09/05/13

Os desempregados do sector público são 1,9% do total de desempregados?

Corre por aí uma frase feita segundo a qual "os desempregados do sector público são 1,9% do total dos desempregados" (exemplo 1, exemplo 2). Aparentemente, a origem do "meme" é uma entrevista de Paulo Trigo Pereira ao Sol, em que este diz:
"Em Fevereiro, tínhamos 700 mil desempregados registados no continente. Destes, 13,3 mil são professores do Ensino Básico e Secundário e 154 são quadros superiores da administração pública. Ou seja, os desempregados oriundos do sector público são apenas 1,9%. "
E no sector público só há pessoas com essas profissões? Eu pelo menos sei de auxiliares de acção médica do SNS que foram para o desemprego; admito que possam já ter arranjado emprego, mas duvido muito que não haja auxiliares de ação médica desempregados (não sei se são muitos ou poucos, mas uma estimativa dos desempregados oriundos do sector público que os ignora não me parece rigorosa)

Na verdade, o que eu suspeito é que, muito provavelmente, as estatisticas do IEFP não estarão por sector de origem, mas por profissão (havendo provavelmente uma categoria profissional chamada "quadros superiores da administração pública"), e o que Paulo Trigo Pereira terá feito terá sido, pelas profissões, tentar deduzir se vinham do público ou do privado - como os auxiliares de ação médica do SNS irão para uma categoria chamada "outro pessoal pouco qualificado" ou coisa parecida, onde se misturam com serventes da construção civil desempregados (oriundos no sector privado), não são visiveis nas estatísticas (da mesma forma, provavelmente os professores do ensino privado desempregados estarão contados nos "13,3 mil").

5 comentários:

alf disse...

É um bocado lamentável esta sanha contra o sector público. Porque é que deveria haver desempregados do sector público? Há desempregados da Sonae? Do Pingo Doce? os desempregados surgem essencialmente do fecho de empresas e o Estado não fechou; pelo contrário, as funções do Estado estão sempre a crescer por exigência das pessoas.

Se há desempregados do Estado, é lamentável, é sinal de má gestão.

Dizer que são uns privilegiados é tão absurdo como dizer que os empregados do Nabeiro ou do Belmiro o são. Tanto mais que as pessoas que agora o dizem provavelmente passaram a vida a gozar com os funcionários públicos e com os seus baixos ordenados enquanto eles, espertos, com são, ganhavam rios de dinheiro na "privada"; tal como os depositantes do BPP diziam dos que punham as suas economias em certificados de aforro.

Miguel Madeira disse...

"Do Pingo Doce?"

Há - ouvi dizer que as lojas do Pingo Doce de Portimão não renovaram os contratos a algumas das senhoras que lá trabalhavam (pela conversa que ouvi, não era claro se era uma redução de pessoal ou se era apenas o procedimento clássico de não renovar os contratos aos trabalhadores que estariam quase a entrar para o quadro e contratar outros)

Anónimo disse...

Mas vocês não são a favor do federalismo? Não é a corrente perseguição da função pública em Portugal um desígnio que está inscrito no próprio memorando da troika do qual a UE é o principal autor? Não sei do que se queixam.

UE uber alles. É isto que é o troikismo.

João.

Anónimo disse...

«a verdade, o que eu suspeito é que, muito provavelmente, as estatisticas do IEFP não estarão por sector de origem, mas por profissão (havendo provavelmente uma categoria profissional chamada "quadros superiores da administração pública")»

Lendo a página 8 deste documento, fica a ideia que sim.

AMCD disse...

Então diga lá o Sr. Paulo Trigo, já agora, qual é a percentagem de funcionários do Estado em relação ao total de empregados do país?

A afirmação cheira a utilização falaciosa dos números.