubano quando o que dele constava, apenas, era uma ampla discussão sobre uma revisão constitucional que permitisse a normalização da vida democrática segundo um consenso a sair da sociedade cubana. E quando AA insulta os dissidentes cubanos, curiosamente não tem palavras iradas contra Manuel Orrio (“Miguel”), o dissidente interno mais radical e que foi o principal promotor da iniciativa que levou aos contactos com James Casson em Havana. E porque é que AA poupa Orrio? Porque a solidariedade dele e do PCP para com a ditadura cubana naturalmente abrange a cumplicidade com o seu aparelho policial e os seus esbirros, incluindo os infiltrados e Orrio, após a grande vaga de prisões, terminado o seu “trabalho”, revelou-se como agente policial da secreta cubana no que foi devidamente louvado pelas autoridades. Uma pinga de vergonha de AA que, nas suas funções partidárias, coordena as actividades de propaganda do PCP (directamente, ou através da Associação de Amizade Portugal-Cuba e da CGTP) ao regime cubano e à sua ideologia, em que a Embaixada de Cuba em Portugal se desdobra em múltiplas acções de propagandas muitas vezes envolvendo o próprio embaixador, devia moderar-lhe o ímpeto de ser tão radical a condenar o envolvimento e apoio de uma embaixada estrangeira em actos de propaganda política ou ideológica. E sobre fundos de potências estrangeiras para financiar revoluções e outras questões, claro que o melhor que a prudência recomendaria para aquela banda seria o clássico “cala-te boca!”.

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