28/07/10

O triunfo dos porcos?

 A blogosfera lusa, notório coito de malucos e extremistas, tem assistido, no consulado Sócrates, ao nascimento de uma curiosa casta de acólitos. Há a versão compreensível, de gente que tem ordenados ou afinidades várias a manter. Mas há a versão rábida e incansável, sem grande explicação à vista. Gente que até parecia saber pensar desistiu de usar as suas faculdades cognitivas antes de escrever, trocando-as por cartilhas rígidas e previsíveis: Sócrates nunca nada de estranho ou suspeito fez (das casas pavorosas ao Freeport, passando pela licenciatura, pelas pressões inaceitáveis sobre alguma Imprensa); figuras esquisitas como Vara, Rui Pedro Soares, "Miguel Abrantes" ou Ricardo Rodrigues são afinal todas impolutas, vítimas, nobres criaturas manchadas por cuspidelas de veneno insidioso. Nem uma racha desfigura esta muralha de certezas, nem uma dúvida tinge estas prosas justas e furiosas.
Agora, com a confirmação da ausência de Sócrates de mais um banco dos réus, abriu-se o curro dos insultos: o nada recomendável Mário Crespo passa a "porcalhão". Assim mesmo, com todas as letras, menos as de um nome que caiba num processo por injúrias.
Até a fúria missionária devia conhecer algum decoro. Mas não. De "filho da puta" a "pica-na-merda", já esta malta, mesmo a que gosta de se armar em vítima, lançou mão de quase tudo. Mas, afinal, talvez se limitem a seguir o exemplo do chefe: a proximidade ao poder sempre regou, em Portugal, as sementes da impunidade e da pesporrência.
Fiquem, no entanto, com um naco de sabedoria popular: também o porco julga que come tudo, mas acaba por dar o toucinho aos outros.

12 comentários:

Valupi disse...

Não sei por onde tens andado, mas o Crespo passou a porcalhão nos princípios de 2009 no que aos meus escritos diz respeito. Aliás, "porcalhão" é até simpático de mais, "pulha" é que lhe assenta na perfeição. Explicar-te porquê seria inútil, bem sei.

Quanto às tuas lágrimas de crocodilo pelas supostas perdas intelectuais que Sócrates causou no património blogosférico, antes tal sorte do que ser um caluniador. A decadência, moral e cívica, é que me parece bué da mau. Buereré.

Luis Rainha disse...

Confesso-me distante de tais hábitos. Não sabia que dispensavas tal tratamento fosse a quem fosse. E vais desculpar-me se considerar que o uso de insultos desse calibre também configuram alguma "decadência, moral e cívica", mesmo que não veja a relação antitética com a calúnia.

Valupi disse...

Mas quando foi que decidiste acabar com os insultos nos blogues, na Internet ou seja lá onde for? E logo tu? Não estarás a precisar de uma aspirina?

Entendo: a calúnia não te preocupa; os insultos - e seu calibre - é que alimentam o teu fervor justiceiro. Creio que o assunto fica assim bem rematado.

joão viegas disse...

Ola aos dois e desculpem estar-me a imiscuir na vossa conversa.

Concedo ao Luis Rainha que "tout ce qui est excessif est insignifiant" e sou sensivel à critica dirigida a quem recorre à invectiva ou ao insulto, mesmo quando parece « merecido ». Não porque seja deselegante de um ponto de vista literario. Muito pelo contrario, confesso-me leitor inveterado da literatura panfletaria, mesmo daquela oriunda de sensibilidades opostas à minha. Por exemplo, deleito-me sem quaisquer escrupulos com a magnifica carta dirigida a « ce petit Jean Baptiste Sartre » e recomendo-a sem hesitações, ela e mais duzias de escritos idênticos.

Agora numa coisa o Rainha tem perfeitamente razão. Quem recorre a esse estilo, sobretudo quando beneficia da cumplicidade da « actualidade », comete sempre um erro retorico, a expensas do seu capital de convicção.

No entanto, no caso de Socrates, cabe também reconhecer uma coisa. Muitas pessoas (eu ocasionalmente) perdem as estribeiras porque a histeria em volta do caso Freeport, denota uma preocupante falta de noção da diferença que deve existir entre responsabilidade politica, e responsabilidade judicial.

Ora isto é inaceitavel.

E’ inaceitavel, não apenas porque seja uma tremenda falta de cultura juridica republicana, mas também porque é um erro politico grosseiro.

Dando de barato que membros do Governo ou o PM possam ter-se comportado de forma a levantar suspeições de actos criminosos, então devemos exigir, e logo aceitar, que as regras cumpridas sejam as dos tribunais. E quem brinca com elas, ou finge não as perceber, ou prefere desacreditar a autoridade judicial a aceitar um resultado que não lhe convém, esta pura e simplesmente a trabalhar para aumentar a pasmaceira de que se queixa, e a contribuir para criar um mundo de sonho para todos os criminosos.

Tenho presente um post recente do Luis Rainha sobre teorias da conspiração. Ora bem, não existe sistema judicial que se aguente dois dias contra essa logica, que não é mais do que uma forma comoda de cedermos à ditadura dos nossos palpites. No dia em que o « cheiro a esturro » bastar para condenar o meu vizinho, estaremos todos mal, e a democracia então nem se fala… A historia ja se encarregou bastante de demonstrar isso mesmo.

E se estivermos perante outro tipo de problemas, tais como acharmos que o Rui Pedro Soares não esta à altura das responsabilidades que lhe foram dadas, ou que o governo deve ser responsabilizado porque ainda existe corrupção, ou ainda porque devemos exigir de um governante que distinga entre construir o futuro e construir estadios de futebol, então estamos a falar de responsabilidade POLITICA. Esta não tem nada a ver com tribunais, discute-se nas urnas.

Portanto, não obstante o que disse acima, posso entender que se va aos arames contra quem insiste em misturar as duas coisa. Pessoalmente, admito que isso me tira do sério. Porque é uma forma, pouco subtil alias, de me chamar estupido…

Nesta questão, tenho muita pena, mas estou completamente com Garcia Pereira !

Luis Rainha disse...

Deixo-te a honra do remate sempre que a quiseres. Mas que à calúnia sigam como resposta obrigatória os insultos, eis mais um dos sintomas da "decadência, moral e cívica" que tanto te aflige.
Ainda para mais, não tendo essas calúnias a tua augusta pessoa por alvo.

Luis Rainha disse...

Mais: no teu caso, não encontrarás aqui "fervor justiceiro". Tão somente alguma pena pelo estranho caminho que escolheste. Não te quero apedrejar; não sonhes com mais essa perseguição.

Valupi disse...

Confirmo, a decadência moral e cívica aflige-me. Aflige-me que se faça política com calúnias, aflige-me o dano causado pelas calúnias e aflige-me a perspectiva de assim continuarmos. Já aos insultos, celebro-os. Creio que há um défice de insultos em Portugal.

Contudo, aflige-me sobremaneira que te permitas dizer que "essas" calúnias não têm a minha augusta pessoa como alvo. Não sabia que me querias destituir da cidadania, embora fique um pouco mais descansado por garantires que tal não será feito à pedrada.

Miguel Serras Pereira disse...

Valupi,

é espantoso que você escreva: "Não sabia que me querias destituir da cidadania".
Com efeito, uma das condições do exercício de uma cidadania minimamente democrática passa pelo dar a cara e o nome, muito em particular quando se insultam terceiros. E, de resto, como saber se um anónimo está a ser caluniado ou não, se não sabemos de quem se trata?
Claro que há condições políticas (ditadura, etc.) que justificam o anonimato e a acção clandestina em acções - por ssim dizer, preliminares - que visam a instauração de um espaço público de crítica e proposta responsáveis.
Agora, o anonimato ao serviço do poder, o anonimato usado para defender o poder do momento e denunciar os seus opositores, é uma auto-destituição da condição de cidadania democrática que você reivindica e de alguns dos seus essenciais direitos de defesa.
Por exemplo, se você acusar o Luis de estar a soldo do governo da RPC ou do camarada Jerónimo de Sousa e de frequentar sessões clandestinas de expressão ritual anti-semita organizadas pelo xatoo, o Luis poderá dizer que está a ser caluniado por um anónimo que abusou das leituras do Padre José Agostinho.
Você, por outro lado, se alguém puser a hipótese: "O Valupi deve agir a mando ou por encomenda do governo de José Sócrates uma vez que se porta como um cão de guarda do minsitério en place", já não poderá defender-se da mesma maneira, puxando do seu curriculum vitae.
E o LR não terá sequer necessidade de propor a uma assembleia a sua destituição provisória da cidadania, porque você se antecipou a qualquer proposta desse género, auto-destituindo-se.
Finalmente, parece-me que quem insulta os outros, citando-lhes o nome por extenso, deve no mínimo assumir a responsabilidade humana e cidadã do que faz. Dever que o anonimato exclui à partida.
Vai ver que o défice do insulto lhe parecerá menos grave se se decidir a deixar de ter suportar, na sua intimidade, o convívio de um agressor anónimo: é uma companhia que não deixa incólume seja quem for. Pense nisso - pois mais vale tarde…

msp

Valupi disse...

Miguel Serras Pereira, que culpa tenho eu que consideres anónimo quem não conheces? E que esperas tu conhecer com um nome que te pareça identificável nalguma lista telefónica?

No entanto, dizes que não dou o nome nem a cara. Bom, "Valupi" é um nome e é meu. É até original e mais identificável do que "Miguel", "Serras" ou "Pereira". Claro que tenho outros nomes para juntar a esses, e não são secretos. Quem me pergunta por esses nomes, se o fizer com educação e propósito, fica com eles nos neurónios. O que é aborrecido é ter de levar com catatuas como tu, que nada perguntam e começam logo a disparar carimbos de anonimato para cima de quem até já privou com o autor deste mesmo texto onde comentamos. Isso, sim, é um exemplo de baixa cidadania.

Quanto à minha cara, posso enviar-te uma foto. Escusas de me enviar a tua de volta, não sou assim tão curioso.

joão viegas disse...

Meu caro Miguel Serras Pereira,

Talvez seja intencional, mas você esta a empurrar o Valupi para uma das suas questões predilectas, que ele encara como o cão encara o osso : a questão do anonimato na bloga,. Pessoalmente, acho a discussão um pouco superficial. Na melhor das hipoteses leva-nos a uma reflexão sobre o que é a « persona ». Na pior, interessa sobretudo ao perfeitamente nominado menino jesus.

Abraço

Miguel Serras Pereira disse...

O Valupi sabe muito bem de que tipo de "anonimato" e de que tipo de "identificação" se trata aqui. É por isso que desconversa e fala em enviar fotografias. Em vez de encarar a perspectiva de assumir a responsabilidade do que escreve, inimputavlemente, quando interpela directamente outros cidadãos mencionando a sua identidade civil.
Além de visivelmente necessitado de exercitar a boa fé e a argumentação racional, o Valupi revela-se também gravemente carente em matéria de convivência civilizada. Ou se cuida ou é de recear que sucumba ao veio delinquente, berlusconiano, da sua grosseria - elemento não-despiciendo, aqui, da "decadência, moral e cívica".

msp

Caro João Viegas,
compreendo bem, julgo eu, o seu ponto de vista. Mas a nossa divergência a este respeito vem das razões que invoco no meu comentário anterior e neste. E sei que não deixará de as compreender também, ainda que entendendo dever corrigir, aqui ou ali, com a sua perspicácia habitual, a formulação que lhes dou. De resto, você sabe melhor do que eu que tipo de "comparência" ou "identificação" se requer de quem incrimina outrém. Porque, no fundo e, mutatis mutandis, é disso que se trata.

Caloroso abraço

msp

joão viegas disse...

Caros,

Tomado de um escrupulo, vinha por umas aspas na palavra "anonimato" do meu comentario anterior, mas vejo que o Valupi ja sacou da pistola...

Valupi, ja sabemos que assumes a responsabilidade juridica do editor e que te bates em duelo se for preciso.

Como eu não sou de pistolas, desafio-te apenas com objecções, neste caso com a do Rainha no post, que tão bem se aplica à tua resposta ao Miguel Serras Pereira, e que se pode enunciar assim :

Ja consideraste a hipotese de a forma de alguns dos teus textos retirar eficacia, e mesmo visibilidade, ao fundo dos teus argumentos ?

Mas, deixa estar, no fundo tens razão.

O que da pica a isto é mesmo esse tipo de guerras do alecrim e mangerona...

Peace, progress, prosperity(*)...

(*) Esse slogan era o da campanha do Eisenhower e do Nixon ("Peace, progress, prosperity, vote Dick and Ike"). Eu sei que não devia cita-lo, mas não deixo de lhe encontrar piada e, como és um especialista em publicidade, achei que ficava bem aqui...