As últimas notícias da frente da guerra civil líbia indicam claramente como — a menos que, numa inflexão política rápida e cada vez mais improvável, a UE se decida a intervir em apoio do campo dos revoltosos, concertando-se a esse respeito com eles, fornecendo-lhes armas e outros recursos e paralisando a acção aérea da ditadura de Kadhafi, reconhecendo o Conselho dos rebeldes, etc. — estarão criadas as condições para uma reedição a prazo da invasão da Líbia ao estilo da do Iraque e com o mesmo tipo de consequências e outro efeito ainda: dissuadir, travar e controlar, no interesse das oligarquias globais, nomeadamente europeia e norte-americana, mas também iraniana e chinesa, a onda de levantamentos populares e conquista de direitos sociais e liberdades civis que tem vindo a sacudir o Médio Oriente.
É por isso que, embora só possamos subscrever a conclusão da recente declaração de Miguel Portas e Marisa Matias — quando ambos afirmam que "É que há momentos em que o pseudo-pacifismo de quem nunca foi pacifista se confunde perigosamente com a defesa do ditador. Esta atitude não é mais nem menos cínica do que a dos governos europeus que, debitando loas aos Direitos Humanos, apoiaram durante anos a clique de Kadafi" —, tenhamos de reconhecer:
1. que teria sido necessário tirar mais cedo consequências mais radicais da situação que se vive efectivamente na Líbia e que
2. é dificilmente inteligível que o Miguel e a Marisa — quando escrevem: "Mas existe outra variante de “exclusão aérea”, reivindicada pelo levantamento popular armado e pela Liga Árabe: que a comunidade internacional impeça, por meios militares, qualquer tentativa de bombardeamento das cidades sublevadas pela força aérea do ditador. Se a situação se degradar e Kadafi optar pelo massacre da insurgência e das populações civis, esta possibilidade não deve ser posta de lado" — apresentem como condições hipotéticas da legitimidade de uma intervenção eficaz o quadro de desastre que é já a realidade de uma situação de facto e que, a prolongar-se e desenvolver-se, só poderá favorecer as condições ideais para o tipo de solução oligárquica que acima evoquei.
Assim, os que se têm oposto ao apoio e pleno reconhecimento do campo da revolta a pretexto de evitar uma "invasão da Líbia, terão as duas coisas: o esmagamento do movimento popular e das suas potencialidades democráticas e uma versão ou outra de invasão ou subordinação política da Líbia à coligação oligárquica que até há poucas semanas tinha em Kadhafi o seu homem de mão.
16/03/11
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7 comentários:
vou propor a uns amigos nossos que falam ladino na Andaluzia que venham até aqui ao Alentejo ajudar a tomar uns postos da GNR (os pobres coitados da guarda pretoriana do fascismo recebem salários abaixo da média e vão-nos decerto ajudar) e de seguida pedimos a intervenção da União Europeia para nos ajudar a correr do Poder o racista Cavaco Nato Silva...
Segundo o plano de acção de MSP pum pum é trigo limpo
Cordiais saudações psicanaliticas
O xatoo parece ter esquecido que a psicanálise era denunciada pelos seus amigos como "ciência judaica"…Quanto à história da NATO, repito pela milésima vez que tudo o que escrevi sobre este assunto aponta para a necessidade de os movimentos democráticos europeus exigirem uma UE independente dessa correia de transmissão da hegemonia dos EUA.
msp
MS.Pereira: Os governos da Alemanha, da Itália, da Rússia e China, a que se junta uma ambígua e hiper cautelosa posição dos USA inviabilizaram ontem na reunião do G-8 em Paris uma invasão da Líbia. Pelo menos, nos tempos mais próximos.Niet
Sim, Niet, eu vi. Mas o problema é que, se Kadhafi reconquistar o controle q.b. da Líbia, desarticulando o movimento popular, os interesses que até aqui o sustentaram imporão, com invasão formal ou sem ela, um governo ou autoridade fantoche no país, porque é pouco verosímil que possam agora "reciclar" o ditador de serviço.
E considera que, caso a progressão de Kadhafi prossiga ao mesmo ritmo, havrá em breve uma "crise humanitária" avassaladora que poderá justificar a invasão agora recusada. Não teremos, a deixarmos correr as coisas assim , uma intervenção em apoiop do campo insurrecto nem o seu reconhecimento, mas, de uma maneira ou de outra, uma intervenção planeada, gerida e programada de acordo com os interesses do pacífico G-8.
Claro como água. Não te parece?
Bom vento
msp
MS.Pereira: Sabes que Khadaphi " sobreviveu " a 20 e tal golpes de estado, intentonas e atentados? Claro, o campo de manobra no Próximo Oriente é hoje muito diferente. E A Arábia Saudita tem complicado as " jogadas " dos USA. E um " estado " pária- mas rico em hidrocarbonetos- não parece satisfazer ninguém. Já vi hoje uns artigos nos blogues internacionais de referência, mas vou continuar.Salut! Niet
MSP
não percebi o que é que Freud e Jung têm a ver com "os meus imaginários amigos" da parábola. Explique-se lá...
Segundo se depreende das suas rabiscadelas, enquanto não existir um movimento popular de bases emancipatório, qualquer pedido de interferência externa seria uma irracionalidade. Ora, pedir a intervenção da UE (via Nato pq é a única org que dispõe de meios para o fazer)é uma ideia aboborática no caso da Libia. POrque ali as forças emancipatórias se encontram mais do lado do governo que das diminutas bases angariadas pelas falsas promessas imperialistas.
Como se vai vendo, a força da razão vale mais que a razão da força
Saudações da associação contra a cegueira
Justamente, na Líbia, existe um movimento popular que luta por direitos e liberdades contra a ditadura e que solicitou auxílio internacional (não sob qualquer forma, excluindo a invasão, por exemplo, etc.). O dever dos democratas europeus seria, pois, forçarem os seus governos a fornecer armas, assistência militar limitada e claramente definida, além de outros meios (reconhecimento do Conselho dos revoltosos) aos que se insurgiam contra Kadhafi.
É simples.
msp
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