04/07/15

O que em breve o governo grego terá que fazer

Se ganhar o "não" no referendo, e perante a crise bancária, a Grécia terá de certeza que fazer uma destas 3 coisas:

- Sair do euro (ou, no mínimo, lançar uma moeda paralela ao euro)

- Decretar que todos os depósitos bancários acima de certo limite são convertidos em ações dos bancos respetivos

- Decretar que todos os depósitos bancários acima de certo limite são convertidos nalguma forma de aplicação financeira a prazo não mobilizável antes do fim do prazo (o mais natural seriam obrigações dos bancos, mas também pode ser algo do estilo das "contas de investimento" propostas na Islândia)


O objetivo da segunda ou da terceira medida é resolver o problema de como, sem acesso a um banco central que possa emprestar dinheiro em caso de pânico, manter um sistema financeiro em que o valor dos depósitos é muito superior ao dinheiro que os bancos têm em caixa.

[Tanto a segunda como sobretudo a terceira poderiam estar submetidas a uma cláusula estipulando que, caso o BCE volte a mandar dinheiro, esses títulos podem ser reconvertidos em depósitos]

Eu por mim preferia a terceira solução. Mas seria conveniente que o valor a ser convertido já tivesse sido congelado nos bancos e que o governo anunciasse previamente que, se ganhar o "não", era esse o "plano B" caso a troika não cedesse. É verdade que isso iria reduzir bastante a possibilidade de o "não" ganhar (muita gente saber que, nesse caso, o dinheiro que tinham no banco iria ser convertido em obrigações que só iriam vencer daqui a uns anos), mas por outro lado acho que iria dar mais força negocial ao governo grego saber-se que já havia um plano para manter o sistema bancário a funcionar sem sair do euro mesmo sem apoios do BCE (e, no caso de vitória do "não", esse plano ter sido implicitamente sufragado pelo povo grego), em vez da conversa completamente confusa "vai tudo correr bem" do Tsipras e do Varoufaki.

2 comentários:

José Guinote disse...

Miguel Madeira, em todos os sistemas financeiros o dinheiro que os bancos têm em caixa é sempre muito inferior ao valor dos depósitos. Esse valor está fixado por lei, segundo sei, e não ultrapassará os 10%. No caso da Grécia tudo parece indicar que esse valor está reduzido a muuito pouco.
A proposta de converter em acções - qual seria o valor dessas acções para pessoas que carecem desses depósitos para fazerem face às suas despesas e das suas famílias? - os depósitos acima de um certo valor era a solução que o FT denunciava com estando planeada pelo Governo. Varoufakis veio recusar liminarmente essa ídeia.
O Governo Grego deve, acho eu, caso ganhe o Não, apresentar uma proposta em Bruxelas que inclua tudo aquilo que tem defendido ao longo dos últimos cinco meses, as reformas estruturais que já propôs anteriormente, e que lhes junte um pedido de perdão da dívida e uma moratória de dez anos na sua amortização. Trata-se de recuperar a proposta do FMI, reduzindo o prazo de 20 anos na moratória para metade. Deve ainda defender a realização de uma Conferência Internacional com poderes deliberativos para estabelecer o quadro de gestão da dívida pública europeia. Deve fixar um prazo de quinze dias para que o apoio do BCE ao sistema financeiro grego seja restabelecido e um prazo de um mês para que exista um acordo asinado pelas partes e eficaz. Se isso não aocntecer deve sair do Euro e negociar um financimento de emergência com a Chima e com a Rússia. Mas isso, acho eu, é um cenário B que deve estar desenhado e contratualizado apenas à espera do momento em que seja preciso mobilizá-lo.
Caso ganhe o SIm deve demitir-se ou fazer a mesma coisa.

Miguel Madeira disse...

"Miguel Madeira, em todos os sistemas financeiros o dinheiro que os bancos têm em caixa é sempre muito inferior ao valor dos depósitos."

O uma coisa ter sido sempre assim não quer dizer que tenha que continuar a ser (uma nota - o meu sistema financeiro favorito é capaz de ser o proposto por Lysander Spooner em "A New System of Paper Currency").

"qual seria o valor dessas acções para pessoas que carecem desses depósitos para fazerem face às suas despesas e das suas famílias?"

Sempre é melhor do que uma conta bancária não-mobilizável.

"era a solução que o FT denunciava com estando planeada pelo Governo. Varoufakis veio recusar liminarmente essa ídeia."

Yannis Varoufakis:"Capital controls within a monetary union are a contradiction in terms. The Greek government opposes the very concept."

"Se isso não aocntecer deve sair do Euro"

E esses dracmas serão mais do que notas do monopólio que ninguém vai aceitar?