17/09/10

Manuel Alegre e "o silêncio dos cobardes"

O Daniel Oliveira publica esta notícia, limitando-se, mas com suficiente eloquência, a comentá-la no título que lhe antepõe: O Silêncio dos Cobardes:

O Parlamento rejeitou hoje um voto de condenação ao Governo francês pela expulsão de cidadãos ciganos do país, apresentado pelo Bloco de Esquerda, mas o sentido de voto dividiu as bancadas, em especial a do PS. Rejeitada com os votos do PSD, PS e CDS, o voto de condenação contou com 15 abstenções de deputados socialistas e de um social-democrata. O vice-presidente da bancada socialista Sérgio Sousa Pinto votou a favor da resolução.

Solidarizando-me eu com o comentário do Daniel e, neste caso preciso, com a proposta apresentada pelos deputados do BE, a minha pergunta é simples: Que dizer do silêncio de Manuel Alegre e da sua candidatura, supondo que este se mantém? Que dizer de uma eventual quebra desse silêncio que diga que lamenta a derrota do voto proposto pelo BE, mas compreende a posição do PS? Que dizer, também, de tudo o que não seja uma intervenção que retome, no essencial, os argumentos da proposta hoje derrotada, por parte de um candidato à Presidência da República, que não pode obviamente ignorar assuntos desta gravidade no que diz respeito às orientações políticas da União Europeia?

E será, enfim, possível que o BE e os cidadãos que, em nome do combate à ameaça da direita, apoiaram até agora a candidatura de Manuel Alegre, continuem a fazê-lo como se nada fosse, acatando sem condições seja o que for que o candidato anti-Cavaco queira fazê-los engolir - da "compreensão" manifestada perante o PEC ao silêncio cúmplice com o apoio de José Sócrates a um Sarkozy responsável pelo reactivar de uma política de deportações nesta Europa de começos do século XXI?

3 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

Não creio que a coisa se repita mas este ponto de vista não deixa de ser interessante (embora nada tranquilizador): http://wwwmeditacaonapastelaria.blogspot.com/2010/08/da-esquerda-e-da-direita-ou-como-se.html

Miguel Serras Pereira disse...

Ana Cristina,

obrigado pelo link - mas já tinha lido o seu post na altura em que o publicou.
Quanto ao que me diz ("não creio que a coisa se repita"], parece-me que, justamente, não é de crença que aqui se trata.
Repare que o nazismo era muito pouco verosímil ex ante; que qualquer sugestão que antecipasse a solução final seria considerada improvável, pelos próprios nazis, alguns anos antes de ter acontecido, etc. Claro que não estou a argumentar daqui que devemos ter por provável ou por crer que a coisa se repita. Estou simplesmente a dizer que não há garantias, certezas ou cálculos que nos garantam que podemos excluir a eventualidade da irracionalidade e a bestialidade excepcionais, eou, em geral, do "imprevisível" ou extremamente improvável.
Quando Karl Kraus anunciava uma época em que se fariam luvas de pele humana (como poderia ter anunciado o aproveitamento industrial dos despojos mortais das vítimas de futuros e conjecturais campos de extermínio), ele próprio consideraria estar a recorrer a um exagero polémico, a uma chamada de atenção preventiva, mais do que a uma previsão ou profecia. Lê-lo adequadamente seria responder a um apelo à acção e à reflexão política. O mesmo vale para Orwell e em muitos outros casos. Como é o da comparação do que se passa hoje - ontem ainda inconcebível - com o inconcebível que foi o desfecho de outras crises.

Abrç para si

msp

Isabel Faria disse...

"E será, enfim, possível que o BE e os cidadãos que, em nome do combate à ameaça da direita, apoiaram até agora a candidatura de Manuel Alegre, continuem a fazê-lo como se nada fosse..."
Os cidadãos que o apoiam não sei...os militantes do BE também não sei, mas as dúvidas são cada vez mais e maiores, acredite. A Direcção do BE, não é possível, é certo.
A forma como a CP do Bloco lidou desde o 1º dia com a candidatura de Alegre, dá-me, infelizmente, essa certeza. E como ainda sou militante do Bloco...lamento.