15/07/15

Muitas maneiras de sair do euro?

A respeito da análise de João Valente Aguiar e de João Bernardo à proposta do Antarsya para a Grécia saír do euro, Nightwish comenta que "uma saída do euro assim é tão ridícula como a austeridade".

Mas será que, a partir do momento em que se decide sair do euro, há muitas outras opções?

É que um novo dracma teria que seguir um de dois modelos:

- Ou é uma moeda com um câmbio flexivel determinado dia a dia pelos mercados, e nesse caso vai ter uma desvalorização brutal, que representará uma enorme transferência de rendimento do trabalho para o capital: as empresas de certeza que continuarão a valorizar os seus produtos em euros (mesmo que ponham as etiquetas em dracmas, provavelmente manterão um "preço mental" em euros e atualizarão todos os dias o preço em dracmas de acordo com o câmbio, tal como era comum nalguns países sul-americanos com o dólar nos anos 80 - e hoje em dia concerteza que em poucas horas apareceria uma app para fazer isso automaticamente), e quem irá ver os seus salários dracmizados serão os assalariados (cujo salário está fixado por contrato, e , normalmente, não podem ir ter com o patrão dizendo "o dracma ontem desvalorizou 50% face ao euro, portanto o meu ordenado em dracmas duplica a partir de hoje"

- Ou é uma moeda com um câmbio fixo, fixado administrativamente, e em que portanto o banco central grego precisa de manter reservas em moeda estrangeira suficientes para poder converter (para pagar as importações) dracmas em euros ao câmbio estabelecido (há muitas expressões com que estamos familiarizados que praticamente quase que só fazem sentido num sistema de câmbios fixos - "fuga de capitais", "obter divisas", etc.); num sistema dessas, para as reservas de euros (e dólares, rublos, etc.) não se esgotarem em três tempos, seria necesário introduzir limites à convertibilidade da moeda que imagino que nunca seriam muito diferentes dos propostos pelo Antarsya

Aliás, em larga medida o modelo "dracma com cambios fixos" é o que a Grécia já está a viver hoje em dia - com os controlos de capitais em vigor (nomedamente a impossibilidade de transferir dinheiro dos bancos gregos para bancos fora da Grécia) o "euro na Grécia" já não é efetivamente a mesma moeda que o "euro no resto da zona euro"; são duas moedas diferentes, com limites à conversão de uma na outra, e com um câmbio de 1 para 1 (diga-se que pode ser argumentado que, em muitos aspetos, o euro nunca foi uma verdadeira moeda única, mas sim 19 moedas diferentes, cada qual com o seu banco central e com moedas e mesmo notas ligeiramente diferentes de país para país, mas com um câmbio fixo de 1 para 1 entre elas, e que só se mantêm sem crises enquanto houver confiança que a união monetária - e a equivalencias entre os euros de cada país - é irreversível).

2 comentários:

Paulo Marques disse...


Confio mais em economistas neste assunto que já esboçaram como podia ser feito do que em quem não é.
Só isso.
Podemos estar aqui a falar no controlo dos meios de produção até morrermos, mas a realidade é que não
há aliados em lado nenhum nem vai haver a tempo da próxima crise que vai retirar ainda mais dinheiro
e poder às pessoas, e a seguir outra vez para salvar novamente a banca.
Entretanto, o Syriza já se partiu a meio e a esquerda vai novamente desaparecer na Grécia, provavelmente
em favor dos Nazis. O racismo e a xenófobia já estão novamente espalhados por toda a europa contra os
"preguiçosos".
Já andamos mais de 100 a dizer que tamos quase a conquistar o capitalismo e os resultados estão à vista
, com o TiSA e o TTIP prestes a ilegalizar tudo o que é de esquerda, ditto para o sonho europeu.
Mas pronto, qualquer dia o Alentejo ainda há-de ser nosso outra vez...

(Ex-nightwish, o anonimato não há-de servir para grande coisa)

Paulo Marques disse...

De resto, não sei o que é que uma moeda tem a ver com nacionalismo, é economia. Básica.