08/07/15
Ainda sobre o absurdo da convocação do referendo e o beco da vitória do Não
por
Miguel Serras Pereira
Neste momento, tudo leva a crer que haverá, na UE, um acordo entre o governo grego e os seus sócios. (até Rajoy acha que as actuais ofertas gregas representam um avanço e fazem, pitoresca expressão, ouvir outra música). No entanto, como previ, tudo indica também que será um acordo negociado em piores condições do que antes e com laivos mais punitivos . Pelo que a vitória de Tsipras no referendo acabou, como era de esperar por enfraquecer a sua posição, confirmando ao mesmo tempo que a convocação da consulta, nos termos e no momento em que foi feita, foi um absurdo. Excepto, provavelmente, para as várias esquerdas e direitas soberanistas que, um pouco por toda a Europa, esperavam que a vitória do Não levasse a que Tsipras rasgasse o seu programa eleitoral, deixasse (para usarmos os seus termos) de procurar uma solução europeia para o problema europeu da situação da Grécia e corresse a trocar a integração na UE pela dependência "libertadora" dessa coligação de governos "progressistas" e "anticapitalistas" dos BRICs.
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9 comentários:
MSP tem as suas razões e argumentos massivos sobre os meandros do Referendo grego e, ainda por cima,são expressos com pesada e inteligente ironia e vivacidade profética. Só que, ontem e hoje, o Liberation revelou à luz do dia Opiniões de peritos universitários de grande impacto sobre o modus faciendi da consulta popular levada a cabo pelo Syriza. Ontem o constitucionalista Dominique Rousseau escalpelizou a " situação anormal " que se vive no interior da vida politica da U.Europeia onde o " autismo do sistema politico " criou a impossibilidade de os cidadãos se exprimirem. Hoje a filósofa sorbonnard Sandra Laugier e o sociólogo CNRS Alberto Ogien apontaram que " Tsipras e Varoufakis quebraram à maneira de Wikileaks ou de Snowden, a opacidade das questões da negociação na sombra dos gabinetes ", o que veio dar consistência a que os cidadãos gregos conhecessem a fundo o detalhe das exigências da Troika, e não sobre questões caricaturais ou simplificadas qualificando desse modo de forma superlativa o sentido da consulta. N.
N.
a urgência de combatermos a asfixia democrática e a erosão gradual das liberdades e direitos constitucionais pela tecnocracia e os gestores não prova que a decisão por parte do governo grego de convocar o referendo foi acertada e não o enfraqueceu nas negociações cujo desfecho será conhecido em breve.
msp
O absurdo de MSP defender nos seus artigos uma abordagem libertária sem se “libertar da dependência” de ler os efeitos do referendo a partir das máquinas de poder (partidárias, institucionais, supra-nacionais, mediáticas). Pode o cidadão comum fazer do referendo aquilo que o Syriza não esperava? Podem os cidadãos implodir e democratizar a mera estratégia instrumental do governo grego, que recorreu a um procedimento (referendo) apenas porque lhe deu jeito?
“There’s no solution but to fight”
No one in Athens knows what will happen next. No one.
But everyone agrees that the referendum signifies a radical rupture.
All we can report on for now is what people are discussing, what is happening at the moment, while we are here. Listening, talking. Laughing, cheering.
Link: http://athens.blockupy.org/post/123622646965/theres-no-solution-but-to-fight
Anónimo das 12 37
Custa-me a crer que o Syriza tenha convocado o referendo para que o cidadão comum fizesse dele o que o Syriza não esperava.
E o que eu escrevi foi que, do ponto de vista do Syriza e do governo grego, a convocação do referendo foi um absurdo. Por outro lado, indo um pouco mais fundo, se é necessário lutar por uma democratização que torne os cidadãos comuns efectivamente governantes, as formas de organização e os conteúdos alternativos da luta, o modo de lutar, não é indiferente e a via que visa abrir tem de ser dotada de sentido. Por fim, que lutas alternativas ou prenúncios de movimentos sociais capazes de marcar a ordem do dia suscitou a convocação do referendo? Abriu caminho à ocupação autogestionária das empresas? Reforçou o internacionalismo? Desencadeou reivindicações perceptíveis contra as forças armadas gregas e os seus privilégios exorbitantes? Reclamou, em palavras e actos, contra as condições blindadas de que goza a Igreja Ortodoxa? Multiplicou as comissões de trabalhadores e as comissões de moradores traduzindo a participação política autónoma dos cidadãos comuns?
msp
Mas este MSP diz-se anti-capitalista? Pensava que era do PS ala Francisco Assis? Anti-capitalista? Anarquista? LOL LOL LOL e defende o euro e a União Europeia o maior baluarte do capital na Europa? Defende A UE essa instituição anti-democrcáctica feita para sonegar aos povos a sua capacidade de decisão? E diz-se "libertário"... Deve ser como o bnaqueiro anarquista do Pessoa...
Já agora o libertário que defende o euro e a UE, defende que o Tsipras e o Governo Grego devem fazer um acordo com a Troika que vai contra a decisão de Domingo do povo Grego?
"Por fim, que lutas alternativas ou prenúncios de movimentos sociais capazes de marcar a ordem do dia suscitou a convocação do referendo?"
Suspeito que fora da Grécia o referendo grego terá aumentado a simpatia/diminuido a antipatia pela Grécia (por um efeito "pelo menos estes ouviram o povo em vez de só discutiram em reuniões semi-secretas em gabines fechados"), e também reforçou a ideia em abstrato do referendo como forma de tomar decisões - ou seja, reforçou o internacionalismo e a democracia participativa
Francisco,
não vou continuar a responder aos seus comentários insultuosos. Mas,se quer saber, eu não defendo a UE, nem Portugal, nem a Grécia, etc. se é de governos ou regimes que estamos a falar. Defendo a participação igulaitária, livre, organizada e responsável dos cidadãos comuns nas decisões que os governam, seja na cidade, seja no trabalho. Penso que a luta por uma democrtatização semelhante não é nacionalizável, do mesmo modo que não pode ser decretada de cima para baixo e será obra dos interessados ou não terá lugar.
Quanto ao Tsipras, penso que convocou disparatadamente (do seu ponto de vista) um referendo para reforçar a negociação de um acordo previsto pelo seu (dele) programa eleitoral: considerar a situação da Grécia um problema europeu cuja solução teria de ser europeia. O tiro saiu-lhe mal e atingiu-o no pé. Está a negociar agora numa posição enfraquecida e, para obter o acordo, terá de aceitar cortes mais duros do que os previsíveis antes do referendo.
Ponto final.
msp
Miguel,
não sei se as simpatias despertadas serão tão grandes como julgas — nuns casos, terão crescido e noutros diminuído. O nacionalismo é muito forte, não só na Grécia… e é uma das razões pelas quais estamos como estamos.
Quanto à democracia participativa, não basta pôr a malta a votar escolhendo entre alternativas fechadas que as instâncias superiores elaboraram e definiram. Suponho que implica a participação na formulação das questões, a deliberação e a tomada de decisões em condições de igualdade. Em certo sentido, é verdade que um referendo aumenta a participação, mas a participação dependente, num pleibiscito por exemplo, por maciça que seja não é democrática.
Abraço
miguel(sp)
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