01/03/11

Contra o pagamento da dívida



A crise que atravessa o mundo não é um desastre natural nem um acidente de percurso. Faz parte, como outras que a precederam, dos próprios mecanismos do sistema capitalista em que vivemos. Quando os negócios perdem rentabilidade e os investimentos deixam de gerar os lucros necessários, a crise torna-se um pretexto para baixar salários, privatizar bens ou serviços essenciais (água, energia, saúde, educação), reduzir direitos e conceder mais privilégios aos privilegiados.

Depois de vários governos terem injectado fundos públicos (pagos pelo contribuinte) no sistema financeiro - para cobrir os prejuízos provocados pela especulação no sector imobiliário - o problema da dívida pública ganhou uma importância decisiva. Esse mesmo sistema financeiro cobra agora juros cada vez mais elevados aos Estados, pelos empréstimos de que estes necessitam para relançar as respectivas economias e assegurar o seu funcionamento. Os «mercados» procuram compensar as suas perdas através da dívida pública e os governos agem por sua conta, impondo políticas de austeridade e fazendo os trabalhadores pagar a crise.
A luta contra o pagamento da dívida é um dos elementos essenciais da resistência às imposições da alta finança mundial. Recusamos-nos a pagar para manter o capitalismo agarrado à máquina. Por todo o lado se formam grupos, movimentos e organizações para juntar esforços nesse sentido, superando o isolamento nacional e colocando a questão no plano internacional. É tempo de começar a fazê-lo, também aqui.

A sessão pública de apresentação/lançamento do Comité contra o pagamento da dívida pública, inserida nas Jornadas Anticapitalistas, irá realizar-se hoje, 1 de Março, na Casa da Achada, a partir das 18h30.

6 comentários:

Anónimo disse...

Não acha que, se recusassemos pagar a dívida, ninguém mais nos emprestava dinheiro e toda a economia falia? Que os bancos deixavam de ter dinheiro para emprestar aos mauzões dos capitalistas, e as empresas iam à falência, e ninguém mais poderia comprar casa com um empréstimo bancário, etc, etc, etc... Passavamos a trocar melões por salsa e salsichas por sardinhas no Rossio. Era giro, mas não, não me apetece voltar à idade média.

(ok, hoje tirei o dia para responder a disparates)

JPTelo

António Geraldo Dias disse...

Bankers in the North look upon any economic surplus – real estate rent, corporate cash flow or even the government’s taxing power or ability to sell off public enterprises – as a source of revenue to pay interest on debts. The result is a more debt-leveraged economy – in all countries. Foreign investment, bank lending, the privatization of public infrastructure and currency speculation is now viewed from this bankers’-eye perspective.
Michael Hudson
Where is the World Economy Headed?

Ricardo Noronha disse...

E se vários países se recusassem a pagar a dívida, ou uma parte dela que considerassem ilegítima porque sujeita a taxas de juro astronómicas?
Os cenários possíveis são muito mais numerosos do que sugere a sua "resposta" aos "disparates". Mas não deixe que nos coloquemos no seu caminho e continue a juntar forças para consolidar.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Não pagar a dívida parece boa ideia.
Só tem um pequeno detalhe a resolver, o que fará o Governo no dia em que se lhe acabar o dinheiro e não conseguir mais emprestado a juros sustentáveis, se deixa de pagar os salários à função pública, se as pensões aos reformados, se as contas aos fornecedores, ou mesmo se deixa de pagar tudo a todos? Resolvido este detalhe, fogo à peça, não tenho nada a opor...

Anónimo disse...

"Quando os negócios perdem rentabilidade e os investimentos deixam de gerar os lucros necessários, a crise torna-se um pretexto para baixar salários, privatizar bens ou serviços essenciais (água, energia, saúde, educação), reduzir direitos e conceder mais privilégios aos privilegiados."

Onde é que isto aconteceu? e o que tem a ver com a actual crise?

"Depois de vários governos terem injectado fundos públicos (pagos pelo contribuinte) no sistema financeiro - para cobrir os prejuízos provocados pela especulação no sector imobiliário - o problema da dívida pública ganhou uma importância decisiva."

Se vivêssemos numa sociedade verdadeiramente capitalista isto nunca teria acontecido... Porque continua a propaganda anti capitalista baseado em ideias falsas?

Justiniano disse...

Mas, caro Noronha, a questão é a natureza do débito, a justeza do seu cumprimento, a natureza ou o parametro dos seus frutos!!??
Qual a questão, caro Noronha!?
Porque não equivale, o caro Noronha, o não pagamento da dívida com a não constituição de dívida!!?