11/03/11

A imperatriz e o seu protegido


Não percebo o espanto: afinal, a Leopoldina sempre gostou de malta cognitivamente desafiada. E o Miguel Sousa Tavares sempre andou à coca desta bicharada exótica; daí os livros pejados de "gralhas" (petit nom das referências não muito bem assinaladas) e de outros mostrengos. O Nuno Ramos de Almeida é que apanhou bem o parzinho.

10 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

Ó pá, Luís, não foi a Leopoldina. Eu sei que o nome é divertido, mas quem assinou o decreto de abolição da escravatura foi a princesa Isabel, neta da imperatriz.
O MST tem todo o direito a ser reaccionário mas ignorante, não. Sobretudo qd fala de cátedra e contra as Novas Oportunidades.
A calinada dele está assim a modos para a história do Brasil como alguém dizer que o 1º rei de Portugal foi o D. Dinis.
É GRAVE e diz muito da impunidade com que dizem, e passam, asneiras em Portugal.

Luis Rainha disse...

Ana, Olha que já tinha dado pela calinada.

Ana Cristina Leonardo disse...

É que a mim faz-me mais impressão a grossa asneira do que ele realmente pensar que o fim da escravatura possa ter sido decidido durante uma partida de canasta.
Ou melhor, quem se mostra tão ridiculamente ignorante não é para levar a sério.

joão viegas disse...

Pois, meus amigos. Como tantas vezes, uma pessoa pensa e diz : "o que devemos levar a sério, mas mesmo muuuuito a sério, é o caso das pessoas que levam a sério esses palhaços ! Até porque são aos milhões (em Portugal)".

Agora a Ana Cristina que me desculpe, mas a mim faz mais impressão o erro crasso sobre o principio, que denota uma falha grave quanto às bases, ou seja uma falta de conhecimento que é ja mais do que isso, uma falta de civismo e de educação democratica, do que a calinada a proposito da ilustração escolhida.

E' reconfortante saber que um palerma é um imbecil. Mas preocupante mesmo, é ele ser um imbecil.

No entanto reconheço que o que de mais preocupante ha, com os imbecis, é o risco de serem ouvidos. Portanto não estou assim tão seguro que o meu meio de defesa seja mais eficaz do que o da Ana Cristina.

Abraços

Ana Cristina Leonardo disse...

João Viegas, permita-me discordar. A ignorância é a mãe de todos os vícios (embora as humanidades não humanizem, como diria o Steiner).
O facto do MST achar que a abolição da escravatura caiu do céu no colo da imperatriz (e dos escravos, já agora) é um disparate. Mas confundir a imperatriz com a neta é uma asneira. A combinação das duas é explosiva. A segunda, contudo, mostra-se na minha opinião mais grave tb porque diz muito dos disparates que se ouvem em portugal impunemente e, já agora, da qualidade dos comentadores encartados. Não há medíocres inocentes...

joão viegas disse...

Ola,

Como disse, não tenho a certeza, mas mantenho e sublinho que a questão é, a meu ver, bastante mais importante do que o MST.

Diz você "a ignorância é a mãe de todos os vicios". Aceito a ideia mas, por acaso, não creio que seja isso que diz a sabedoria popular (com origem num provérbio grego, salvo erro), que é mais :

"A preguiça é a mãe de todos os vicios".

Boas...

Ana Cristina Leonardo disse...

A ignorância é a mãe de todos os vícios

será mais Luzes e menos sabedoria popular. E eu acredito no conhecimento.

joão viegas disse...

OK, estamos em estéreo então.

Ha aqui um ponto interessante, e importante, mas não tenho tempo senão para deixar umas pistas :

1. O ditado popular é mesmo sobre a preguiça, não sobre a ignorância. A origem é, pelos vistos, romana, mas tardia, e remete para o otium (o que permite que Alain acrescente, se bem me lembro, "mas também de todas as virtudes").

2. Tenho la em casa uma aula de um grego a pôr isso em perspectiva, onde se encontra a sentença grega que corresponde ao ditado, com a fonte, mas também com uma discussão pormenorizada. Esta num cartão...

3. Independentemente do aparato erudito, o que você diz leva a separar as "luzes" da sabedoria popular... Mas havera sabedoria que não brote do povo, e que não venha do trabalho ? So se fôr a dos clérigos que, a pretexto de estarem a segurar no candeeiro, convencem-se que são o sol...

4. Demonstração pratica. Não existisse Leopoldina, nem Isabel, que a calinada do MST continuaria a ser uma calinada. E uma calinada grave em qualquer parte onde existam escravos, ou seja em todo o mundo, inclusive no Brasil pos-isabelino. Em contrapartida, não tivessem existido escravos no Brasil, nem tivessem sido "libertados", e estivéssemos nos a falar do Decreto de outorga de uma concessão de minas em mil-oitocentos-e-troca-o-passo, e a calinada do MST passaria com certeza a ser uma minudência...

Bom, se alguém estiver interessado (aposto que não), posso voltar ao tema depois de ir ver o que dizia o meu professor grego...

Boas

Ana Cristina Leonardo disse...

João, com pressa, tb.

1. O ditado popular é tal como o cita, claro, e eu nunca disse o contrário - limitei-me a fazer uma paráfrase

2. Há sabedoria que não é popular, obviamente. E já que falou de clérigos e de sol, limito-me a lembrar o Galileu (faço coincidir sabedoria/conhecimento mas se não fizesse tb. dava - ou talvez mais, porque sábios é que há mesmo poucos...)

3. A calinada do MST tem mais relevância por se referir à escravatura e não à concessão de uma mina, claro. Contudo, o que está aqui em causa, e repito-me, é a relação entre a suficiência com que se fala de cátedra e a calinada, a própria (a incultura, para chamar de novo o Sena).

Demonstração prática.

Eu aceitaria discutir o tema da escravatura com alguém que tivesse uma visão da História como mera sucessão de actos mais ou menos heróicos protagonizados por grandes homens caídos do céu. Acho uma visão bacoca, mas pronto. Contudo, recusar-me-ia a discutir com alguém que, além dessa visão bacoca, nem sequer soubesse quem foi, no caso, a "grande mulher", que aboliu a escravatura.
Também pode chamar a isto o mínimo demoninador comum. Coisa que em Portugal parece não ter a mínima importância. Daí a enorme quantidade de asneiras que se dizem, se escrevem e vendem, sem que ninguém se importe em dizer: o rei vai sem cuecas (eu sei que a frase não é esta).

joão viegas disse...

OK, OK,

Você tem razão, como sempre...

Se eu visse um dia alguém na televisão começar uma intervenção num debate, afirmando de forma peremptoria com trejeitos de escarnio arrogante : "Em primeiro lugar, dois mais dois não é igual a quatro, mas a cinco", não precisaria de saber em que lingua fala, para saber que estou em Portugal.

E isto é assim, de facto, porque todos sabem, a começar pela alimaria em questão, que ninguém em Portugal se vai dar ao (trabalho/inteligência)* de ir verificar.

Boas

* = Risque a menção supérflua