As notícias dos últimos dias parecem indicar que estão a ser mais difíceis as negociações do governo com o Bloco do que com o PCP, no que diz respeito ao orçamento; ainda é demasiado prematuro para se poder concluir isso, mas mesmo que assim seja, também não me parece surpreendente - mas muita gente parece estar surpreendida com isso (veja-se, p.ex. este artigo no ZAP: "No meio deste impasse, o PCP admite todos os cenários, manifestando uma postura mais aberta a um sim e um discurso bem menos bélico do que o do Bloco, ao contrário do que seria de esperar").
Por qualquer razão (décadas de propaganda da Guerra Fria?), parece-se ter criado a "sabedoria convencional" de que o PCP é sectário, radical, etc.
Mas olhe-se para o historial das alianças de esquerda envolvendo os Comunistas - tanto na Frente Popular espanhola (leia-se Orwell, p.ex.) como na Unidade Popular chilena, eram os respetivos PCs que representavam o papel de "adultos da sala", e o parceiro radical normalmente era algum partido de "esquerda alternativa" (num nicho similar ao que o BE hoje ocupa em Portugal), como o POUM em Espanha ou o Movimento de Ação Popular Unitária no Chile (e não era raro mesmo sectores dos respetivos PSs ultrapassarem os Comunistas pela esquerda; p.ex., em França com o comunista Thorez em 1936 a dizer "é preciso saber acabar uma greve" e do outro o então socialiste Maurice Pivert a dizer que "tudo é possivel aos audaciosos").
Ou seja, não me parece haver nenhuma razão para "ser de esperar" que um acordo seja mais fácil com o BE de que com o PCP.
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