30/03/11

O mito do tribalismo na Líbia

Em particular para quem acredita no mito da importância do tribalismo na Líbia, recomendo a leitura deste texto publicado hoje no Guardian.

Um extracto:

"Some of those opposed to the international military intervention seem to have unwittingly taken up this call as the defining characteristic of modern Libya. This handy bit of received wisdom, however, needs to be tested against actual events. If there is any genuine tribal separatism among the democratic movement, why are they still fighting to liberate the west of the country? They now have air cover, they control oil-producing areas and have an interim government with international recognition and support.

If tribalism were at the heart of this effort, why risk it all to liberate towns in the west? Why have towns such as Misrata, Zawiya and Zintan, all a short drive from Tripoli, chosen to join the National Transitional Council – a fledgling government on the other side of the country that has so far been powerless to support them or come to their aid?

Is this a tribal act or the brave statement of people taking a stand against a tyrant in solidarity with their fellow Libyans?"

19 comentários:

Anónimo disse...

O Pedro Viana está virado para as tribos. Ele lá sabe porquê.

Mas para quem quiser saber mais sobre o que se está passando na Líbia, mais concretamente quem é o líder co Conselho Nacional de Transição, Mahmoud Jibril, pode ficar a saber que é um professor de economia na universidade de pittsburg, nos Estados Unidos, e é internacionalmente conhecido pela defesa do Neoliberalismo.

Assim, aos poucos se vai conhecendo a trama imperialista que caiu sobre o povo líbio.

Mahmoud Jibril is a Libyan politician who, since 23 March 2011, is the current Prime Minister of the Libyan Republic, one of two entities currently disputing control of Libya.

He is also head of the Executive Team of the National Transitional Council.

Jibril graduated in in Economics and Political Science from Cairo University in 1975, then gaining a masters in political science in 1980 and doctorate in strategic planning in 1984, both from the University of Pittsburgh.

For all his life he has been a strong advocate of neoliberalism

Fonte: wikipedia

Anónimo disse...

A posição dos anti-guerra e socialistas USA: www.newclearvision.com.
Gadaffi nunca custou um cêntimo aos contribuintes norte-americanos, ao contrário de Moubarak; não torturou tanto como o rais egipcio e as suas prisões têm uma taxa de ocupação muito inferior à dos USA...Niet

Anónimo disse...

Gadaffi nunca foi eleito. Nem quer ser.
Mas deve ser boa pessoa. Tem muitos amigos.

Anónimo disse...

O mito do racismo na Europa será um mito?!

Anónimo disse...

Os lacaios do imperialismo gostam de se esconder sob a capa de amigos do povo líbio.

O contrário é que seria surpreendente. Do género:

«Nós , os lacaios do imperialismo, mais os nossos admiradores, nós somos inimigos do povo iraquiano, líbio e afegão, e por isso vamos fazer-lhes vida negra»

Isso, sim, isso seria surpeendente, e um autêntico estudo de caso. Agora, atacar um país invocando motivos humanitários e de amizade já é tão habitual que não espanta ninguém...

Pedro Viana disse...

Caro anónimo das 21:04, em primeiro lugar, até prova em contrário, Kadhafi tem massacrado sempre que pode quem levanta a voz contra ele, ao contrário daqueles que pegaram em armas para se defenderem e a outros. Esta é para mim a questão central, o resto é acessório. Mahmoud Jibril é uma pessoa entre centenas de milhar em risco de perder a sua vida caso Kadhafi tivesse conseguido, ou ainda venha a conseguir, esmagar a rebelião, e portanto é-me irrelevante quem é ou que defende Mahmoud Jibril. De qualquer modo, o direito à vida é para mim independente da ideologia, e é-me portanto indiferente que Mahmoud Jibril seja comunista, neoliberal ou fundamentalista islâmico, continua a ter o direito a ver a sua vida defendida de quem a lha quer tirar apenas porque deixou de lhe obedecer. Aliás, mesmo não conhecendo de todo Mahmoud Jibril, merece-me respeito o simples acto de se ter rebelado contra o todo-poderoso tirano, colocando em risco a sua vida e a dos seus familiares. Poderia, com imensa facilidade, ter saído da Líbia e estar agora a gozar a vida em qualquer local do mundo. Não o fez, e por isso merece a minha admiração, tal como todos os outros que não aceitaram continuar a rebaixarem-se perante Kadhafi. Poderá vir a haver um dia em que irei discordar de Mahmoud Jibril. Mas a especulação sobre o futuro não deve fazer esquecer o que se passa no presente.

Pedro Viana disse...

O anónimo das 23:38 está um bocado confuso. Mas que país é que os "lacaios do imperialismo" estão a atacar? O que vejo é um grupo de países a atacar o aparelho militar dum tirano que vive num país de nome Líbia. Por acaso sabe de algum bombardeamento dos lacaios do imperialismo" a cidades líbias tão importantes como Benghazi ou Tobruk? É que, sejamos precisos, atacar um país implica atacá-lo na sua totalidade: todas as cidades, todas as aldeias, derrotar o povo desse país em todos os recantos. Acha que é isso que está a acontecer? E, claro, não nos esqueçamos que o tal tirano, sim, não nos esqueçamos dele, tem por sua vez bombardeado e tentado massacrar o povo que vive em cidades líbias como Misrata ou Zintan, que só não ocupa agora várias valas comuns, porque os aviões dos "lacaios do imperialismo" o têm impedido. Mas, claro, o verdadeiro povo líbio para o anónimo das 23:38 só pode ser o que combate os "lacaios do imperialismo". Porque é essa a definição de povo, o resto são traidores. Humm... onde é que já ouvi isto?...

Anónimo disse...

O Pedro Viana é precipitado, e tem tanta pressa em defender a sua dama norte-americana que não lê o que lá está, mas apenas o que lhe convém

Eu não lhe posso fazer nenhum desenho para o ajudar.Por isso, vou repetir o que escrevi:

1) A via de Mahmoud Jibril não corre perigo.

2) Porque ele vive nos Estados Unidos

3) É professor já há anos na universidade de Pittsburg

4) E tem obra publicada a defender o neoliberalismo.

5) Ele é o líder do Conselho Nacional de Transição, a organização que luta contra gadaffi

Depois de ler isto, Pedro Viana, veja se alguma coisa que escreveu tem sentido.

No final do exercício mental, pode descansar o cérebro.

Pedro Viana disse...

Se o anónimo das 00:08 desligasse a cassete, teria reparado que repeti várias vezes que me é indiferente quem é ou o que defende Mahmoud Jibril. É completamente irrelevante no que concerne a legitimidade da intervenção de terceiros no conflito líbio. Kapiche?... De qualquer modo, Mahmoud Jibril não é o "líder" do Conselho Nacional de Transição, tendo apenas sido escolhido de entre os seus 31 membros para colocar de pé uma administração governamental, porque... é quem tem maior experiência em organização. Para além de nessa qualidade, poder manter-se como porta-voz dos rebeldes perante países terceiros. Aliás, como o anónimo menciona, Mahmoud Jibril passou grande parte da sua vida no exílio, só tendo retornado brevemente à Líbia em 2009, donde não tem qualquer tipo de base de apoio no país. É apenas em tecnocrata que voltou dum longo exílio. Ver nele "o Líder" dos rebeldes é não compreender patavina do que se passa na Líbia. Finalmente, tendo em conta que Mahmoud Jibril tem visitado Benghazi, corre um muito maior risco de levar com uma bala na cabeça do que se se tivesse mantido no seu exílio dourado. Ele até pode ter casa nos EUA, mas efectivamente já não vive lá. Aliás, sabendo o gosto que Kadhafi sempre demonstrou em "silenciar" os seus críticos exilados no estrangeiro, o simples facto de Mahmoud Jibril ter aceite fazer parte do Conselho Nacional de Transição equivale a colocar um alvo na sua testa, mesmo que nunca pensasse em pisar solo líbio outra vez. Mas, pronto, é próprio dum comentador de sofá desprezar a coragem demonstrada por outros, porque afinal os seus actos, sim os seus actos, é que revelam uma coragem inusitada: quem sabe, até pode encravar uma unha a teclar...

Miguel Madeira disse...

Na África sub-saariana, há montes de guerras em que as facções em conflito têm claramente uma base tribal, mas não é por isso que deixam de querer conquistar o país todo.

Miguel Madeira disse...

Para o primeiro comentário - a sua fonte não é a wikipedia, é um site italiano chamado "peace reporter" (que até duvido que cumpra os critérios para ser aceite como fonte pela WP, mas pronto...).

[Quanto é que as pessoas metem na cabeça que a wikipedia não é fonte de nada, já que tudo o que lá está - ou pelo menos, o que não seja do conhecimento geral - tem que remeter para uma fonte?]

Pedro Viana disse...

Olá Miguel, isso é verdade. Por vezes assim é porque só desse modo se sentem seguros e/ou obtêm reconhecimento internacional. Outras vezes assim é porque ambicionam os recursos da parte do país que não controlam. E outras vezes assim é porque querem subjugar outras tribos. Ora, na Líbia já existe reconhecimento e protecção internacional aos rebeldes, e estes dominam a região da Líbia onde se localiza a maior parte dos recursos naturais (nomeadamente petróleo). Podiam facilmente "ficar em casa", vender o petróleo a países terceiros e convidar um ou outro para instalar bases militares no território que controlam. Portanto, logicamente só resta a ambição da subjugação e/ou vingança de/sobre outras tribos líbias. Mas se fosse assim, mais lógica teria deixarem Kadhafi massacrar essas outras tribos em sítios como Zintan e Misrata, deixar o regime apodrecer enquanto se armam, e só depois entrar pela região ocidental da Líbia em força. O que não faz sentido nesse caso é atirarem-se para cima dumas pick-ups mal amanhadas, quando não para dentro do carro de família, brandindo armamento obsoleto, e correrem para cima, com toda a urgência do mundo, de tropas treinadas, implacáveis e fortemente armadas. Ou faz?...

Um abraço,

Pedro

Anónimo disse...

Agora falar da Líbia dá nisto: manifestar os bons sentimentos, discorrer sobre a wikipedia, tribos e pick-ups.

Tudos menos falar de geoestratégia, política internacional, direitos humanos ( e não simplesmente protecção de civis quando é conveniente falar do assunto...), domínio de recursos naturais,...

É caso para dizer que aqui se pratica o «Pensar Local, e Agir Global»!!!

Pergunta final: a ditadura feudal de Gadaffi não é diferente da existente em muitos outros países árabes. Para quando os bombardeamentos na Síria, no Bahrein, na Árabia Saudita, em Marrocos???...

Pedro Viana disse...

Caro anónimo, não acho aceitável sacrificar o Local ao Global. Ou para ser mais preciso, não acho aceitável sacrificar pessoas, populações, como resultado de considerandos geo-estratégicos. E sim, pode-lhe chamar de bons sentimentos.

Quanto à questão final, não sei exactamente qual foi a sua intenção ao colocá-la. Uma resposta é a de que a reacção à opressão deve ser proporcional a esta, exequível, e não dar origem a resultados mais perniciosos do que a inacção. Ora, em primeiro lugar, em nenhum dos países de que fala há um tão grande número de pessoas em efectivo perigo de vida como havia e ainda há na Líbia. Em segundo lugar, nesses países a repressão é feita de modo policial, algo que não pode ser facilmente impedido por meios militares, a não ser optando por uma invasão terrestre com o objectivo de derrubar tais regimes. Tal levaria a muito mais mortes dos que a que pretenderia evitar. Pelo contrário, na Líbia a intervenção teve e tem como objectivo parar acções militares, como bombardeamentos, de Kadhafi contra certas populações civis, sendo (até certo ponto) exequível por exigir apenas uma intervenção aérea.

Uma outra resposta possível à sua questão final, tem a ver com a acusação implícta de hipocrisia por parte dos intervenientes. E a resposta é: sim, são hipócritas, porque muito mais podiam fazer sem grande dificuldade; mas, de qualquer modo, até "o império" tem capacidade limitada de intervenção militar; não, por maior que um hipócrita o seja, as suas acções não devem ser condenadas devido ao carácter de quem as comete mas sim pelo seu valor intrínseco.

Anónimo disse...

Pedro Viana,

o senhor é uma cavalgadura.

Anónimo disse...

Tudo isto tem uma explicação muito simples. É o subsídio!

Anónimo disse...

É muito triste ver os camaradas a defender um ditador, um cleptocrata, o esmagamento de um levantamento popular...

Anónimo disse...

«esmagamento do levantamento popular» ????

Bem pelo contrário, o tal «levantamento» vai vento em popa!

Com uma ajudinha de milhares de mísseis, bombas,operações especiais, contra-informação, bloqueio naval, tráfico de armas, mercenários,... e o apoio dos colaboracionistas dos costume...

Pedro Penilo disse...

A pergunta formulada é ignorante. Desde a Idade Média que as guerras, para serem vencidas, pressupõem a perseguição do inimigo até ao seu terreno, a sua conquista, a sua subjugação ou aniquilação.

O pragmatismo é, pelo contrário, uma característica das guerras modernas.