Não será de esperar que Manuel Alegre e/ou a sua candidatura tenham uma palavra a dizer sobre isto?

Graças a um oportuno post de Fernanda Câncio, descubro que "o primeiro ministro português decidiu defender sarkozy contra viviane reding. fez mal. segundo o jn, josé sócrates disse considerar 'absolutamente deslocada a comparação com as deportações durante a ii guerra mundial'".

Fernanda Câncio comenta: "seria interessante perguntar porquê, sobretudo porque o que vivian reding disse foi que pensava que, depois da segunda guerra mundial, nunca mais se veria pessoas a serem expulsas de países por causa da sua pertença a um grupo étnico. uma deportação é uma deportação, e uma deportação por 'motivos étnicos' é uma deportação 'por motivos étnicos'. e acorda os monstros mais atrozes da história recente da europa -- claro. qual a dúvida? absolutamente deslocada é a defesa da acção vergonhosa do governo de sarkozy" — e não serei eu o único seu leitor a perguntar-se por que razões, que a razão desconhece tão decididamente como o espírito cívico repudia, não escreverá sempre (ou, pelo menos, sobretudo) assim a promissora esperança jornalística, baldando-se mais decididamente na postura profissional, bem como nalgumas tias e cavalheiros acacianos do blogue.

Mas há outra pergunta mais premente: Não será de esperar que Manuel Alegre e/ou a sua candidatura tenham uma palavra a dizer sobre isto, repudiando, sem demasiadas tentativas de compreensão ou de refúgio num entendimento mesquinho da "separação de poderes", as vergonhosas declarações de um tão destacado apoiante oficial da candidatura como José Sócrates? Sim, é verdade que a deportação dos roms franceses para a Roménia ou a Bulgária não é a mesma coisa que a deportação pelos nazis dos ciganos e judeus para Auschwitz e outros campos. Mas não é menos verdade, nem uma verdade menos digna de ser trazida à memória, que, antes de as circunstâncias terem possibilitado ou propiciado o recurso à "solução final", outras formas de deportação foram encaradas — a instalação dos judeus em Madagáscar, por exemplo, ou até a sua emigração em massa para a Palestina — como alternativas à opção pelo extermínio. Será razão para as aceitarmos como "mal menor" em nome do "realismo do possível"?