30/07/13

Ou a lógica é uma batata

Dizer, como faz um texto de André Albuquerque antologiado por Lúcia Gomes no 5dias, que, no nosso "nosso país vizinho, a Espanha", "[u]ma enorme e longa acampada e as gigantescas manifestações semanais que se lhe seguiram tiveram um efeito: colocar no poder um governo ainda mais autoritário que o anterior", equivale a dizer, a menos que a lógica seja uma batata, que as greves gerais, as diversas manifestações de rua e outras iniciativas de protesto ultimamente empreendidas na região portuguesa tiveram por efeito a continuidade da actual coligação ministerial.

5 comentários:

João Valente Aguiar disse...

O 5 dias conseguiu a proeza de hoje publicar dois textos medularmente nacionalistas. Ou patrióticos. Como diz um nosso amigo comum, nunca se sabe muito bem qual deles é o "bom" e qual é/seria o "mau"...
O texto da unidade moral da nação é tão panfletário e tão pouco reflexivo que só se dedica a debitar lugares-comuns e verdades feitas para M-L ler. E que sabe que vai ter audiência. Por outro lado, esta gente é tão historiadora que nem se lembram da "família portuguesa" do camarada Álvaro, da defesa das alianças com fascistas dissidentes da Legião Portuguesa, a defesa de uma Unidade Nacional que o regime fascista não conseguiria estabelecer pois estaria a "trair Portugal", etc. conforme apresentei aqui: http://passapalavra.info/2013/06/80311

Enfim, quando a fé move montanhas é porque ela realmente move montanhas na cabeça das pessoas...

Um abraço

Anónimo disse...

Isto provavelmente não será publicado mas em todo o caso vale a pena.

Em primeiro lugar:

Em relação ao texto linkado e escrito por JVA no Passa Palavra no que respeita ao tema da união nacional contra o fascismo que propunha Álvaro Cunhal? Não sei qual é a dúvida uma vez que é evidente que o derrube do fascismo ou viria da união dos portugueses em torno desse desiderato ou viria de fora ou não viria. O PCP escolheu a via da união do povo em torno desse objectivo. Pode até dizer-se que não foi bem sucedido mas qualquer organização política tem que traçar objectivos e métodos. Nem todos podem dar-se ao luxo de serem apenas críticos e analistas.

Depois, quanto à supostas alianças com membros dissidentes da Legião Portuguesa: é só preciso citar o próprio Álvaro Cunhal no texto linkado por JVA para desmentir o que é dito:

"Mas que fique bem claro. De momento, nós não procuramos plataformas, nem acordos, com tais legionários. O que nós procuramos é atraí-los às mais variadas lutas contra a política de traição do governo quinta-colunista de Salazar e da sua tropa de confiança, a Legião, à luta contra o comando hitleriano da própria Legião, à luta pelo desmascaramento dos manejos de traição e espionagem da Legião"

O objectivo central era derrubar o regime, para tanto o PCP na altura considerou que se deveria utilizar as dissensões que pudessem existir no seio do próprio regime, nomeadamente no seio da própria legião. Só um irresponsável, que não tem outras decisões a tomar senão as de fazer frases e escrever textos, pode abdicar de utilizar as contradições internas de um sistema inimigo contra esse próprio sistema. É que, não esqueçamos, para o PCP o regime fascista era o inimigo principal e em geral combate-se um inimigo de cada vez, principalmente se ele for poderoso, e não tudo ao mesmo tempo.

O resumo disto é o de sempre. São vocês que promovem o nacionalismo ao colocarem todo o tema da soberania nacional dentro da esfera do nacionalismo. Mas a resposta é também simples, não é por vocês dizerem que o tema da soberania nacional é um tema do nacionalismo que ele é ou tenha de ser, de facto, um tema nacionalista.

É portanto urgente à esquerda que não se permita que o tema da soberania nacional seja ditado pelo nacionalismo, pelos termos e pelos conceitos do nacionalismo.

Depois há uma grande diferença entre a unidade nacional de que falam os comunistas da unidade nacional de que fala a direita. À direita a unidade nacional é um apelo ao povo para não se antagonizar com as forças dominantes. À esquerda a unidade nacional é o inverso disto, é um apelo ao aprofundamento do antagonismo entre as forças dominantes e as dominadas.


João.

João Valente Aguiar disse...

E para derrubar o regime fascista nada melhor do que a defesa de uma aliança com fascistas mais lusos e menos germanófilos... Ai as circunvoluções da dialéctica.

outro andré disse...

Caro MPS,

Todas as frases se definem pelo que vem antes e depois - como tradutor isto não lhe é estranho.

Deixo o parágrafo seguinte:
"Parece-me provado que não é a constância ou a inconstância da rua que faz ou não a Revolução, é a força que está por detrás dela, a força da sua união em prol de um objectivo comum e concreto, ou, em alternativa, a força das armas que a querem concretizar. Se viajarmos entre Faro e Bragança, percebemos que a "união nacional", a nossa, a que quer a Revolução está longe de existir. Em muitos pontos do país há até quem suspire pela "união nacional", mas a outra, a que quer o regresso ao passado."

Discordo de algumas coisas das que aqui são ditas mas, por vias de facto, nada disto implica que a revolução portuguesa - para usar os termos do texto - é em si diferente da espanhola. Porque, já agora, a lógica não é mesmo uma batata - nem quando muito se quer que seja.

Já agora - e contra mim falo ao usar esta argumentação-: "Dê um passo convicto à frente quem acha que a estocada final na besta se dá de outra maneira. Convoquem a rua, tirem a limpo se ela está convosco."

A conclusão era esta - e não era, e nunca o foi, vitoriosa. Porque, mesmo antes, se assume que a cgtp e o qslt não conseguiram deburrar a besta apesar da capacidade de mobilização - comparada, aliás, a todas as outras referidas anteriormente. Ali a tónica é internacionalista e não nacional, expõe um problema que perpassa todos os locais onde houve manifestações: a incapacidade de uma real tomada de poder.

Se há uma solução mais imediata, prove-se. É só, como outros fazem, convocar e sair à rua. Mesmo que pelo meio tenhamos que sucumbir ao braço largo do regime - o movimento sindical.

Em jeito popularucho, se é outra consequência que se quer, caro MSP, traduzir não chega: é preciso pelo menos ler nas tascas o que se traduz.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Outro André,
já que V. fala em tradução, aqui lhe deixo este "cantar" de A. Machado, que, creio, dispensá-la no plano da língua, e reclamá-la, instante, no plano político:

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.

Saudações democráticas

msp