13/07/15

José Pacheco Pereira e o "risco do voto dos portugueses não servir para nada"

José Pacheco Pereira tem decerto razão ao alertar constantemente para o facto de a transferência de soberania do Estado português para instituições europeias não eleitas e que escapam aos mecanismos da representação comportar o "risco do voto dos portugueses não servir para nada, visto que o nosso parlamento tem cada vez menos poderes". Mas, deixando de parte a insuficiência democrática — para não dizer pior — do seu ideal de governo representativo, o mesmo Pacheco Pereira parece incapaz de compreender que, se os cidadãos portugueses votassem para eleger, juntamente com os restantes cidadãos da UE, um parlamento e um governo europeus, o seu voto contaria um pouco mais.  O suficiente? Não, muito longe disso, porque continuariam a votar só de quando em quando, em alternativas pré-formatadas, ao mesmo tempo que, a menos de começarem a lograr por transformações institucionais profundas, continuariam, a coberto da autonomia sistémica da economia (Habermas dixit), excluídos de participar na decisão de questões tão essenciais para as suas condições de existência como todas as que têm a ver com a produção, o trabalho, a gestão micro e macro, entre muitas outras, que pertencem hoje a uma economia que lhes não pertence. Mas um pouco mais, apesar de tudo, do que elegendo o parlamento e o governo de um pequeno Estado formalmente soberano que não pode fazer mais do que interiorizar e mascarar ideologicamente, perpetuando-a de cima para baixo e agravando as suas condições, a situação de dependência de centros de decisão a cuja acção não é possível fugir, embora decerto devamos enfrentá-la e transformá-la. É onde está a rosa que é preciso dançar.

0 comentários: