15/03/11

Sem ter em conta de que


Apesar de não ser grande adepto de prémios e distinções honoríficas (tirando, naturalmente, a parte monetária da distinção), não deixo de ficar perplexo ao constatar que Irene Pimentel não sabe escrever em bom português. Bem sei que, como ela própria sublinha, "nem todos têm vocação para ser académico", mas seria desejável que uma laureada com o prémio Pessoa conseguisse alinhar meia dúzia de frases sem pontapear a sintaxe.
Isto, por exemplo, deixaria o poeta de mau humor durante o resto da semana: "eu gostaria de valorizar uma sugestão apresentada no «Fórum das Gerações» - aliás, termo muito mais interessante do que o que nunca gostei de «geração à rasca»". E isto também não é propriamente a prosa mais elegante que a língua permite: "E o Estado, que não pode resolver tudo, porque o contribuinte já não tem mais capacidade e o Estado também é ele, deveria apoiar este tipo de iniciativas, facilitá-las e valorizá-las."  Nem sequer faltou um momento Pinto da Costa: ""Rui Tavares, que sugere que se ponha em tribunal as grandes empresas que violem as leis laborais, sem ter em conta de que há muitas pequenas empresas que violam esses mesmos direitos" .
Nada disto seria importante, nem eu me alongaria neste exercício, não se desse o caso de Irene Pimentel partilhar connosco, sempre que pode e do alto da sua imensa presunção, as mais profundas reflexões acerca da ignorância alheia. Seria porventura útil chamar-lhe a atenção para o facto de, num país desta dimensão, apenas existir espaço para uma Maria Filomena Mónica.
Embora não deixasse de ser curioso - do ponto de vista académico, digo - juntar as duas numa sala arejada (durante umas horas, vá) para ver o que de lá sai. É bem provável que o país nunca mais fosse o mesmo e, bem assim, a cultura, a ciência, o saber e o progresso da humanidade.

4 comentários:

Anónimo disse...

A Filomena Mónica só pensa em merdas, mas escreve bem.

NRA

Miguel Serras Pereira disse...

Nuno,

…"escreve bem"? Mas a Irene Pimentel também não.


msp

Ricardo Noronha disse...

É possível e desejável construir frases com mais do que uma oração e, já agora, estabelecer algum tipo de relação entre elas.
Mas eu estava a falar da presunção. No Público de Domingo podíamos ler mais um admirável naco de prosa, no qual figuravam coisas como "A meritocracia ficou para trás, o que não admira, pois quem é miserável não costuma valorizar a concorrência" ou ainda "É mentira que mais ensino conduza necessariamente a uma economia mais dinâmica". A melhor parte é esta:"Através da Fundação da Ciência e Tecnologia, a União Europeia tem vindo estimular uma política expansionista do ensino pós-graduado, o que a faz distribuir bolsas de estudo a gente que, à partida, qualquer docente com dois dedos de testa seria capaz de prever que nunca acabará o doutoramento."
É tão evidentemente estúpida que nem apetece argumentar que a FCT atribui bolsas com base na avaliação feita por um júri formado por docentes universitários que, espera-se, terão tantos dedos de testa como ela.

José Borges Reis disse...

IM vs. MFM seria mais mítico que o encontro de Popper com Wittgenstein. Tenho dito.