A mesma conversa, no essencial, da que nos foi servida após a assinatura do memorando de entendimento em 2011 e da imposição de uma austeridade draconiana que empobreceu a maioria dos portugueses. "(...) a nossa saída da crise vai depender muito do grau de confiança que inspirarmos nos investidores estrangeiros, nos mercados, naqueles que querem retomar o contacto com Portugal (...)" afirma António Costa na entrevista ao Expresso.
Compreende-se que o primeiro-ministro questionado sobre a aplicação de austeridade tenha afirmado não poder dar uma resposta que amanhã não possa garantir. Como pode alguém que já decidiu - e se convenceu - que a austeridade é a única solução, fazer promessa diferente. A evolução de António Costa relativamente à austeridade tem sido ao dia e sempre no sentido da ... austeridade. Passos Coelho e Paulo Portas riem-se à farta. Rui Rio, aplaude com o seu apurado sentido patriótico.
Tudo muito claro. Tudo muito igual ao "business as usual" da última década de consolidação de uma desigualdade profunda na sociedade portuguesa. Os que perderam em 2011 vão ser fortemente penalizados outra vez. Se nada fizerem para impedir o que aí vem a vida vai ser muito dura para a maioria da população.
Para lá das palmas aos profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, auxiliares - que com a sua dedicação disfarçam o estado calamitoso a que o SNS chegou - e aos professores que em suas casas, sacrificando as suas famílias, asseguram, sem qualquer preparação prévia e sem grandes condições, o funcionamento do ano escolar, o que aí vem é mais do mesmo: desinvestimento, continuação do empobrecimento de vastas classes profissionais onde se incluem os professores e os médicos e enfermeiros.
Para lá dos trabalhadores da administração local, sobretudo os da limpeza, os que garantem a água nas nossas torneiras, os que asseguram a drenagem dos nossos esgotos, todos com salários médios miseráveis e a trabalhar sem equipamentos adequados, sem subsídio de risco de qualquer espécie
Por isso faz todo o sentido que alguém se lembre de criticar o despudor daqueles que querem aumentar os funcionários públicos em 2021. Afinal o que estava combinado não era apenas bater palmas?
O ódio aos funcionários públicos e o desprezo pelo seu trabalho são crescentes na sociedade portuguesa. Por isso quando se trata de tomar decisões salariais o caminho mais fácil é cortar ou congelar os salários desses trabalhadores. O mesmo se passa na América, com Trump. A exportação do modelo de sociedade americana para os países da Europa, denunciada por vários autores, avança por essa via. Krugman, num artigo no NYT, denuncia o facto de nos diversos pacotes de apoio económico decididos por Trump, os trabalhadores que desempenham funções públicas, como os trabalhadores dos correios, da saúde, os professores, os trabalhadores da Administração Regional e Local - num total de mais de 25 milhões de trabalhadores - terem ficado de fora. Trump terá pensado que avançar com apoios a estes trabalhadores seria um despudor.
18/04/20
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2 comentários:
Mas os funcionários públicos nos EUA precisam de apoio porquê? Foram despedidos?
Caro Anónimo, sugiro-lhe que leia o artigo citado.
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