09/03/11
Não abandonar a revolta líbia ( Contra a resignação à "Europa realmente existente" II)
por
Miguel Serras Pereira
Talvez o Rui Bebiano tenha tardado um pouco a ver bem o que se passa na Líbia, mas, mais vale tarde do que nunca, e, desta feita, tem razão. Ou tem-na, pelo menos, em grande parte - e deixando de lado o enraizamento pessoal (que o não é só, eu sei) dos seus considerandos. A guerra já existe na Líbia e, para nós — para os que não queiram resignar-se à "Europa realmente existente" —, trata-se de saber quem apoiamos e de tirar daí as devidas consequências. Exigir, por exemplo, dos governos de Portugal e da UE que reconheçam uma coligação provisória dos revoltosos e intervenham, de acordo com eles, em seu apoio. Não ficando à espera das Nações Unidas, embora cedendo-lhes o lugar e a coordenação logo que possível. Desfazendo uma parte do mal que fizeram. Sendo obrigados a mudar de rumo e alianças. Exigi-lo por solidariedade com os revoltosos e também movidos pelo interesse próprio que ponhamos na democratização da UE, no desenvolvimento das capacidades políticas dos cidadãos que somos, assumindo a nossa força, organizando-a e impondo o seu reconhecimento. É intolerável que, à política de mau pagador e de cumplicidade com Kadhafi da UE no que se refere ao povo líbio, se suceda agora o lavar das mãos da não-ingerência, pintada de respeito pelo direito à "independência nacional" — verniz com que os seus governos, acolitados pelos "anti-imperialistas" interessados ou idiotas úteis de serviço, tentam dissimular o sangue que, de mistura com o petróleo, lhes encharca as mãos.
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33 comentários:
Muito bem.
O que o Miguel Serras Pereira reivindica já as democracias governantes (ou os governantes democráticos ou o raio que os parta) andam a fazer: The United States, Britain and France have sent several hundred “defence advisors” to train and support the anti-Gadhafi forces in oil-rich Eastern Libya where “rebels armed groups” have apparently taken over. (http://pakobserver.net/detailnews.asp?id=78009)
Ex-Anónimo-Que-Assina-Miguel,
se ler com atenção o que escrevi, verá que se enganou. De resto, está bem vincada no meu texto a exigência de uma UE emancipada dos EUA, capaz de ousar iniciativas próprias e de inflectir o leme das Nações Unidas. Aliás, é estranho que haja tanto anti-imperialista encartado que não compreenda que esta "emancipação" europeia abalaria bem mais as capacidades do Império que a política meramente negativa e de terra queimada que reivindicam, numa espécie de vale tudo que, as mais das vezes, nem ao trabalho se dá de distinguir entre os governos e as populações que os governos subjugam e - cá como lá, embora em graus e por vias diferentes - mantêm na menoridade.
Mas não gagueje tanto, por favor: diga sem rebuços que é contrário ao apoio aos revoltosos líbios e favorável a que Kadhafi permaneça de mãos livres para resolver à sua maneira os "assuntos internos" da Líbia e continue depois a servir de tampão de segurança à Europa-fortaleza…
Apoiar a revolta na Líbia, na Arábia Saudita, no Iémen, no Irão e no Iraque, etc., etc. exige que se tirem as consequências que a solidariedade com os revoltosos impõe: reconhecê-los como interlocutores e apoiá-los contra os seus governos, intervindo contra estes nos termos que os revoltosos aceitem ou reclamem - e tanto pior para as "independências nacionais".
Saudações libertárias
msp
MSP generaliza, qual quixote em cuecas, nu de lança e armadura.
Que "povo libio"?
existem pelo menos três grandes etnias berberes no país
e é nisso que se funda o trabalho de divisão psicológico feito previamente pelos neocons imperiais tendo em vista a intervenção militar subsquente.
Qual é a novidade em relação ao Iraque?. Se estiver de acordo com a intervenção norte-americana/UE agora, também tem de estar de acordo com a invasão do Iraque... afinal trata-se de defender o acesso às fontes energéticas essenciais para a sustentação da civilização ocidental tal como está, predadora, como sempre foi
A análise do MSP parece-me boa em princípio, parece-me a mais coerente. No entanto, tem de se ter em conta algo tão importante como "saber quem apoiamos e de tirar daí as devidas consequências".
O problema é que nem na esquerda mais à esquerda existe unanimidade quanto a esta questão. E então quando se reage em função dos sinais que as "potências" "transpiram" para os media, é o caos...
Veja-se a forma como os rapazes do 5dias, totalmente ignorantes do que se passa na Líbia - o que nem é criticável, porque se encontram na mesma situação do resto do povo em que me incluo - mas ansiosos de estarem sempre na brecha, impelidos pelo papel vanguardista que se auto-arrogam e devidamente munidos de todos os alibis politico-ideológicos, oscilam como baratas tontas em relação ao que fazer com o Kadhaffi. Ainda não decidiram se é um tirano, ou um libertador, um torcionário que bombardeia o seu próprio povo para se manter no poder e deve ser liquidado, ou o revolucionário viril disposto a verter a última gota de sangue na defesa da "revolução Africana" que convém defender contra as garras do imperialismo...
Já "a exigência de uma UE emancipada dos EUA, capaz de ousar iniciativas próprias e de inflectir o leme das Nações Unidas", faz sentido do ponto de vista "convencional"/reformista, mas parece espúria face à avaliação pela esquerda libertária dos regimes que vigoram, em geral, na UE.
Caro Rui,
as questões que levanta são pertinentes, mas far-se-ão sentir depois e terão então de ser enfrentadas da melhor maneira. Para já - e creio que estamos de acordo - trata-se de reconhecer e apoiar a frente insurrecta, e não esta ou aquela organização sua integrante. Porque a guerra civil está em curso e trata-se de impedir a ditadura de Kadhafi de, senão triunfar, prolongar durante meses ou anos uma chacina criminosa.
Como já expliquei, o caso é muito diferente do que se passou por altura da invasão do Iraque - e, como também disse, a intervenção da UE não se faria para além dos termos em que o "campo republicano" a solicitasse.
Cordiais saudações democráticas
msp
"afinal trata-se de defender o acesso às fontes energéticas essenciais para a sustentação da civilização ocidental tal como está, predadora, como sempre foi"
está certo...
Até por isso mesmo, deixa perder assim do dia para a noite o acesso às "fontes energéticas essenciais" que vais ver o que acontece. Aí é que eu te vou querer ver a protestar que "o custo de vida aumenta" e a exigir uma sociedade "mais fraterna"...
ah, ah, ah, ah!
O "anarca" Miguel Serras Pereira exige a intervenção militar da União Europeia na líbia.
Nada mau, nada mau mesmo ;-)
Rui
"ninguém protesta-choraminga ad-nihil que o custo de vida aumenta"
do que a esquerda devia tratar era do problema da auto-suficiência, do inevitável decrescimento tecnológico, contra o sistema de valores assente no demérito das trocas desiguais, enfim de cortar pela raiz com o parasitismo social que os lucros dos crimes imperialistas proporcionam ás elites guerrófilas da Nato e do complexo industrial militar
Certo também?
Anónimo & Provocador das 10 e 47
o que o Miguel Serras Pereira exige é que tentemos forçar os governos da UE a intervir, em termos acordados com o campo dos insurrectos, contra a ditadura de Kadhafi. E se, por exemplo, o encerramento do espaço aéreo líbio requerer meios militares, esses meios militares deverão ser usados; se o campo dos revoltosos reclamar armas, provisões, etc., estes deverão ser-lhe fornecidos, e por aí fora - sempre de concerto com os organismos de coordenação militar provisórios da frente insurrecta.
Você, pelos vistos, acha que não temos de apoiar os insurrectos e devemos permitir que Kadhafi continue a guerra civil. Ou li-o mal?
msp
P.S. "Anarca" ? O que é isso?
xatoo, concordo com o programa de fundo. Mas o que aqui se discutia (discute) é a análise do MSP sobre o que fazer agora. Isto é, hoje.
"o que o Miguel Serras Pereira exige é que tentemos forçar os governos da UE a intervir, em termos acordados com o campo dos insurrectos, contra a ditadura de Kadhafi."
Foi isso mesmo que escrevi e fui acusado de não ter lido com atenção.
O que o Miguel Serras Pereira reivindica é precisamente o que os governos da UE (e não só) estão já a fazer sem esperarem pela sua reivindicação.
Seria diferente se, por exemplo, o Miguel Serras Pereira apelasse e contribuísse (desde logo, aqui neste rectângulo) efectivamente para a mobilização popular internacional para se juntarem aos revoltosos, para "pôr o corpo onde têm a boca". Porém, a opção do Miguel não é essa mas sim a de reivindicar a intervenção das "forças da ordem".
Seu "idiota útil" e "anti-imperialista encartado",
anónimo que assina miguel
Miguel Serras Pereira:
Pelo seu ponto de vista, cabe à opinião pública, ao povo da Europa, exigir que os seus governos, isto é, os seus opressores, intervenham militarmente na Líbia.
Deixe-me que lhe diga.... ESCLARECIDÍSSIMO!!!
Já agora, reivindique também aos seus amigos israelitas que exijam do seu governo (do seu governo sionista) que intervenha militarmente na líbia: não só têm um dos mais poderosos exércitos do mundo (com bomba atómica e tudo), como possuem muita experiência em combatar no deserto.
porque afinal de contas... o miguel Serras Pereira deve achar que aquilo é um país "democrático", não é?
Um jornalista do Il Manifesto- Maurizio Matteuzi- que se encontra em Tripoli, aponta que há uma grande manobra de contra-Informação manipulada pelas potências integrantes da NATO. Não existem provas reais sobre o uso da aviação militar pelos homens de Kadaphi, frisa. Alerta também para o armamento maciço que inunda os arsenais dos revoltosos e destaca a " armada " internacional que se postou junto à costa líbia. O sr. anónimo que assina Miguel poderia ter tido a gentileza de agradecer a dica, que forneci a 6 do corrente, sobre a notícia do envolvimento de Forças Especiais na
guerra contra Khadaffi. Niet
Anónimo & Provocador,
o que eu defendo é que exijamos dos governos da UE que intervenham em TERMOS ACORDADOS COM OS MANDATÁRIOS PROVISÓRIOS DA FRENTE ANTI-KADHAFI em apoio dos revoltosos. Em vez de negociarem unilateralmente com a ditadura de Kadhafi, sem lhe imporem clara e publicamente condições taxativas: é o regime de Kadhafi que o "camarada" Luís Amado reconhece e que Bruxelas parece reconhecer também.
Ora, à falta da intervenção acordada com os revoltosos do tipo que digo acima, a intervenção estrangeira na Líbia acontecerá mais tarde ou mais cedo, mais aberta ou inviamente, senão de modo a manter Kadhafi, pelo menos de modo a garantir que os mesmos interesses e a mesma política que o armaram, como Estado-tampão contra as migrações africanas, etc., continuem a prevalecer.
Isto devia ser evidente até mesmo para si. Ou quer ir a reboque da compreensão do "camarada" Luís Amado e seus pares na UE?
msp
Tu, Niet, vê se por uma vez renuncias ao vício de pescar em águas turvas - além do mais, corres o risco de esmagar os dedos à força de tanto empenho em dares uma no cravo e outra na ferradura.
msp
Tiro ao lado, MS Pereira! Conforme assinalei as movimentações das F.Especiais, no seu tempo real;dei a ler hoje o que o correspondente do Il Manifesto escreveu sobre a manipulação e pressão em curso na Líbia.Agora, não posso assegurar que não tenha sido apanhado no cross-fire da guerra de Informação. E tenho várias fontes muito credíveis como a que referia as infomações do Pakistan Observer. Temos que cruzar e contrastar as Informações, meu caro. E acho que podes e deves estimular esse reflexo, meu caro. Niet
OK, Niet. Mas lá que vinha a despropósito e em conforto dos partidários do Kadhafi "anti-imperialista", não podes negá-lo. Se não deste por isso, toma mais atenção para a próxima. Até lá, vamos andando.
Bom vento
msp
MS.Pereira: Então, não confias em mim,impenitente e heterodoxo seguidor de Castoriadis e Mattick? Eu acho que deve haver uns autonomistas libertários no "Il Manifesto",meu caro.Não fui determinare dei a seco a notícia. Mas, em verdade te digo, o diabo que escolha entre a violência bruta do clan Kadhaffi e a dos estados-maiores do " quinteto " ou directório que " governa " a NATO...Salut! Niet
Terias razão, Niet, se eu tivesse alado em NATO - mas falei em acção independente da UE e concertada com a frente dos que, na guerra civil em curso, combatem a ditadura de Kadhafi.
Quanto à situação líbia, comoo Rui percebeu bem, trata-se de saber o que fazer hoje e agora.
uanto à UE, a ideia seria exigir-lhe que não ficasse justamente a reboque dos EUA e da NATO.
O combate à lógica e orgânica do "Império" não se trava só no Terceiro Mundo - eu diria até que, de há muitos anos para cá, a delegação noutros países e regiões do mundo do papel de locomotivas ou detonadores da "revolução", tem sido um dispositivo ideológico de supressão do movimento democrático, tanto à escala deuropeia como no plano mundial. Trata-se de um retrocesso histórico enorme e ainda mais monstruoso quando pintado de vermelho. Os messianismos que têm vindo a instituir este ou naquele país ou guia do Terceiro Mundo como profeta são uma confissão de impotência e de resignação, que fazem parte do "conformismo generalizado" que, justamente, Castoriadis nunca se cansou de denunciar.
OK, pá?
Cabeça fria e lucidez: nem perfilados de medo nem devotos da "idealização do oprimido" e da opressão que o molda, daremos um passo que seja na direcção da autonomia.
msp
Caro MS.Pereira: Quem manda na U.E.,realmente? A França e a Alemanha, flanqueda pelos inveterados governos pró-USA, Cameron(G.B.) e o de Berlusconi( I),este último dueto numa posição quase caricatamente de " satélites " a soldo... De há muito a esta parte, como sabes. Quem põe e dispõe na NATO? Os EUA, o Canadá e a França e a Alemanha, com o apoio quase incondicional da G.Bretanha e da Itália. A U.E. tem cada vez menos autonomia política( económica, estratégica), desde que o Delors se reformou. E a " coisa " tem vindo a piorar...com a " fraca " personalidade de Barroso, " escolha " da Merkel e do Sarkozy para ser um mero " empregado " de ambos... Não podes nem deves- no meu entender- esquecer isso.E para fundamentar tudo isso implica consultas e dados gigantescos que circulam nos Institutos, Universidades e Centros de Pesquisa dos dois lados do Atlântico, como muito bem também o sabes, tu, que lês o NY. Times todos os dias! Vem um artigo do Michel Tatu- creio ser o veterano especialista da Rússia da época de ouro do jornal -hoje no Le Monde, que remete para um " think tank" da direita democrática gaulesa, a de J.Claude Casanova, os verdadeiros herdeiros de Raymond Aron. Está lá tudo, preto no branco, em vários patamares. E que retrata, ao scanner, a pura e dura realidade política da EU/NATO e USA: convergência quase total, unicidade canina sem perspectiva, in vero, a lei do mais forte e do mais rico a ditar .Lembraste de uma troca de temas e dados com a Mariana Canotilho, há meses, no Five e no Vias? Salut! Niet
Niet,
nada do que dizes invalida a minha tomada de posição programática. A não ser que penses que, sendo as coisas o que são, nada há a fazer, e que a UE terá de continuar a ser como (não) é até destruir o que resta daquilo a que Bauman chama a "aventura inacabada" da Europa. Mas, se tomarmos esse caminho, convém sabermos que estamos a excluir do horizonte do possível e da formação da nossa racionalidade e vontade políticas a liberdade e igualdade da própria democracia.
Se é a isso que queres que diga adeus, não tenciono fazer-te a vontade.
Fui claro?
msp
MS.Pereira: Vamos ver se consigo construir uma réplica. Sempre parcial e muito dificil. E por que não aplicar aquelas teses de Castoriadis- a propósito da Revolução Húngara de 1956- duas ou três- magistrais: a tomada em conta indispensável da " ligação orgânica entre o projecto, as ideias e a fonte dos acontecimentos " postos em movimento pela tentativa revolucionária de criação dos Conselhos Operários e da Autonomia política dos trabalhadores em luta?.O corte radical com a cartilha bolchevique, portanto.Trata-se de um texto essencial para todos nós, que acreditamos que há uma alternativa ao estao de dominação e exploração que nos enfraquece a vida, as ideias e a beleza. " O projecto revolucionário não é a consequência lógica de uma teoria correcta ",frisa C.Castoriadis..." A acção espontânea dos operários e do povo húngaro era uma acção visando a criação/ a organização, e há ainda que acrescentar: a sua espontaneidade era exactamente isso, a sua auto-organização. Reside bem nesse ponto o que o pseudo" teórico " burocrata detesta superlativamente: que os operários, em vez de esperarem, numa passividade entusiasta, que ele os venha " organizar ", se organizem eles-próprios em Conselhos Operários ",in a "Fonte húngara",1976, C.Castoriadis.
Liberté et égalité. Niet
MS.Pereira: Queria acrescentar ainda duas ou três notas à minha " réplica ". O texto de Castoriadis sobre " A fonte Húngara " contém, em filigrama,dados essenciais para a construção de uma alternativa ao regime político nascido da Democracia " representativa- que condiciona e explica o poder político na U.E. Esse o ponto que me parece mais importante a destacar, pois,a democracia representativa é , como ele o repetiu, " uma contradição nos termos e esconde um engano fundamental" Castoriadis- que tentou formar um núcleo de intervenção "política" em Portugal no pós-25 de Abril- com base nas linhas " programáticas " insertas em diversos textos, em especial no" Maio 68:A brecha"-bem alerta neste texto quase coincidente com o 25 Abril que não existem " garantias mágicas " que se gerem a partir de um consenso social criado, e eu sublinho,pela inerência incontornável da " destruição de todo o aparelho de Estado separado". Vaneigem/Ratgeb desenvolveu pontos importantes a acrescentar,e não nos podemos esquecer também da história critica ensaiada por Mattick contra a herança bolchevique. Niet
Miguel Serras Pereira:
Essa teoria, segundo a qual, a União Europeia poderia jogar um papel "humanista" nas relações internacionais em contraponto ao "imperialismo americano" tem direitos de autor - é uma das preferidas xaropadas do Mário Soares.
O argumento do Serras Pereira é bestial: para impedir a matança dos revoltosos, vamos exigir que a UE proceda à matança de todos os outros... Ou você acredita na precisão das "bombas inteligentes" do braço europeu da NATO?
E quanto à intervenção armada ser "a pedido" dos revoltosos... enfim... que legitimidade tem o ex-ministro da justiça do kadhafi? Plos vistos, na sua cabeça tem bastante...
Está a ver o que aconteceu nos útlimos 10 anos tanto no Iraque como no Afeganistão? É o que você teria na Líbia se a sua veemente exigência fosse aceite pelos beneméritos e muito democráticos governos europeus.
Miguel Serras Pereira:
Essa teoria, segundo a qual, a União Europeia poderia jogar um papel "humanista" nas relações internacionais em contraponto ao "imperialismo americano" tem direitos de autor - é uma das preferidas xaropadas do Mário Soares.
O argumento do Serras Pereira é bestial: para impedir a matança dos revoltosos, vamos exigir que a UE proceda à matança de todos os outros... Ou você acredita na precisão das "bombas inteligentes" do braço europeu da NATO?
E quanto à intervenção armada ser "a pedido" dos revoltosos... enfim... que legitimidade tem o ex-ministro da justiça do kadhafi? Plos vistos, na sua cabeça tem bastante...
Está a ver o que aconteceu nos útlimos 10 anos tanto no Iraque como no Afeganistão? É o que você teria na Líbia se a sua veemente exigência fosse aceite pelos beneméritos e muito democráticos governos europeus.
por acaso o post do Rui Bebiano que originou o post e que eu só hoje li, responde bem às inquietações espirituais do anónimo
O Serras Pereira é um pide.
Só isso.
Anónimo e Provocador,
o que eu disse foi o seguinte: há uma guerra civil no Líbano e nós deveríamos exigir dos governos da UE que apoiassem o campo dos revoltosos, reconhecendo o seu Conselho e intervindo em termos acordados com eles. O que significa: não que a UE faria necessariamente tudo o que lhe fosse solicitado, mas que não faria mais do que isso.
Infelizmente, o tempo vai passando, a acção de qualquer coisa como um movimento democrático consequente na Europa brilha pela perplexidade, senão pela ausência pura e simples. Nem por isso os governos da UE deixarão de intervir de uma maneira ou de outra na Líbia, mas tudo leva a crer que o farão muito mais desastrosamente do que se estivessem sob a pressão democrática de que falei.
Por fim, retomando o título deste post, direi que são os que adoptam a sua atitude que reforçam o establishment na UE e renunciam, hipnotizados pelo mito de um Terceiro Mundo fantasiado como nas vésperas de desencadear não se sabe bem que Revolução Mundial, a democratizar as instituições políticas e económicas que governam esta parte do mundo. Resignam-se à "Europa realmente xistente" e, perante qualquer proposta de acção política nas suas condições efectivas, fazem tudo o que podem para a desacreditar e sabotar, denunciando-a como manobra imperialista.
Parece pouco lógico que quem denunciou os governos da UE como cúmplices da ditadura de Kadhafi defenda agora Kadhafi, ou uma neutralidade que equivale a defendê-lo, só porque os governos da UE dão mostras de lhe retirarem o seu apoio. É uma posição que deve obedecer a cálculos estratégicos globais singularmente inventivos, mas que tem o defeito de se estar nas tintas para os que lutam contra a ditadura na Líbia e de barrar a imaginação de qualquer alternativa na Europa.
Dito isto, passo a reservar-me o direito de não responder a mais comentários que se limitem a chamar-me pide, ou soarista, sem introduzirem quaisquer argumentos novos. Se a ideia é insultar-me pessoalmente, falem sozinhos - e vejam se imaginam coisas mais excitantes e menos repetitivas: canibal, vampiro, salteador da arca perdida…
msp
este MSP é um notável contorcionista... não tarda nada já pode endireitar de novo a espinha, porque a UE está, como se previa, a caminho de lhe satisfazer os desejos
o xatoo não percebeu ou não quis perceber nada do que eu disse.
É evidente que uma UE apostada na democracia ou, pelo menos, trabalhada por um movimento democrático eficazmente combativo e capaz de pesar nas suas decisões políticas e de forçar os seus governos nunca teria permitido que as coisas chegassem onde chegaram: teria reconhecido sem perder tempo o Conselho dos revoltosos, interviria de acordo com eles de modo a impedir que o campo de Kadhafi pudesses dispor de meios aéreos e outros para continuar o massacre dos seus inimigos, etc. - afirmando ao mesmo tempo a sua capacidade de inciiativa própria, agindo fora do quadro da NATO e não apenas a reboque dos EUA.
A intervenção tardia, em termos cozinhados à margem de uma concertação com o Conselho dos revoltosos, acautelando os interesses oligárquicos que a ditadura de Kadhafi já acautelava, nada trará infelizmente de novo nem para a Líbia nem para a própria UE. É preciso ser o xatoo ou emular o seu sectarismo para não ver que era precisamente contra a resignação às políticas da "Europa realmente existente" que o meu post se insurgia.
msp
Pois, Miguel Serras Pereira!
A diferença é mesmo essa: é que alguns de nós não têm ilusões algumas sobre a UE e, já agora, o mesmo se aplica ao estado religioso e racista de Israel. Cumprimentos
Anónimo e Provocador,
uma coisa, penso eu, é não termos ilusões sobre a Europa actual; outra resignarmo-nos ou agirmos como se nos resignássemos a que isso tem de ser assim (esperando, quando muito, a salvação vinda de fora).
Quanto aos traços confessionais e de apartheid étnico do regime vigente em Israel, não sei se você os terá denunciado mais do que eu. Com quem julga que está a falar?
msp
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