21/03/11

Vergonhoso

É este texto do Tiago Mota Saraiva. Intelectualmente desonesto. Onde escreve mentiras como a "(...)"comunidade internacional", decidiu tomar parte por um lado bombardeando algumas cidades(..)". E que "(...)há poucas semanas, num processo de revolta substancialmente diferente do que sucedeu na Tunísia, no Egipto, e acontece no Bahrein (onde a "comunidade internacional" apoia a repressão), na Síria ou no Iémen, iniciou-se uma progressiva tomada pela força de cidades e regiões por opositores ao regime de Kadhafi.(...)". Esqueceu-se que a razão porque os revoltosos pegaram em armas foi porque a repressão do regime de Kadhafi foi muito mais brutal e assassina do que a feita por todos os outros regimes mencionados?! Que cidades e regiões foram tomadas pelos rebeldes pela força? Quem é que primeiro utilizou todos os meios militares ao seu alcance para sufocar manifestações contra Kadhafi?! Defende por acaso Tiago Mota Saraiva que quem é atacado deve abrir o peito às balas? Ou que a Ordem, qualquer Ordem, deve ser mantida a todo custo?

Escreve ainda "Uma das características fundamentais da Guerra Justa é a clareza com que se pretende definir os dois campos opostos: O Bom ou o Mau, o Deus ou o Diabo, o lado da Paz ou o lado do Terrorismo." Pois parece-me que Tiago Mota Saraiva devia saber enfiar a carapuça que tão bem caracterizou: não parece ter qualquer dúvida que a "comunidade internacional" é o lado Mau, lado do Diabo, o lado do Terrorismo.

Como muitos outros continua a bater na tecla da hipocrisia. Hipócritas são também aqueles que efectivamente afirmam que no lugar dos revoltosos líbios estariam dispostos a deixarem-se matar e às suas famílias, mesmo que tal pudesse ser evitado através da intervenção de terceiros. Afirmem-no abertamente se forem capazes. Hipócritas.

E insiste na tecla do interesse da "comunidade internacional" em dominar os recursos naturais líbios quando sabe muito bem que o regime de Kadhafi há muito que tinha colocado a exploração dos recursos naturais líbios maioritariamente nas mãos de empresas ocidentais, tendo recentemente iniciado a privatização de um levado número de empresas estatais líbias. A argumentação de que o controlo dos recursos naturais libios está por detrás da presente intervenção da "comunidade internacional" na Líbia não faz qualquer sentido, e é indigna de alguém minimamente inteligente.

Sugiro ao Tiago Mota Saraiva a leitura deste texto, se quiser aprender como se argumenta de modo inteligente, coerente e intelectualmente honesto contra o intervencionismo, em particular no conflito em curso na Líbia.

6 comentários:

Anónimo disse...

Claude Lefort distingue duas formas de terror: o subjectivo, baseado no ataque mortal e deliberado; e o objectivo inerente à divisão hierararquica-repressiva da sociedade e do Estado.No caso Líbio, há, efectivamente uma mistura dos dois tipos agravada, com efeito, pela " pressão e chantagem " do Ocidente. A hipótese da " cobiça " dos recursos em hidrocarbonetos tem alguma consistência, como refere o grande politológo A.Adler. E tudo isso-a política dos cartéis petroliferos- envolve mediações infinitesimais politico-estratégicas ligadas à crescente instabilidade política e social no Médio Oriente e nos países do Golfo.Niet
na sua postura democrática e argumentativa

LAM disse...

Se a "comunidade internacional" e os "amigos" de Kadafi tivessem apenas em vista os privilégios, então bastaria agora assobiarem para o lado. Isto é uma enorme contradição em que têm incorrido os defensores da não intervenção. Se Kadafi foi até agora, como é comum reconhecer, um fiel aliado das negociatas de muitos líderes ocidentais ainda no poder, então todo o interesse político e "comercial" seria manter o status quo e o líder verde no poder.
O que não se pode juntar, como argumentam, é as duas coisas: Kadafi ter sido até agora um aliado objectivo dos líderes ocidentais, principalmente europeus, e estes quererem agora derruba-lo para terem influência na região e nos recursos do país. Decidam-se.

Anónimo disse...

O imperialismo já decidiu abandonar o seu parceiro económico.

Quem ainda não viu é quem ainda não percebeu a agressão imperialista à Líbia, e invoca argumentos humanitários e democráticos para defender uma «insurreição» prostituída, já com vários exemplos na história

Anónimo disse...

Kadaphi preso a contratos com o Ocidente? Há muitas nuvens de fumo sobre isso. Se tal era o facto de tudo correr " ouro sobre azul ", o que teria levado o PR e o Governo francês a selarem um vistoso e multimediático acordo com a direcção política dos revoltosos, dias antes da intervenção armada? Por outro lado, vai-se sabendo da hesitação de Obama em " entrar na guerra ".Os seus conselheiros fizeram os impossíveis e, com a ajuda de Hillary Clinton e a sua famigerada rede de conselheiros,lá se decidiu; mas,o que parece estar subliminarmente implicito na acção de guerra USA consiste, segundo os peritos estratégicos, na tentativa do envio de uma mensagem para o Irão, para os hardliners de AhmedNejadh que continuam a infernalizar a vida no Líbano, em Gaza,etc.Niet

Fernando Fernandes disse...

Vergonhoso porquê? Não será mais vergonhoso este posicionamento absurdo ao lado dos interesses do império? Então o Sarkozy está preocupado com o povo líbio? Mas que grande humanidade a dele, não a tinha já demonstrado quando expulsou o povo cigano de França? Então os revoltosos são os democratas lá do sítio? Como é que adivinharam? E a ONU, esse garante da ordem internacional... Claro, o Iraque não é um bom exemplo? Ou o Afeganistão? Ou o conflito Israel/Palestina? OU, ou, ou,... Pode entender-se a ingenuidade, mas a hipocrisia e a manipulação, não. É Gaddafi um tirano? Claro que sim, mas não sabemos quem são esses que têm o apoio de Obama e Sarkozy, a não ser que controlam as cidades do petróleo que o ocidente se prepara para explorar.

Pedro Viana disse...

Caro f.a.f.f.,

Seja quem forem, ou quais sejam as suas intenções, os rebeldes e as pessoas em geral que habitam nas cidades que se sublevaram contra o regime de Kadhafi, merecem antes de mais viver. Parece-lhe esta uma questão complicada? Estou mesmo a vê-lo a ir entrevistar os habitantes das cidades sitiadas e massacradas pelos esbirros de Kadhafi, e no final sair de polegares para baixo: não, estes não merecem viver, são fanáticos, fundamentalistas, anarquistas, comunistas, não tenho sequer a certeza que sejam totalmente humanos, podem bombardear à vontade.

O argumento de que alguém, ou um Estado, apenas tem o direito de agir correctamente numa dada situação se antes tiver sido sempre coerente é completamente absurdo. É exigir que os homens, e os Esatdos, sejam anjos perfeitos, e que apenas os anjos perfeitos têm o direito de agir. Nunca ninguém poderia agir se assim fosse, ou o f.e.f.f. acha-se um anjo perfeito que nunca pecou?

"Claro que sim, mas não sabemos quem são esses que têm o apoio de Obama e Sarkozy, a não ser que controlam as cidades do petróleo que o ocidente se prepara para explorar."

Mas que parte de **as empresas petrolíferas ocidentais já controlavam a maioria da produção energética líbia** é que ainda não percebeu? É demasiado para a sua cabeça? Não bate certo com a idealização que fez da situação? Então adapte-se à realidade. Pense criticamente. Pode fazer doer um bocadinho a cabeça, mas passa-lhe logo.