22/03/11

A questão líbia no contexto das revoltas populares em curso no Médio Oriente

Não é verosímil que a vaga das revoltas no Médio Oriente acabe tão cedo. Na Siria, Bahrein, Arábia Saudita, Irão, etc., os seus efeitos começam a inculcar nos ditadores apreensões cada vez mais visíveis, ainda que, nalguns casos, aqueles as "racionalizem" através da evocação do risco de intervenções estrangeiras, para não confessarem que é a acção e a manifestação das forças populares nos seus próprios países ou nos países vizinhos aquilo que realmente os abala. O que se passa no Iémen, como podemos ler em El País, merece toda a nossa atenção:



Pois bem, sucede que estes "desenvolvimentos" não podem razoavelmente deixar de ser tidos em máxima conta na avaliação do que está em jogo na Líbia.

Digamos que, neste momento, o reforço da extensão das revoltas e as suas perspectivas de sucesso evitando riscos de guerras civis, requer

1. Que o apoio aos insurrectos líbios não exceda o mandato das Nações Unidas e sirva efectivamente para os ajudar a abreviarem os dias da ditadura na Líbia — escapando às perspectivas de entrada no país de forças terrestres de interposição ou (co-)administração "provisória". Assim, uma vez garantida a no fly zone, a intervenção internacional deve limitar-se a manter a vigilância, abstendo-se de outras acções de combate. O que não obsta a que nós, aqui, devamos continuar a exigir dos governos da UE e da própria UE que apoie o campo dos insurrectos na guerra civil em curso (meios logísticos, armamento, assistência médica e sanitária, etc.).

2. Que o "governo transitório" da resistência a Kadhafi assuma uma identidade mais clara e apresente o seu programa mínimo, comprometendo-se com a garantia das liberdades e direitos fundamentais. Este aspecto é, de resto, fundamentalmente urgente para viabilizar as pressões sobre a UE no sentido de um apoio "aliado",  e que não se lhes substitua, aos que lutam contra Kadhafi .

Estas duas condições, entre outras, poderão, com efeito, dissuadir outros regimes ditatoriais de apostar na cartada de fazerem guerra aos seus próprios povos e contribuir para desfazer a ameaça de vermos emergir na região pseudo-soluções do tipo iraquiano ou afegão, prevenindo a multiplicação das intervenções internacionais e dos riscos que acarretam. A nós, no que de nós aqui depende, compete-nos tê-lo presente e agir em conformidade.

1 comentários:

Niet disse...

As peripécias, fogueira de vaidades e jogos de bluff- politico-militares- entre as potências principais( e mesmo no interior dos staffs próprios a cada país interventor...) do ataque à Líbia de Kadaphi, começam a proliferar a velocidade supersónica nos grandes meios de Imprensa mundiais. Dois jornalistas da Imprensa italiana- um deles do La Stampa, Guido Rutuolo, e o outro do magnifico Corriere Della Sera, Lorenzo Cremonesi, destroem os espantalhos dos alegados ataques aéreos das tropas leais a Kdadaphi contra os rebeldes." Eles só queriam meter medo às populações com o barulho dos motores dos aviõs"..., salienta Cremonesi. Por outro lado, os russos e chineses- que obtiveram a garantia de não-invasão terrestre-começam a ficar muito apreensivos com o descomunal arsenal bélico e marítimo que ronda a costa libia. Cinco porta-aviões, navios gigantes de transporte de material e tropas de desembarque, fragatas equipadas com helicopteros e barcas de assalto. E,hoje, o NY Times analisa a " consistência" politica e organizativa da hierarquia dos "revoltados", em termos muito cruéis e de grave perplexidade. Se se juntar a tudo isto, que não é dispiciendo a vários titulos, a quase que inescapável " entrega " do dossier à NATO, como forma de neutralizar as manobras e tentativas de controlo e direcção das operações, tudo banha em águas muito turvas...Niet