24/01/19

Rotinas

Há coisas que vistas uma bocado mais ao longe aparecem de forma provavelmente mais nítida como parte de algo maior. Quem se poderá admirar com notícias como esta? Foram só sete? Quem se poderá, em Janeiro de 2019, espantar com esta re-revelação, e vir agora invocar um descrédito total? Fazê-lo no quadro de uma manobra política contra a Caixa Pública é de uma estupidez total. Apenas meia dúzia de tolos é que ainda acham que a Caixa é Pública. A Caixa é um banco como  os outros que nos tempos do gamanço como modo de vida tratou, e muito bem, de deixar os seus "créditos por bolsos alheios".
A Caixa Geral de Depósitos é gerida desde à décadas como um banco privado. Tal como nos privados somos nós os cidadãos  que somos chamados a pagar os calotes coleccionados pelos seus brilhantes gestores.
Alguém no seu juízo perfeito podia ignorar a forma como a Caixa Geral de Depósitos financiou anos a fio operações especulativas na Bolsa, a comprar empresas cujo valor era menos que zero? Alguém podia ignorar que algumas das maiores fortunas do país eram verdadeiros ídolos com pés de barro? Gente atolada em dívidas, com um endividamento monumental e cuja única fonte de rendimento era encontrar algum amigo influente capaz de autorizar um financiamento de centenas de milhões de euros, garantido pelo obra e graça do Espírito Santo - e não estou a falar do ex-dono disto tudo?

Alguém ignora que a maioria dos empreendimentos imobiliários que serviram de pasto a muitos dos mais poderosos, novos e velhos ricos, da sociedade portuguesa, foram verdadeiras operações de papel, nunca chegando ao terreno?  Alguém duvida dos milhões que  se perderam por essa via?
Será que alguém dúvida dos milhões de luvas que foram recebidos por quem autorizou esses financiamentos, usando o poder que tinha recebido para o fazer?

Há uma leitura hipócrita a partir da "nova revelação" de velhas realidades. Fala-se como se não se soubesses, como se fosse um assunto que permanecia no segredo dos Deuses.

Afinal quanto custou a recuperação das antigas banca privada e pública portuguesa depois da intervenção da Troika ? Dezassete mil milhões de euros, não foi? Será que alguns dos cromos que ocupam tempo de antena no espaço público ainda continuam a cantar a canção do ceguinho, ligando  a origem da crise a uma imoderada propensão para  o consumo e vida fácil que os pobres cidadãos  portugueses sempre revelaram, coitados deles?

Alguém acha que estamos a fazer esforços sérios para mudar aquilo que tendo estado mal para a generalidade foi a razão do farto sucesso de alguns poucos?

Há um lado rotineiro na forma como se escreve a história da pobreza e da desigualdade em Portugal. Há um grande know-how, um savoir-faire que tem sido muito aperfeiçoado. Os resultados são visíveis.

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