28/03/13

As vias federalista e nacionalista da UE


Partindo do exemplo de Chipre e do desenvolvimento da conjuntura europeia, uma primeira leitura a observar é que UE está a utilizar os “resgates” financeiros da troika e o mais recente exemplo de Chipre para soldar ainda mais os Estados periféricos à sua armadura num claro objectivo de lhes ir retirando poderes. Isso significará que uma futura aprovação de alterações nos Tratados europeus rumo à federalização ficará mais facilitada.

Se esta hipótese de um avanço da federalização for verdadeira, então os controlos de capitais que estão a ser ensaiados em Chipre funcionarão como um instrumento de reforço da classe dos gestores europeus instalados no BCE e noutras instituições europeias. O resultado será visível no controlo que as instâncias transnacionais de organização dos gestores poderão estar a levar a cabo sobre os bancos privados. Se isto for verdadeiro, teremos o objectivo de supervisão bancária europeia, os critérios Basileia III de reposição dos rácios de capital dos bancos, o plano para uma federalização europeia gradual (vd. aqui e aqui) e o caso do controlo apertado de capitais em Chipre como claros exemplos empíricos de um reforço dos gestores como classe coordenadora das condições gerais de (re)produção do capitalismo, numa tentativa clara de amarrar as tendências centrífugas dos capitalistas privados individuais e do pouco poder que os Estados nacionais ainda vão tendo.

Esta via sustenta-se na austeridade para os próximos anos. Se ela tem o carácter de continuar a prejudicar os trabalhadores em termos salariais e de vínculo de trabalho, ela é, sem margem para dúvidas, a que menos prejuízos materiais e políticos trará para os trabalhadores como tive oportunidade de demonstrar aqui. Querer comparar quebras previsíveis do PIB em quatro anos (2010-2013) na ordem dos 8-9% (como é esperado para a economia portuguesa) e que, como qualquer um sabe, já causa terríveis consequências para os trabalhadores, com uma implosão da zona euro que, em sete ou oito anos, poderia, no cenário mais dramático, atingir perdas na ordem dos 20 a 30% do produto bruto mundial (aqui), é simplesmente não ter a mínima noção do que está realmente em causa. Não se trata de escolher a austeridade. Trata-se de lutar contra a austeridade no cenário menos gravoso para os trabalhadores e que lhes pode permitir relançar novas lutas sociais despidas de preconceitos nacionais. Na actual conjuntura, a maioria dos trabalhadores portugueses, cipriotas ou gregos já vêem a causa das suas perdas de salários e de emprego como se de uma espoliação alemã se tratasse (e não capitalista, o que implica abordagens políticas completamente distintas como escrevi ontem sobre isso). Ora, os ódios nacionais que neste momento não passam de impropérios recíprocos entre trabalhadores do norte da Europa e do Sul da Europa, num cenário isolacionista e de confronto entre nações que fossem abandonando o euro, esses ódios só poderiam degenerar numa trágica impossibilidade de colocar a transversalidade da condição de classe economicamente explorada e de classe politicamente oprimida acima de todas as nacionalidades. E quem seria carne para canhão em conflitos nacionais desse tipo seriam os trabalhadores que a esquerda nacionalista diz querer defender.

Eu percebo que alguns meninos gostem de chamar IV Reich à Alemanha. Mas para além de uma ignorância total sobre os mecanismos rácicos e genocidas do regime nazi e que, do ponto de vista político e económico, nada tinham a ver com a actual UE, esse tipo de argumentos só serve para que os tipos reaccionários como o actual Ministro das Finanças alemão se façam de vítimas de perseguição nacional. Se a esquerda que perde tempo com os reaccionários da Merkel e do Schauble, se preocupasse mas é em fazer tudo por tudo para estabelecer contactos com forças políticas e movimentos sociais europeus que lutem contra a austeridade numa base democrática e europeísta, os resultados seriam muito mais frutíferos. Longe vai a perspectiva de que as políticas aplicadas pelas instituições de poder eram políticas de classe e não o resultado do indivíduo A ou B. E longe vai a perspectiva de que os momentos de refluxo das lutas sociais seriam momentos de reflexão de erros passados e de preparação de uma nova fase de lutas. Ao inverso, hoje a maioria da esquerda e dos seus militantes preferem ser tomados pelo nacionalismo e preferem o desespero de se atirar para o proteccionismo e para soluções isolacionistas, em vez de irem reflectindo racionalmente, e através de iniciativas europeias de luta, possíveis respostas às encruzilhadas que se vão colocando.

Por conseguinte, a via federal terá menos prejuízos materiais do que a via nacionalista, pois é a que, na pior das hipóteses, mais rapidamente poderá restabelecer as condições de recuperação económica. A não ser que surja a muito curto prazo uma desejável movimentação social internacional dos trabalhadores que rompa com as vias nacionalista e federalista, a verdade é que a via federalista é a única das duas vias actualmente em equação que permitirá que os fluxos de crédito internacional e de expansão dos investimentos directos de base internacional possam ser retomados a curto-médio prazo. O que significa que entre as duas vias capitalistas que estão em cima da mesa, esta é a única que poderá relançar a economia europeia na base dos mecanismos da mais-valia relativa. O mesmo é dizer que do ponto de vista das condições materiais dos trabalhadores seria a única que poderia prevenir a catástrofe económica e humana que os nacionalistas preconizam e que apontei acima.

Mas, como sempre, não se trata de escolher entre capitalistas mas de escolher entre as alternativas que podem ser mais funcionais para um avanço futuro das lutas dos trabalhadores. Por isso, do ponto de vista político, a federalização da União Europeia é a única via que permite colocar as reivindicações dos trabalhadores numa base realmente internacional, contribuindo para a unificação da sua condição social e estrutural de classe social explorada. Perante um quadro institucional federal e único na União Europeia, o interlocutor político directo das reivindicações concretas dos trabalhadores colocar-se-ia inevitavelmente num plano europeu. Nesse sentido, o plano nacional perderia relevância. Isto traria dois bons pontos de partida para futuras lutas europeias. Por um lado, e sendo optimista, seria possível que os nacionalismos se pudessem esbater ou eventualmente perderem importância política. Por outro lado, os trabalhadores europeus teriam plena noção que uma luta contra quaisquer medidas que os prejudiquem teria de ser colocada obrigatoriamente no espaço europeu. Isso significaria que o que os uniria politicamente seria a sua condição de classe e não a sua nacionalidade. E, ao mesmo tempo, isso poderia facultar a compreensão de que perante a organização transnacional dos capitalistas, só a sua solidariedade igualmente transnacional poderia abrir portas a uma outra sociedade.

Nesse sentido, o comentário que o leitor João Viegas colocou no post imediatamente abaixo do Pedro Viana faz todo o sentido do ponto de vista político. Reproduzo um excerto que me parece precioso: «O que penso, é que é falacioso acreditar que os trabalhadores têm algo a ganhar com a inversão do processo de integração económica, ou que é possível voltarmos a uma Europa de pequenas nações que vivem de costas voltadas umas para as outras. Isto é que é irrealista e, em Portugal, temos a obrigação de saber que o "orgulhosamente sós" não leva a lado nenhum». Como é que grande parte da esquerda perdeu sequer este bom-senso saudável de que nos fala este leitor? É inacreditável que a esquerda que se diz anticapitalista hoje esqueça em absoluto que os mais importantes momentos de luta do passado decorreram em ondas internacionais de lutas: 1917-23; 1948-56; 1964-75. E, não por acaso, fora de contextos de crise económica.

Quando a esquerda nacionalista que tenho vindo a criticar confunde capitalismo com o que é internacional, cosmopolita e “apátrida” e o socialismo com a defesa da nação e com a própria pátria, então se calhar eu próprio até estarei errado em chamar essa esquerda de nacionalista. Na verdade, ela transformou-se na ponta esquerda de um campo comum nacionalista, o que politicamente ainda é mais grave. Se, por si só, nenhuma via capitalista resulta necessariamente em possíveis lutas sociais autónomas dos trabalhadores, a via nacionalista, porque compartimenta a classe trabalhadora em nações e a agrega a sectores capitalistas de um determinado país, é que não as desenvolverá de certeza absoluta. Muito pelo contrário. Nunca como hoje, a luta contra o capitalismo começa na luta contra o nacionalismo.

p.s. Quando uma pessoa de direita como João Miranda tem uma dose consideravelmente superior de bom-senso sobre questões muito concretas relacionadas com o euro do que a esquerda patriótico-nacionalista, então só posso concluir que é o irracionalismo que está a definir o quadro ideológico dessa esquerda. Não se trata aqui, como é evidente, de defender o mesmo projecto político da direita, mas de aferir o real impacto de uma saída do euro sobre os trabalhadores que essa esquerda diz defender. Que as propostas da direita liberal sejam desenvolvidas em torno da austeridade, nada de surpreendente. Mas quando as propostas da esquerda patriótica ultrapassam largamente pela direita os efeitos nefastos sobre as condições de vida, os empregos e os salários dos trabalhadores, então algo de muito perigoso pode germinar a partir dessa esquerda.

27 comentários:

Anónimo disse...

Se chegar um tempo em que a maioria das pessoas não tenham, consistentemente, euros no banco talvez a maioria esteja preparada para pensar a sério na escolha de sair do euro. Sem euros na conta para proteger não há muito interesse em defender o euro a todo o custo.

João.

joão viegas disse...

Concordo muito com esse texto, o que não supreendera ninguém.

Sem querer atirar oleo para a fogueira, eu acrescentaria uma coisa importante para aqueles que acham que chegou a hora patriotico-nacionalista de combater o ocupante nazi (o que julgo não ser o caso do Pedro Viana, mas adiante).

Se estão realmente preocupados com o imperialismo racista e xenofobo e a sua sede de oprimir os povos do sul, podem meditar os pontos seguintes :

- Quem acabou de introduzir regras contrarias à igualdade entre nacionais e estrangeiros no seu territorio, foi o Reino Unido, não porque ache que isso é um passo em direcção ao federalismo, mas porque o governo britânico esta refém de movimentos ultra-nacionalistas de tipo Farage (um ex-operario fabril sindicalista que militou na extrema esquerda, como sabemos). Esses movimentos querem exactamente o contrario do federalismo e aplaudem de pé de cada vez que vêem os povos do sul lutar contra o imperialismo de Bruxelas ou de Berlim. Por vezes, com aclamações um pouco precipitadas por parte de algumas almas de esquerda nos paises do sul.

2. Mas também ha outro sitio onde a extrema direita nacionalista ganha terreno, é precisamente nos paises do sul, na Grécia por exemplo, porque como todos sabemos, a melhor defesa contra o imperialismo, alemão, judeu ou financeiro, etc., é mesmo bater no preto que temos à mão. E' facil, é barato, da milhões (de votos). Noutros paises a situação sera menos caricata, mas suficientemente preocupante para colocar a esquerda diante da questão seguinte : ja que se trata de defender a aldeia contra os Romanos, por que carga de agua é que o povo havia de mandatar pessoas de esquerda, e não directamente a extrema direita, que pelo menos tem a vantagem de dizer a mesma coisa desde sempre, e que beneficia de um inegavel know how nessa matéria ?

3. Mas o verdadeiro problema, dizem-me, é o reformado alemão. Pois bem, meus amigos, eu respondo que o reformado alemão NAO é a favor do federalismo, antes pelo contrario. O reformado alemão é a favor de poder manter o nivel de vida, sem se importar com o facto do prato passar a ser cozinhado na Indonésia ou na Malasia. Ora bem, o reformado alemão esta redondamente enganado. E esta errado por uma razão que ele pode perfeitamente entender : ele não seria reformado (hoje) se não tivesse trabalhado (ontem). Portanto o papão do reformado alemão pode perfeitamente compreender um discurso de esquerda. Posto que não se trate de um discurso simplista, que o conforta na ideia de que a Europa acabou, e que o mais seguro é ir agora buscar o dinheiro onde ele se encontra, la para as Asias. O futuro do reformado alemão não esta nas Asias, como não estava ontem nos Baleares ou nos Algarves. O futuro dele esta, em parte, nos filhos, em parte, na morte...

Este meu comentario é provavelmente excessivo e um pouco caricatural, mas o Pedro Viana compreende...

Alias, os argumentos de fundo estão ai, expressos de forma insofismavel pelo João Valente Aguiar.

De resto o que é importante, é compreender que esse é O ponto que deve ser debatido à esquerda, em profundidade, sem cansaços, nem ideias pré-concebidas. Mas também sem abandonar as ideias da esquerda (igualdade efectiva). Lembro que a esquerda realista nasceu quando deixou de encarar essas ideias como mera poesia, e constatou que elas se realizam na pratica. Realismo e discernimento é o que precisamos...

Abraços aos dois e obrigado por este debate, a meu ver muito esclarecedor.

Boas

PEDRO LOPES disse...

" a luta contra o capitalismo começa na luta contra o nacionalismo."


Desculpe a frontalidade, mas este é uma dos maiores disparates que se podem dizer.

Sem Nacionalismo vamos continuar nesta lenga lenga, com os tecnocratas a dominar a politica, as sociedades cada mais sem quaisquer referências e valores.

Eu não conheço um único globalista honesto e que não roube milhões de quem trabalha. Até a Lagarde andou envolvida em desvios.
Se quiser indicar um agradeço.


A canalha globalista é que está a destruir toda a economia, estão a formatar o ser humano para ser apenas um carneiro consumista.

No globalismo e federalismo nunguém consegue controlar nada, vive tudo numa lógica de predadorismo e quem sai a vencer são sempre os grandes grupos económicos e ligados umbilicalmente á banca. O pequeno produtor morre. Gostam disto?
Porra!!!!
É de bradar aos ceus, as pessoas verem o que está a acontecer e darem a receita de aumentar mais a dose do veneno que nos está a destruir.

joão viegas disse...

Ola de novo,

E essa coisa dos "burocratas" e dos "eurocratas" também esta um bocadinho mal contada.

1. Se ha burocratas com algum poder (quase nenhum, por sinal), isto deve-se primariamente ao facto de não termos conseguido levar para a frente as transferências de soberania que implica a Europa politica, contra o que teria sido de bom senso e, infelizmente, graças à cumplicidade de alguma esquerda. Portanto os burocratas que v. odeiam deixarão de la estar (ou, melhor, de dar a cara no lugar dos politicos hipocritas que v. escolhem) no dia em que a Europa como projecto politico voltar a existir... Até la, terão "burocratas" oferecidos em holocausto à vossa raiva como se eles tivessem poderes, mas as decisões continuarão a ser tomadas, de maneira concertada... pelos vossos representantes eleitos a nivel nacional ! Ha alguma norma europeia que tenha sido aprovada sem o assentimento (e muitas vezes o voto) dos governantes que o povo português elegeu ? Houve eleições legislativas em Portugal que tivessem tido como resultado dar uma maioria a partidos anti-europeistas ? Se houve escapou-me. Portanto, tenho muita pena, mas os burocratas não estão la em consequência de uma conspiração do capital : estão la porque v. querem, e apenas por la permanecerão enquanto v. quiserem !

2. E, peço perdão, mas eu também acho que esta raiva anti-burocratica ja cheira mal. O "culpado" dos impostos, não é o funcionario que os cobra, é a lei que instituiu o imposto. Ou seja : és tu, meu caro camarada-cidadão. Da mesma forma, o culpado de haver especulação bancaria, não é o engravatado que te atende no banco, nem sequer o acionista que se aproveita da situação, és tu de novo, camarada-cidadão, que não consegues propôr, e muitos menos ainda fazer votar, uma regulamentação que impeça, ou pelo menos diminua os efeitos perversos da especulação. E sabes porque não consegues ? Porque, em determinadas situações, os empréstimos te dão (ou te deram) um jeitão...

3. Queres que te diga de onde te vem a tua raiva contra os "burocratas" ? Vem do facto de ganhares hoje consciência de que o capital não esteve à tua espera para construir a Europa economica, que esta ai ja ha uma largas décadas, e que agora te arrependes de não ter sabido dizer mais alto que ela devia ter sido acompanhada por uma Europa politica. Mas ainda vais muito a tempo ! Porque por muito que te encham a cabeça com imbecilidades, a economia europeia (ou outra) não funciona sem ti, de maneira magica e desvairada. A economia funciona a partir do valor que crias com o teu trabalho. Isto devia dar-te direitos, e se fôrmos ver até tos da. Mas para que queres tu direitos, quando é muito mais apetecivel um bastão com que malhar num preto ou num "burocrata" qualquer ?

4. Mas receio estar a ser injusto, porque tu "apenas" queres, no fundo, ter mão no teu destino. Pois usa a mão com discernimento, em vez de abrires dela em beneficio de charlatões aprendizes de feiticieros ! Bradas tanto contra o "burocrata" que te vai ao bolso (dizes tu) que nem te viras para constatar quem, ao certo, é que te esta a...

Vou parar por aqui porque acho que não tenho mais espaço (e também porque estou a ser excessivo, deliberadamente excessivo).

Abraços a todos

zeca marreca disse...

A visão explanada por esta "esquerda germanofilia imperialista", em opisição à "esquerda nacionalista potenciadora do fascismo" é, no mínimo, bastante arriscada, e carente de um apofundamento na sua essência em vez de assentar na mera repulsa, negação e crítica à posição dos que defendem a irreformabilidade/inviabilidade da Europa...

Pelos argumentos apresentados podemos concluir que a manutenção do império Austro-Hungaro ou mesmo o sucesso do 3º Reich seriam mais profícuos para a luta e emancipação dos trabalhadores (transerência de tecnologia, eliminação das antagonias nacionalistas entre trabalhadores) do que a sua falência/derrota, em muito conduzidas por sentimentos patrioticos... E isso é um passo muito arriscado...

João Valente Aguiar disse...

Zeca Marreca,

ou você não leu o texto ou então não sei que lhe diga.
Se o Império Austro-Húngaro e a Alemanha nazi se mobilizaram para a guerra numa base de fervor nacionalista, como é que você consegue virar o bico ao prego e colar esses exemplos no campo do internacionalismo??

João Valente Aguiar disse...

João Viegas,

os seus comentários são sempre preciosos e, concorde-se ou não com eles (e eu concordo), são sempre estimulantes para a discussão de um assunto absolutamente crucial.

Um abraço!

zeca marreca disse...

"Se o Império Austro-Húngaro e a Alemanha nazi se mobilizaram para a guerra numa base de fervor nacionalista,"

Está a falar do impagavel soldado Svejk, leal subdito Boémio do Imperador Franz Joseph, ou do "nacionalista germânico" Vlasov,, personagem cuja biografia internacionalista e combate aos nacionalistas fascistas do seu próprio país, em favor da união internacional entre trabalhadores mundiais, e com bem menos custos para os trabalhadores e o PIB soviéticos (qual preocupação de João Miranda), certamente que merece, pelo menos uma menção dos adeptos do internacionalismo europeista.

É que isso de desqualificar 50 anos de império austro-hungaro, e as tensões nacionais nele existentes, pela mobilização para a guerra nacionalista de 1914(que ainda por cima é historicamente incorreta, se compararmos, p. ex. a preparação/gastos militares de vienna com os restantes "concorrentes"), bem como reduzir toda a dinâmica nos anos 30 e 40 a questinculas nacionalistas, chamando o interlucoutor de idiota, apenas porque este, educadamente têm a distinta lata de propor uma analogia de uma união europeia germano-centrica do ponto de vista económico-político, com a história recente de impérios germano-centricos politico-económicos, é dose!

Acho piada aos que conseguem vêr a emergência do fascismo em todos aqueles que defendem os riscos do europeismo e não vêem as semelhanças entre aquilo em que a UE se está a transformar e as dinâmicas internas de uma potência imperial... E nem discutem, porque quem põe tal questão certamente que será um idiota avençado do PC, os tais fascistas nacionalistas...

Cumprimentos,

PP disse...

Também é muito interessante a defesa que o Viegas faz dos "burocratas" que só existem devido desresponsabilização do povo, quanto à integração política da UE. Mas ficamos sem perceber a contradição: ou não votamos em partidos euro-cepticos, e como tal a UE deveria estar a cnstruir-se como unidade política a todo o vapor ou então não sei.

mas vale sempre a pena recordadar que as populações, apesar de votarem em partidos "da construção europeia", essencialmente porque as legislativas nacionais centram-se noutros asectos ignorando olimpicamente a consolidação do "império" das poucas vezes que foram chamados a pronunciar-se sobre a edificação da UE, normalmente chumbaram a dita,o que levou a que os "mladosos burocratas que só existem porque sim" decidissem não mais contar com o plebiscito popular, que isto da democracia é tramado se o resultado não for o desejado...

Agora o ódio aos burocratas, não é um ódio pessoal ao desgraçado do cobrador de impostos, provavelmente explorado e mal pago, é algo mais simbólico, é o desprezo que os indianos tinham pela administração do império britânico, fossem os burocratas ingleses ou nativos, é o desprezo pelo domínio colonial, pelo Império...

João Valente Aguiar disse...

Zeca Marreca,

claro que o PCP não é fascista, nem eu nunca disse isso. Há quem ande para aí na blogosfera a deturpar o que escrevi sobre o assunto, quando o que eu digo é que, em Portugal, quem está a jogar a cartada nacionalista é o PC. Carta essa que se ganhar a partida originará uma situação que provavelmente poderia escapar ao controlo do PCP e até o engolir. Aliás, eu digo muito explicitamente num dos meus posts abaixo, que o perigo de uma situação de eliminação física da esquerda (toda ela, da nacionalista à internacionalista) como a que sucedeu no Chile ou na Indonésia é uma forte possibilidade num contexto de implosão do euro... Alguns parolos que escreveram sobre mim noutros locais, acham que o que aqui escrevo é sobre o PCP. Pelo contrário, o PCP é irrelevante no cenário muito mais vasto de forças no cenário mundial. No caso português, sim tem a sua importância e o seu perigo, pois está a contribuir para uma situação que, aí sim, ninguém poderá controlar e acabemos todos a partilhar o mesmo destino trágico...

Sobre a UE e o fascismo. Enquanto as pessoas acharem que o fascismo é apenas a utilização de repressão estão a confundir tudo. A URSS também reprimiu e nunca foi fascista... O fascismo é um nacionalismo de base proletária que se mobiliza a partir da desorganização da classe trabalhadora e que utiliza temas provenientes da esquerda para remodelar as hierarquias existentes partir da direita mais extrema. O fascismo nasce a partir do aproveitamento das ambiguidades que o movimento operário e as suas organizações foram desenvolvendo em torno destas questões da nação, da finança, etc. Tudo isso aproveitado pela extrema-direita redundou nas tragédias que sabemos.

Por outro lado, o nazismo não tem nada a ver com a situação actual. Até porque é um fascismo de base rácica acima da base nacionalista, o que é ainda mais grave. E é mais grave porque o desenvolvimento do regime nazi desaguou na aplicação de um programa rácico que tinha dois grandes objectivos: 1) eliminar totalmente o judaísmo, desde o judaísmo étnico ao que eles chamavam de judaísmo espiritual (onde se incluía o marxismo, a social-democracia, etc.); 2) escravizar em coisas absolutamente hediondas e inumanas os eslavos. Escravização essa que em nada tinha a ver com uma dinâmica económica mas que apenas visava ir exterminando vidas humanas aos poucos, e em condições que em nada beneficiavam qualquer sector económico. Querer comparar as vidas de precariedade e de sofrimento que temos hoje (e que são suficientemente terríveis) com as vidas (ou será melhor dizer mortes?) que os nazis causaram nos campos de concentração, é não ter noção absolutamente nenhuma do que foi o nacional-socialismo.

joão viegas disse...

Ola,

A questão do PP é pertinente e importante.

A Europa politica e a democratização das instituições europeias, infelizmente, não vai cair do céu. Entre outras razões porque a direita europeia não tem pressa nenhuma. Para ela, a Europa economica, espaço de livre circulação de pessoas, bens e capitais, esta relativamente bem como esta.

Portanto quem pode ver urgência na aceleração do processo é a esquerda, sabendo que o proximo passo, o de começar a harmonizar politicas fiscais, sociais, etc., é precisamente aquele em que o povo vai perceber que o centro de decisão se situa a nivel europeu e que é a esse nivel que nos devemos organizar.

Contrariamente à direita, a esquerda não pode aceitar a situação como esta : um espaço economico europeu permeavel aos lobbies economicos, onde a grande massa dos trabalhadores e dos contribuintes não tem a palavra, vendo-se confinada numa constelação de campeonatos distritais.

A questão é saber em que sentido a esquerda deve bater-se : por instituições democraticas que devolvam a palavra aos trabalhadores (ou mais simplesmente aos cidadãos) nos assuntos que interessam mesmo, que são os europeus (em nome dos principios democraticos que ja estão nos tratados, como de resto sempre estiveram), ou no sentido de se destruir qualquer possibilidade de democracia europeia, vivendo na ilusão de que ainda podemos preservar os nossos interesses e os nossos direitos a nivel nacional ?

Eu não digo que não haja alternativa ao federalismo. Ha alternativa ! Por isso mesmo é que a esquerda não se pode enganar...

Quanto à contradição de votar em responsaveis que se dizem europeistas mas que são os primeiros a fazer como se os problemas europeus não fossem com eles e como se o que se passa em Bruxelas ocorresse noutra constelação, o que é que eu posso dizer ? Se as pessoas estivessem mais atentas ao que fazem os responsaveis politicos a nivel europeu, em vez de se apaixonar por questões de merda como sejam saber se tal ministro tem ou não tem um curso superior, se calhar isto punha-se mais facilmente nos trilhos.

Mas é claro que existe a possibilidade de eu me estar a enganar redondamente, e de a construção europeia não passar de uma tentativa maquiavélica de reconstituir o império Austro-Hungaro. Vou voltar a ler os tratados europeus para ver se não existe uma clausula bem escondida sobre a teoria do "espaço vital" que tenha passado sistematicamente despecebida desde 1957...

Boas



zeca marreca disse...

Caro JVA,
A sua polémica sobre o PCP “nacionalista” (apesar de um texto sobre a CGTP a distribuir comida e a servir de aglutinador politico-económico da nação) ser um gérmen, um potenciador do fascsismo, para já interessa-me pouco, pelo menos nesses termos. O meu comentário foi mais em resposta pela desqualificação automática que já vi, em comentários deste blog a posições contrárias, das apresentadas (“avençados do PC a espumarem a sua raiva”, ou equivalente). Mas adiante.

Acho que também ninguém afirmou (sem ser em excessos de retórica) que a EU era fascista, muito menos nazi. E estamos de acordo na caracterização, quer do fascismo, quer do nazismo, em sentido lato, até mesmo no facto de beberem nas mesmas fontes proletárias parte da sua legitimação, embora eu ache a realidade histórica um bocado mais complexa do que o que você apresenta. Não é isso que se coloca.
O que não consigo perceber são 2 coisas, pelo menos na componente política (a sua concordância com o arauto do liberalismo económico fica para outra altura):
Ao afirmar-se que a saída da EU, é uma posição nacionalista e “potêncialmente” embrionária do fascismo, promotora do ódio entre trabalhadores e inimiga do nacionalismo, isso também se aplica ao milhares de movimentos de libertação ao longo da história?
Ou a criação da Checoslovaquia de Mazaryk (por acaso uma das democracias “burguesas” mais “dignas” á epoca), não iria empurrar os trabalhadores checoslovacos para um nacionalismo contra os trabalhadores austriacos e hungaros? Ainda por cima depois de séculos de opressão (politica, militar, económica, linguística etc.) Não era mais fácil, aproveitando as transferências de tecnologia, e a união dos trabalhadores ignorar o “nacionalismo”/patriotismo e reformar o império, exigindo os trabalhadores, dentro do império uma transformação do sistema???
(daí a referência ao império austro-hungaro no 1º comentário)

A mesma pergunta se pode colocar a todas as potência imperias ou coloniais. Não deveriam os trabalhadores, das colónias portuguesas, pugnar por uma transformação dentro do “império”.
Haverá pior semente para o fascismo e o ódio entre trabalhadores do que trabalhadores moçambicanos matarem trabalhadores e famílias portuguesas, e vice versa? Mas então todos os movimentos anti-imperialistas são potenciadores de fascismo porque inimigos fidigais ao internacionalismo, porque criam competição?

(a segunda fica para depois…)

P.S. O comentário das 16:25 tb é meu apesar de ser um perfil que nunca usei e não me lembro de ter criado, maravilhas do mundo moderno)

Anónimo disse...

Gostaria de saber como é que sem o reforço das esquerdas nacionais no plano europeu se constroi uma europa de esquerda?

Esta conversa das virtudes do federalismo é a repetição da ideia do PS, para o qual a esperança está num federalismo solidário. Vemos no entanto como anda a solidariedade europeia quando percebemos o quanto se está a cagar para a detrioração da economia e qualidade de vida dos portugueses, gregos, cipriotas, etc.

Se a Europa DEVE seguir um determinado caminho, DEVE adoptar uma determinada natureza então, se DEVE, é porque não tem essa natureza, essa nova qualidade em acto: trata-se portanto de passar do não-ser ao ser. A insistência no discurso do DEVER, no entanto, apenas repete o problema da passagem do não-ser ao ser. O que falta no vosso discurso é sair da mera insistência neste discurso do DEVER.

Mas como vocês recusam a acção política no plano nacional, como recusam o país como o terreno prioritrário da luta de esquerda não vos resta senão andar a mandar postais sobre o dever-ser não se sabe bem para onde e para quem - acho que 'para todos em geral e ninguém em particular', ou seja, o destinatário perfeito para que nada se faça.

Por isso insisto que você é um homem da situação, que nada tem a oferecer do que o que já está em curso; que você apresente as suas ideias como se alguma novidade fossem indica, a meu ver, que na melhor das hipóteses você não percebe onde está (ou, quem sabe, você possa ser simpplesmente um adepto do PS a tentar dar a volta ao pessoal).

João.

João Valente Aguiar disse...

João,

quem "inventou" a luta internacional foram os trabalhadores pelos seus próprios meios e espontaneamente... Claro que existem sempre elementos mais conscientes e mais resolutos mas não são eles que determinam as grandes vagas de lutas sociais.

Anónimo disse...

JVA, o que quer dizer "espontaneamente"?

A meu ver implica que não pressupõe a intervenção da vontade do sujeito empírico. Espontâneo é o que não só é independente da auto-consciência empírica como o que a torna possível. Ou seja, o que é espontâneo ou já aí e sempre está ou não é espontâneo e tem que ser gerado.

João.

menvp disse...

A FIRMEZA DO CONTRIBUINTE ALEMÃO (não cedendo à pressão vinda da imprensa - marioneta da superclasse) É FUNDAMENTAL PARA SALVAR A EUROPA
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-> Depois de andar a 'cavar-buracos' um pouco por todo o lado (nas finanças públicas, na banca)... a superclasse (alta finança - capital global) quer pôr o contribuinte a tapar os buracos por si cavados!
-> Depois de 'cozinhar' o caos... a superclasse aparece com um discurso, de certa forma, já esperado!... Exemplo: veja-se a conversa do mega-financeiro George Soros: «é preciso um Ministério das Finanças europeu, com poder para decretar impostos e para emitir dívida».
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-> O discurso anti-austeridade que circula por aí... pressupõe a existência de alguém que vai pagar/suportar o deficit... e já existe um alvo escolhido: o contribuinte alemão.
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-> O discurso anti-alemão que reina nos media internacionais (nota: são controlados pela superclasse) é uma consequência óbvia: depois de 'cavar-buracos' e saquear contribuintes em vários países... a superclasse quer saquear o contribuinte alemão.
-> A firmeza do contribuinte alemão (não cedendo à pressão vinda da imprensa - marioneta da superclasse) é fundamental para salvar a Europa.
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Uma nota: contrariando os interesses da superclasse, deve existir uma Banca pública forte... por motivos óbvios: É MUITO MAIS FÁCIL DE CONTROLAR um ou outro abuso de um gestor público... do que... os buracos (sem fim à vista) 'cavados' pela alta-finança (capital global).
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P.S.
A superclasse pretende 'cozinhar' as condições que são do seu interesse:
- privatização de bens estratégicos: combustíveis... electricidade... água...
- caos financeiro...
- implosão de identidades autóctones...
- forças militares e militarizadas mercenárias...
resumindo: estão a ser criadas as condições para uma Nova Ordem a seguir ao caos - uma Ordem Mercenária: um Neofeudalismo.
{uma nota: anda por aí muito político - marioneta da superclasse - cujo trabalhinho é 'cozinhar' as condições que são do interesse da superclasse}
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P.S.2.
Para 'cortar' com as regras da superclasse (alta finança - capital global), há que:
1-> retirar poderes aos políticos (um sistema menos permeável a lobbys), e implementar uma maior supervisão feita pelo contribuinte... ver blog: "FIM-DA-CIDADANIA-INFANTIL" ;.
2-> garantir o Direito à Sobrevivência das Identidades Autóctones... ou seja: não sejamos uns 'parvinhos-à-Sérvia' (vide Kosovo), há que mobilizar aqueles nativos que possuem disponibilidade emocional para abraçar um projecto de Luta pela Sobrevivência [nota: os 'globalization-lovers' que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa]... ver blog "SEPARATISMO-50-50!".

João Valente Aguiar disse...

João,

espontaneamente significa que não foi o Lénine que criou os sovietes ou que foi um qualquer organismo central de funcionários que decidiu colocar em marcha milhões de trabalhadores pela transformação da sociedade... Isso não exclui a existência de organizações políticas próprias, mas muito mais importantes do que elas são as comissões de trabalhadores de base, os comités de fábrica, conselhos, etc. Ou seja, organismos de base criados e dinamizados pelos trabalhadores. Evidentemente, estes só se expandem se a dinâmica de base ultrapassar as tendências para a concentração de decisões nas mãos de uns poucos, por muito genuinamente revolucionários que estes sejam. Mas aqui a dinâmica é dupla mas tem geralmente uma sequência: o movimento só burocratiza porque, por qualquer motivo, a base deixou de conseguir expandir as novas relações sociais solidárias; a burocratização subsequente não é portanto uma usurpação do poder mas decorre do recuo prévio das lutas operárias. Essa burocratização vai, contudo, ajudar a desacelerar um processo que já estava em perda.

Anónimo disse...

JVA,

Ok. Não estou de acordo com o uso do termo espontaneidade para a dimensão que refere porque esconde aquilo que é o acto político por excelência - o auto-reconhecimento de particulares numa substância ética comum, no caso as organizações de trabalhadores que refere. Não me parece que isto seja espontâneo. Ou, pode parecer espontâneo mas não é.

Prefiro contudo estes termos em que coloca a questão do que andar em torno da quimera do mundo sem países, que, sinceramente, me parece do maior interesse para o que é mais móvel: o grande capital.

A questão da burocratização, como você lhe chama, pertence aos próprios impasses dos intervenientes, os trabalhadores:

- ou os trabalhadores são funcionários de empresas e nas horas vagas são activistas políticos; ou os trabalhadores abandonam as fábrias e passam para a acção directa generalizada; ou os trabalhadores nomeiam representantes políticos.

Qualquer das três hipóteses precisa de organização, mesmo a primeira hipótese que pode parecer a mais equilibrada não dispensa alguma centralização e superestruturação - isto se quiser ser mais do que tertúlias aos fim-de-semana.

Em todo o caso, pessoalmente, não tenho razões para me opor ao que você subscreve aqui desde que isso não queira ao mesmo tempo dizer que não há lugar para organização política a nível regional e nacional.

Até porque se a tendência dos trabalhadores for para suscitar representação política não há motivo para nos opormos a esta tendência mas, a meu ver, encontrar a melhor maneira de actualizar as potencialidades que os trabalhadores acreditam que a representatividade possui - e que são a razão porque a suscitam.

Isto, a meu ver, seria o trabalho fundamental para uma ciência política comunista que, naturalmente, pede um contacto próximo e permanente com os trabalhadores (e não só com os seus representantes).

João.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João Viegas,
sublinho esta sua passagem, que põe uma questão fundamental e incontornável:

"A questão é saber em que sentido a esquerda deve bater-se : por instituições democraticas que devolvam a palavra aos trabalhadores (ou mais simplesmente aos cidadãos) nos assuntos que interessam mesmo, que são os europeus (em nome dos principios democraticos que ja estão nos tratados, como de resto sempre estiveram), ou no sentido de se destruir qualquer possibilidade de democracia europeia, vivendo na ilusão de que ainda podemos preservar os nossos interesses e os nossos direitos a nivel nacional ?"

Trata-se, com efeito, de saber que terreno de batalha e que objectivos nesse terreno defendemos. Dizer que, como não temos força para mudar as relações de força na Europa - ou, pior, que a natureza desta exclui qualquer outra saída que não seja a sua "implosão" ou destruição -, temos de nos bater a nível nacional e tentar recuperar a soberania é um absurdo completo. A verdade é que se a actual UE não existisse - e só muito insuficientemente, de facto, existe -, uma das tarefas decorrentes de qualquer perspectiva de democratização e de transformação das relações de força em benefício dos cidadãos comuns passaria pela reivindicação e defesa de uma integração orçamental, fiscal e política - contra as froneiras nacionais e o isolamento e a divisão das forças democráticas através desse espartilho. Não defendemos - o JVA, o João Viegas e eu, por exemplo - o federalismo por ser inevitável, mas porque é uma via de democratização do regime das lutas e da acção política tendo em vista a democratização das condições de existência dos cidadãos comuns na Europa e em todo o mundo. Mais Europa para mais democracia - tanto na Europa como no mundo.

Abraço

msp

Libertario disse...

Cento e cinquenta anos depois da criação na Europa da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) e de Eugène Pottier ter composto A Internacional, ainda existe uma esquerda nacionalista...
Ignorância? Falta de memória? O capitalismo venceu-nos até no campo das ideias?


L'INTERNATIONALE

Debout! l'âme du prolétaire!
Travailleurs groupons nous enfin.
Debout! les damnés de la terre!
Debout! les forçats de la faim!
Pour vaincre la misère et l'ombre.
Foule esclave, debout! debout!
C'est nous le droit, c'est nous le nombre
Nous qui n'étions rien, soyons tout.

C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.
C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.

Il n'est pas de sauveurs suprêmes:
Ni Dieu, ni César, ni tribun,
Producteurs, sauvons-nous nous-mêmes!
Travaillons au Salut Commun.
Pour que le voleur rende gorge,
Pour tirer l'esprit du cachot,
Allumons notre grande forge,
Battons le fer quand il est chaud!

C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.
C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.

Les rois nous soûlaient de fumées,
Paix entre nous, guerre aux tyrans!
Appliquons la grève aux armées,
Crosse en l'air et rompons les rangs!
Bandit, prince, exploiteur ou prêtre
Qui vit de l'homme est criminel;
Notre ennemi c'est notre maître
Voilà le mot d'ordre éternel.

C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.
C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.

L'engrenage encore va nous tordre;
Le Capital est triomphant;
La mitrailleuse fait de l'ordre
En hachant la femme et l'enfant.
L'Usure folle en ses colères,
Sur nos cadavres calcinés,
Soudé à la grève des salaires
La grève de assassinés.

C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.
C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.

Ouvriers, paysans, nous sommes
Le grand parti des travailleurs;
La terre n'appartient qu'aux hommes,
L'oisif ira loger ailleurs.
Combien de nos chairs se repaissent!
Si les corbeaux, si les vautours,
Un de ces matins, disparaissent...
Le terre tournera toujours!

C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.
C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.

Qu'enfin le passé s'engloutisse!
Qu'un genre humain transfiguré
Sous le ciel clair de la justice
Mûrisse avec l'épi doré!
Ne crains plus les nids de chenilles
Qui gâtaient l'arbre et ses produits.
Travail étends sur nos familles
Tes rameaux tout rouges de fruits.

C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.
C'est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L'Internationale
Sera le genre humain.

Anónimo disse...

Libertário,

Quem quiser ser derrotado à partida pela fetichização dos trabalhadores que, portanto, são supostos não ter pátria, pode seguir a via que propõe. Talvez você possa sacar esses trabalhadores sem pátria do interior da sua bunda porque eu não os vejo em mais lado nenhum.

João.

Anónimo disse...

Convém considerar também que os nacionalismos se exacerbam quando os povos percebem muita interferência externa/estrangeira na sua vida. Por isso, mais federalismo pode muito bem significar maior nacionalismo.

Vocês, porém, concerteza que terão um conjunto de sermões para ir pregar aos povos caso os nacionalismos voltem em força a partir de dentro da própria UE e de uma União Federal, concerteza irão pregar sobre como NÃO SE DEVE ceder ao nacionalismo (isto sem contudo levar em conta o papel que o próprio federalismo possa vir ter para a emergência de nacionalismos extremos; basta pensar em burocratas europeus a passar constantemente sentenças sobre a vida dos povos)

João.

João Valente Aguiar disse...

João,

não há ingerência externa. Há a concretização da exploração de grupos transnacionais e de bancos sobre os trabalhadores alemães, franceses, portugueses, etc. etc. Que os trabalhadores percebam os ataques de que são alvo nos salários e no emprego como se fosse igualmente um ataque à pátria, isso é uma vitória dos capitalistas que conseguem fragmentar os trabalhadores e que conseguem que estes se vejam primeiro como elementos de uma comunidade nacional transclassista e só depois como trabalhadores.

Anónimo disse...

JVA,

Não se trata de um ataque à pátria no sentido místico do termo mas no sentido político, ou seja, a pátria é o campo de realização política mais próxima dos trabalhadores pela simples razão de ser o campo onde vivem os seus familiares, os seus amigos, os que falam a mesma língua, onde jogam os seus clubes de futebol, a que é representada pela Selecção no campeonato do mundo ou da Europa. São estas coisas, esta rede de pequenas coisas se quiser que concretizam a identificação com o país. Parece-me de uma extrema violência simbólica querer dissolver esta rede de pertenças que, de facto, anima a vida das pessoas.

João.

joão viegas disse...

Mas meu caro João,

O nacionalismo revolucionario jacobino, esse mesmo de que você se reivindica hoje, e que se enraiza na revolução francesa, foi ja um ataque à "patria" do trabalhador, ou seja à pequena aldeia situada no pais onde o trabalhador nasceu, onde ele se acostumou a ir à missa na igreja frequentada pelos seus pais, e à terra que o trabalhador e os seus antepassados regaram com o seu suor, sob a alçada e em beneficio do mesmo senhor. No fundo, foi precisamente contra isso que combateram os padres contra-revolucionarios, na Vendeia, na Bretanha, etc.

No mundo de hoje, onde ha que reconhecer que o trabalhador tem mais vantagens e mais direitos do que ha uns séculos atras, sera mesmo prudente depositar as esperanças da esquerda nas pistolas da Maria da Fonte ?

Pessoalmente, tenho duvidas...

Boas

Miguel Serras Pereira disse...

Brilhante, caro João Viegas.

Abraço

msp

Anónimo disse...

Nunca vi uma revolução que deixasse tudo na mesma, que não fosse ao mesmo tempo uma desorganização de uma ordem e a disputa por uma outra ordem: o caso da revolução francesa foi esse, a nova ordem não aparece linearmente ela começa por ser partida a própria discussão e confronto entre partidos diversos.

Ou seja, qualquer revolução remete para o imprevisível, nunca nada está garantido.

A sua revolução é que, por outro lado, parece ser a única que deixará tudo como está. Eu não vejo organizações de trabalhadores a marchar nas ruas pelo federalismo, não vejo os povos na rua a lutar pelo federalismo, vejo apenas alguns engravatados a fazê-lo na televisão. O federalismo se vier será por iniciativa das elites, é entre elas que se fala de federalismo. Repito: não vejo manifestações populares pelo federalismo, nem em Portugal nem em lado nenhum.

João.