17/05/10

Uma bicicleta bem roubada

Mas se os anteriores pontos mostram algumas contradições de Alegre no diagnóstico da crise e dos caminhos para a sua superação, a avaliação política do PEC parece mais uma tentativa de conciliar a sua candidatura com a direcção do PS. Este plano de estabilidade não mostra qualquer “esforço na repartição da carga fiscal”. Pôr toda a gente a pagar não é assegurar uma repartição justa. Quem tem mais deve contribuir com mais e quem nada tem deve ser poupado. (…) Finalmente, em relação às anunciadas privatizações no âmbito do PEC, que Alegre tem justamente criticado, nada é dito. Um silêncio só explicado, novamente, pela tentativa de apaziguamento político com o PS.


Assim escreve um dos mais notórios Ladrões de Bicicletas  desta região da Península, Nuno Teles, num excelente post, PEC e Alegre, cuja leitura atenta a quem quer que por aqui passe recomendo - e recomendo que recomende por outros lados por onde passe. Sem negar a importância de contestar a repartição iníqua dos encargos da estabilização, o texto vai bastante mais longe do que isso, e é o próprio regime que se quer estabilizar que põe em causa, e aponta como aquilo a que poderíamos chamar obstáculo à extensão da democracia, dos direitos e capacidades políticas dos cidadãos activos (cuja defesa, deixem-me dizê-lo entre parênteses, o MIC deveria reclamar que os seus militantes assumissem menos tão-só decorativamente como Alegre se obstina em continuar a fazer).
A única reserva que ponho tem a ver com a hipótese da saída do euro - uma espécie de resposta "nacional" à crise da Europa -, que Nuno Teles parece equacionar, no plano das alternativas, em pé de igualdade com o desenvolvimento político das " alianças políticas necessárias para que uma reforma profunda das instituições europeias esteja em cima da mesa". E formulo-a como uma objecção condicional, uma vez que a posição do próprio Nuno Teles a esse respeito - e ao contrário de todos os outros considerandos do seu post - não é muito clara.
Quanto a mim, seria desastroso - a menos que se tratasse de um passo necessário no caminho de uma outra federação política já em marcha - recuar para uma resposta nacional, senão "nacionalista", à questão social em vez de empreender o combate em termos políticos europeus e globais. Desastroso para a Grécia, para a região portuguesa, país a país; mas desastroso também para as perspectivas de democratização global e para as condições de extensão da liberdade e igualdade a essa escala. A integração - avançando a par da democratização e, tanto quanto pudermos impô-lo, através dela - das instituições europeias, a construção e afirmação de uma cidadania europeia activa refundadora da democracia política e da reorganização da economia através da participação generalizada e regular; parecem-me ser não só as melhores vias de transformação social para a própria Europa e para cada um dos seus povos, como também o melhor contributo que a Europa e os seus cidadãos devem - e se devem - dar para as tarefas prioritárias da democratização global.

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