10/05/11

"É só fumaça" e "o Partido é sereno"?

A darmos crédito, entre outros indícios, por vezes mais discretos, a declarações que têm vindo a multiplicar-se do tipo das que a seguir aqui se citam, a título de exemplo, de um assíduo comentador dos posts do 5dias, que assina Rocha e se reclama explicitamente do PCP,  há certas questões que não podemos deixar de pôr — tanto mais que é altamente improvável que Rocha escreva o que escreve sem se sentir, senão encorajado, pelo menos autorizado a escrevê-lo por instâncias que o transcendem. Leiam-se estes excertos:

1. Quanto a apoios a candidatos piores [do que o concedido pelo BE a Manuel Alegre] (para mim não tanto piores mas mais iguais) posso afirmar que o PCP aprendeu com erros do passado. Tipos como o Soares, o Eanes e o Sampaio jamais serão apoiados pelo PCP. A candidatura de Francisco Lopes foi exactamente uma resposta, vinda ala esquerda do partido, contra as ilusões de aqueles [que] (tb dentro do PCP) enchem balões chamando-lhes “ala esquerda do PS”. A maioria do PCP soube aprender e responder às reivindicações legítimas dos que lutam na rua e nas empresas.

2. Parece-me claro que o PCP percebe isto. E até agora, Jerónimo de Sousa, não tem “engolido sapos”, nem os mistificadores “males menores” do costume. Parece-me que o PCP não apoia nem apoiará PS com ou sem Sócrates.
Já no Bloco, deu algum alento ver a luta que deu o Gil Garcia e a sua lista por uma convergência à esquerda, oposta ao PS com ou sem Sócrates. Essa luta contra as ilusões com o PS, já [a]travamos muitas vezes no PCP e parece que conseguimos derrotar os reformistas, o passado recente tem-no provado.


Não poderemos pensar que o teor ultra-sectário da exasperação social-patriota de fachada esquerdista adoptada como linha geral pelo PCP está a suscitar alguma perturbação interna no partido, anunciando ou que se prepara uma purga purificadora visando os acusados de "reformismo" e "cedências", ou que alguns "críticos" estarão finalmente — mas mais vale tarde do que nunca —decididos a deixar o papel, que em muitos casos tem sido o seu, de "brilhantes aliados dos seus próprios coveiros" (descrito por Kundera) e a tomar a iniciativa de um contra-ataque? Seja como for, e ainda que tudo — por entre protestos à saudosa maneira de Pinheiro de Azevedo de que "é só fumaça" e de que "o Partido é sereno" — possa continuar em águas de bacalhau no imediato, vale a pena estarmos atentos.

15 comentários:

josé manuel faria disse...

A ala menos ortodoxa (quase reformista) do PCP é composta por 3 deputados, o que % não corresponde à militância, estes estão excessivamente representados na AR.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro José Manuel Faria,

admito que seja como diz. Mas V. admitirá que se essa minoria mínima ousasse o confronto aberto a coisa poderia tornar-se de alcance maior… e com efeitos democraticamente salutares. Ou não será assim?

msp

Anónimo disse...

Mas há dez anos aconteceu isso não foi? De uma forma diferente do que outrora tinham sido o grupo dos seis e a Plataforma de Esquerda, há dez anos houve muitos jantares da fraternidade (não me lembro qual o nome exacto) em muitas cidades do país, animados por pessoas que entretanto foram para a Renov. Comunista, o João Amaral que faleceu, e outras talvez no BE. Que haveria de novo numa nova ala não ortodoxa? Acho que mesmo pela renovação normal - de gerações, de experiência de vida, de memória histórica - o PCP terá sempre confrontos de sensibilidades. Não sei se nisso há algo de novo. Agora acho que se para a ''ortodoxia'' fizer mais sentido uma aproximação ao BE do que um apelo sempre difuso e contraditório à esquerda ''possível'' do PS, se calhar é preferível que prevaleçam essa ortodoxia. Isto porque uma ortodoxia que consiga porventura ter um diálogo aberto, democrático e não impositivo com o BE ou outras sensibilidades à esquerda do PS provavelmente já não é tão ortodoxa afinal.

Rui Santos
(votante do BE, não aderente contudo)

Anónimo disse...

Pacheco Pereira num artigo inteligente o oportuno, curiosamente, diz mais e melhor que a esquerda:

«É assim. Depois olha-se para os jornais e as sondagens funcionam como um indicador de inevitabilidade, mostrando o mesmo absurdo que é quanto mais se precisa de mudar, não há forças para a mudança, o conservadorismo da indiferença impera. Está tudo tão mal que mais vale manter-se tudo como está. Onde não há esperança, não há mudança.»

http://abrupto.blogspot.com/

Vítor Dias disse...

Este post de MSP merece ser guardado e recordado talvez como o recorde nacional de má-fé na blogosfera portuguesa.

Chegámos a este ponto que suponho alguns só praticam com o
PCP: alguém que se identifca como «Rocha», talvez pseudónimo quem sabe ?, apresentando-se como comunista ou membro do PCP, escreve o que e como lhe apetece.

E que faz MSP ? nem mais menos que
supor «é altamente improvável que Rocha escreva o que escreve sem se sentir, senão encorajado, pelo menos autorizado a escrevê-lo por instâncias que o transcendem».

Pobre direcção do PCP que, segundo algumas cabeças doentes, até parece ter responsabilidades no que escrevem pessoas que certamente não sabe quem são. Melhor que isto só se também passar a pagar se algum comunista bater na mulher !.

Miguel Serras Pereira disse...

Má-fé ou momentânea falha da perspicácia a que nos habituou terá o Vítor Dias demonstrado na leitura deste post. Como sabe, "Rocha" é só um exemplo: outros escritos há na mesma onda, assinados, ao mesmo tempo que escritos de outros anónimos não escapam à crítica dos não-anónimos nas mesmas caixas de comentários quando exprimem outras perspectivas.

Arranje o Vítor Dias um pseudónimo e vá à caixa de comentários de um post do Bruno Carvalho, por exemplo, exprimir apoio e defesa a posições como as que José Saramago assumiu a partir de certa altura sobre o regime cubano, ou sustentar que Octávio Teixeira fez bem em assinar o recente documento que sabe, e logo verá o que lhe acontece (não a si, VD, ao seu "heterónimo" experimental) por mais que afirme (ou sobretudo se afirmar) no mesmo texto a sua (do heterónimo) condição de militante do PCP.

msp

Niet disse...

A burguesia e os seus valetes devem estar hiper-contentes com a gigantesca onda de Peste Emocional e de empertigada Censura Política levada a cabo por diversos protagonistas do 5Dias. Aprendizes de feiticeiros e coleccionadores de aporias teóricas volumosas lançaram às urtigas o minimo de decoro " pedagógico " e polémico indispensável para comunicar num espaço público de... Oposição. Existe- objectiva e subliminarmente- uma mirabolante montanha russa de erros políticos graves e de processos de intenção infâmes, que não só confunde os incautos como estimula as pulsões mais reaccionárias e antidemocráticas, mais hediondas e desmobilizadoras que se novimentam na Blogosfera lusa. Como disse Sade, " não existe para os homens outro Inferno senão a Estupidez e a Maldade dos seus semelhantes ". Niet

Anónimo disse...

A MSP,

O confronto aberto só é possível em pessoas que estejam disponíveis para abdicar do maior ou menor poder e influência que se tem.
As poucas vezes que eu eu (de fora de qualquer estrutura partidária, PCP ou BE) pude assistir a isso, foi em último caso - já de desespero - Edgar Correia, Carlos Brito. No caso do António Filipe, Lino de Carvalho o que percebi na época é que ambos poderiam ser partes desta ala reformista, mas que se se manifestassem abertamente como tal eram simplesmente saneados de lá de dentro. Aliás isso só não aconteceu com o João Amaral pelo estado de saúde em que ele se encontrava na época.
Mas se recuarmos duas décadas (ao início dos anos 90) viamos do lado ortodoxo pessoas - Carlos Brito ou Edgar Correia - que anos depois se sentiam ´´traídos´´ por Carvalhas. Moral da história para mim: há muito pouca frontalidade nesta história toda, mas não creio que isso seja de forma alguma exclusivo ao PCP.
De qualquer forma acho que seria mais interessante manter esta discussão menos ad hominem porque se não era melhor que substituissem as vias de facto pela net pelas vias de facto a sério, como nos duelos de honra.

Rui Santos

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Rui Santos,

tem razão quanto ao ad hominem, sem dúvida. Não é minha intenção ir por aí.
Saudações democráticas

msp

Vítor dias disse...

Como é frequente, na sua resposta ao meu comentário, MSP subestima a inteligência dos leitores.

É que muitos deles certamente repararão no que eu reparei: que ao meu quesito fundamental -o absurdo da responsabilização das «instâncias mais transcedentes » pelo que escrevem «comentadores» anónimos ou não, Miguel Serras Pereira disse zero, nicles, nada de nada.

MSP pode citar quanto extensamente quiser o que se disser em quantas caixas de comentários quiser mas o problema - a que foge sorrateiramente perante os leitores - é que a direcção do PCP há-de ter tanto a ver com isso como eu, quando dirigente do PCP, tinha a ver com eventuais desabafos de café de meus camaradas.

Francamente, MSP, caem-lhe os parentes da lama se reconhecer que o seu post é que é de um estalinismo intelectual de velhíssima cepa ?


P.S.: Quanto a «heterónimos», confesso que não sou grande «especialista» em F. Pessoa e já não vou a tempo.

Miguel Serras Pereira disse...

Vítor Dias,

para começo de conversa, veja, por favor, se não me chama "sorrateiro", que é para não me puxar também pela língua.
Não pretendo insinuar que os comentários que citei e outros sejam ditados aos seus autores pelos órgãos formais de direcção política do PCP (por amor de quem queira, VD, não subestime V. a minha faculdade de juízo). O que digo é simples e mantenho-o: os autores desses comentários crêem-se autorizados a fazê-los, sem incorrer em admoestações ou sanções, pelas relações de forças e atmosfera predominantes no PCP. Assim, por exemplo, sabem que podem escrever sobre si ou sobre Carvalho da Silva coisas que não gozariam da mesma tolerância ou silêncio não-reprovador se fossem escritas sobre Francisco Lopes ou Jerónimo de Sousa; sabem que podem aclamar Estaline sem serem chamados a explicar-se, ao mesmo tempo que não admitir e reagir furiosamente a quem critique o estalinismo, ou o facto de alguém com responsabilidades no Avante! prefaciar elogiosa e acriticamente a reedição de uma História do PCUS da segunda década de 1930 cujo crédito científico V. sabe tão bem como eu que está abaixo de zero… Quer mais ilustrações, ou estas chegam? Acrescento que os mesmos sabem perfeitamente também, quando alguém força a nota e sai do que lhes parece ser a "linha justa", reclamando-se do PCP, escrever que as opiniões de X não são as do PCP e que ele está a falar por sua conta. Quererá V. dizer que tudo isto nada significa a não ser a minha má-fé, etc.?
Por fim, quanto às acusações de "estalinismo" que me dirige - e que eu não lhe retribuo -, não acha que seriam mais apropriadamente aplicadas a outros alvos, os quais alvos, de resto, não se sentiriam senão lisonjeados por isso e veriam nas suas palavras uma prova de tibieza ideológica, senão de simpatias por aquilo a que eles chamam a ala reformista minoritária?
O facto de V., suponho, não subscrever politicamente boa parte do que Kundera escreve (eu também estou longe de subscrever tudo o que o romancista defende), não o devia impedir de reler, de lápis na mão, na Imortalidade, as páginas a que ontem já aludi e nas quais MK conta a história do "brilhante aliado dos seus próprios coveiros". E olhe que - acredite ou não - eu não lhe digo isto para o "enterrar". Antes pelo contrário, se ainda me está a seguir.

msp

Vítor Dias disse...

Miguel Serras Pereira, como infelizmente muitas vezes, não adianta.

Você escreveu «é altamente improvável que Rocha escreva o que escreve sem se sentir, senão encorajado, pelo menos AUTORIZADO a escrevê-lo por instâncias que o transcendem».

Agora já vem dizer que o «autorizado» quer dizer «sem incorrer em admoestações ou sanções, pelas relações de forças e atmosfera predominantes no PCP.»

E acrescenta :« Assim, por exemplo, sabem que podem escrever sobre si ou sobre Carvalho da Silva coisas que não gozariam da mesma tolerância ou silêncio não-reprovador se fossem escritas sobre Francisco Lopes ou Jerónimo de Sousa».

Ora todo este paleio incorre num total desconhecimento do que são as condições e prioridades de trabalho de qualquer direcção do PCP que, juro-lhe por experiência própria tem muito mais que fazer do que a andar a acompanhar miudamente esta galáxia da blogosfera e, por razões de tempo e sobretudo de ética partidária, não lhe passa pela cabeça andar a investigar que reais ou supostos comunistas se escondem atrás de pseudónimos.

É sabido que na blogosfera outros comunistas e eu e vice-versa temos escrito de formas diferentes sobre algumas questões e não tenho nenhuma notícia que quem quer que seja tenha sido admoestado.

Se calhar, está mesmo a fazer falta uma peça séria sobre o que é ao menos semanalmente o trabalho e a vida de um dirigente do PCP.

Miguel Serras Pereira disse...

1. OK, VD. Escreva lá a peça. Seria excelente que o fizesse e tem excelentes condições para o fazer, dando-nos muito mais do que um "esquema orgânico" abstracto.
2.
Digamos que o "encorajamento" das "instâncias transcendentes" comporta alguma ironia - mas, lá por isso, corrijo: o "autorizado" quer dizer, não só "sem incorrer em admoestações ,etc", mas também "encorajado" "pelas relações de forças e atmosfera predominantes no PCP". Pode ser assim?

3. Não sou, por outro lado, o único a fazer o reparo de que é significativo (politicamente significativo) o facto de as manifestações declaradas e reiteradas de estalinismo (reivindicando-se enquanto tais) obtenha no mínimo um beneplácito de silêncio por parte da direcção política do PCP - e o mesmo se diga das acusações endereçadas a militantes por outros militantes, etc. Deve ter visto pelo menos alguma coisa ecente do Zé Neves sobre o assunto. Mas creio que há evidências que V. tem singular relutância em aceitar.

msp

Anónimo disse...

Intermezzo/ Breaking News

" É preciso romper com esta sociedade, que morre, e que não ressuscitará. É preciso ousar o " Êxodo ".Não esperar nada dos tratamentos sintomáticos da " crise ", porque não existe mais crise: um novo sistema se ergueu que aboliu massivamente o emprego, restaurou as piores formas de dominação e de exploração, constrangindo todos a lutarem contra todos ". André Gorz( 2009)

PS. Esta tarde surgiram dois grandes acontecimentos: guerrilha civil nas ruas de Atenas na sequência da Greve Geral; por outro lado, a Standard & Poors anunciou que surgem muitas dúvidas no contexto político e partidário português... Niet

Anónimo disse...

Só para fechar, MSP :

É certo que me falta o tempo e a paciência para ser grande visitador de caixas de comentários, mas, com essa ressalva, o que lhe posso dizer
é que não conheço nenhum comunista
que eu conheça e identifique sem margens para dúvidas como tal que me tenha directamente hostilizado na blogosfera.

Se conhecesse logo se veria se tinha alguma coisa a dizer ou não.

Já quanto a anónimos, pseudónimos ou supostos comunistas que porventura o façam, é para o lado que durmo melhor.