12/02/11

Há quem dispare em todas as direcções, como diz o Zé Neves, e consiga o prodígio, digo eu, de acertar sempre e só em todos os seus pés

Recorrendo a afirmações avulsas de uma entrevista de Manuel Villaverde Cabral ao i (em 10/07/2009), bem como a uma passagem cuidadosamente isolada do Proletariado - o Nome e a Coisa (Lisboa, A Regra do Jogo, 1984) do mesmo autor, Carlos Vidal procede no 5dias a uma equiparação — tóxica e grotesca nos seus propósitos — entre as posições de MVC e certas teses de Manuel Gonçalves Cerejeira, constantes do seu livro A Igreja e o Pensamento Contemporâneo (1925).
A propósito do post, eu começaria por fazer notar a CV que, com citações truncadas, é muito fácil demonstrar o que se quiser contra ou a favor de quem quer que seja. Mas reconheço que CV tem a lisura de fornecer o link da entrevista do MVC - permitindo a quem estiver interessado, ler que este "antigo camarada de Cavaco e actual próximo de Passos", veria com bons olhos uma alternativa governamental de coligação à esquerda incluindo o PCP.

Por outro lado, admirador de Ratzinger que é, não chego a perceber bem se a aproximação que Vidal ensaia entre Manuel Gonçalves Cerejeira — doutrinariamente tão próximo da mesma inspiração que nutre Ratzinger: por exemplo, com a sua tese sobre a insuficiência do século para se bastar a si próprio em matérias como o sentido da vida, a ciência, a política, a ética, etc. — e MVC é inspirada por um propósito pejorativo ou laudatório.

Mas não importa muito: trata-se, com efeito, de uma redondamente abusiva, pois, se há entre nós quem pense contra qualquer sacralização, remitificação ou "reenfeitiçamento" do mundo e, nomeadamente, da acção e reflexão políticas, ninguém o faz mais radicalmente do que MVC. Ou seja, para este — embora a formulação que se segue seja da minha responsabilidade — o conhecimento racional é republicano e laico, como deve ser a paideia do cidadão e o exercício da condição governante, entre iguais, que convém à sua maioridade anti-classista e democrática.

Dito isto, estou longe de concordar com todas as análises de MVC na entrevista citada, sobretudo na medida em que me parecem levar pouco em conta a necessidade de extensão da acção política para além das fronteiras que o regime e as relações de poder estabelecidas lhe assinala e impõe como limites. Resta, apesar de tudo, que, noutras intervenções de MVC — e, superlativamente, por exemplo, no ensaio sobre que nome e que coisa entender por "proletariado" — encontraremos, se o soubermos ler, essa exigência de reconhecimento e exercício da dimensão instituinte da acção política, à luz da qual algumas limitações de perspectiva da sua análise da conjuntura política na entrevista aqui citada se tornam, creio eu, bastante evidentes. Talvez, um dia destes, ainda volte ao assunto. Quanto ao post de CV, prefiro, até mais ver, ficar por aqui.

5 comentários:

Niet disse...

MS.Pereira: Mande um comentário soft ao teu texto.Perdeu-se? Niet

Niet disse...

MS.Pereira: Houve um Blitz no meu PC. O que eu dizia era isto, resumindo: O CV com todo o seu humor e fantasia, está a perder tempo e a deixar para tràs o ensinamento máximo de Badiou: Estaline pela janela fora, dialéctica processual virada pela critica antidogmática da verdade e do real na acepção múltipla post-acontecimento e a matematização schizo do conceito de indécidable...O MVC é menino para resonder, como fez há anos no blogue " divino " de Constança Cunha e Sá/ Vasco Pulido Valente, o Espectro...Vamos esperar?

Miguel Serras Pereira disse...

Niet,
o Badiou não é dos meus pratos favoritos, mas adiante…
O que se passa é que aquilo que o CV escreve tem mais a ver com o seu ódio ao livre-exame e à igualdade democrática do que com o MVC. O que é que queres que ele responda a um tipo que o aproxima do Cerejeira a pretexto dos "ismos"?

msp

Niet disse...

O que se está a passar no 5 Dias- com a excepção notável de NR de Almeida e do Renato Teixeira, principalmente- é um " endurecimento " e uma censuirite a toda a prova, no tom e no estilo super-agressivo do " pior " C. Vidal de outrora. Impante e tonitruante na sua veste de " académico " e de, com contumélias laudatórias , ter sido investido em altas funções de " examinador " de Curriculuns, fica-se espantado com tão rápida e temerária metamorfose burocrática e dadaísta no interior da famigerada ESBAL dos anos 2000, covil de avarias e azares dignos de um palimpseto do Júlio de Matos. Niet

Anónimo disse...

Gralhas : Há bocado no texto 2, era responder, hipótese do MVC responder!. Agora é palimpsesto, claro. Niet