17/03/13

Chipre e Sarajevo

O caso do "resgate" de Chipre demonstra que o autesritarismo instalado nas instâncias de decisão superiores da zona euro e da UE aposta numa política cúmplice das forças soberanistas e nacionalistas que, pelo seu lado, proclamam sem disfarce que o seu objectivo é a implosão e a desagregação da UE. Não é que a ideia de que a federação e a democratização na Europa deva por isso ser abandonada por todos aqueles para quem a cidadania plena e a luta contra as desigualdades e as relações de poder da economia política governante são a alternativa que vale a pena e a condição necessária da defesa e extensão das liberdades e direitos fundamentais secularmente conquistados. Mas, sem dúvida, as perspectivas tornam-se cada vez mais desastrosas e desprende-se delas uma aura insuportável de déjà vu. Temos todas as razões para recear — e cada vez menos tempo ou ocasião para agir — que os novos "limões amargos" de Chipre estejam para a desagregação da UE e os horizontes de militarização e ditadura que ela acarretará como Sarajevo esteve, fará para o ano cem anos, para a eclosão da Grande Guerra de 14-18 e tudo o que dela decorreu, ou continua a decorrer ainda. Resta, apesar de tudo, acrescentar que não é uma fatalidade, e que, ainda que venha a efectivar-se, esse desfecho não terá sido fatal, mas feito pela acção de uns e a inacção ou cegueira, ou inacção e cegueira, de muito mais outros.

3 comentários:

João Valente Aguiar disse...

Caríssimo,

se a zona euro colapsa isso decorrerá da incapacidade das instituições europeias em concertarem posições e em ultrapassarem os nacionalismos existentes. Nacionalismos que no caso de um colapso da zona euro irão aumentar com uma intensidade proporcional à queda livre da economia. Nacionalismos que, após um custo humano incalculável, impedirão por um longo tempo qualquer tipo de solidariedade internacional entre trabalhadores... Para quem quiser ter uma noção aproximada do que seria uma europa desagregada seria de bom tom ler o capítulo 3 da parte 2 do "Labirintos do fascismo". A somar ao delírio austeritário e nacionalista de sectores das classes dominantes têm-se somado o delírio e a estupidez pura em grande parte da esquerda que acha que da desagregação da zona euro algo de positivo advirá para a maioria da população... Será que o metacapitalismo (ou escravismo de estado), que aquele capítulo do livro do João Bernardo aborda, já existe inconscientemente, enquanto estrutura mental, na cabeça dos líderes nacionalistas? Espero bem que não....

Um abraço!

Anónimo disse...

Todos os Estados federados que não estão minados por conflitos étnicos são, para os seus povos, os seus países. Nos EUA temos pessoas que, por exemplo, se identificam como nova-iorquinos e americanos; em Portugal temos, por exemplo também, pessoas que se identificam simultaneamente como algarvias e portuguesas. O primeiro é uma federação o segundo não mas a ideia não diverge muito de um para outro quanto a esta questão.

Curiosamente até, a direita americana mais radical, a que mais defende a autonomia dos Estados em relação a Washington é a que mais fala dos "true americans" (falo do Tea Party).

O exemplo norte-americano, do FEDERALISMO norte-americano, não é de todo um exemplo de dissolução da ideia de país e de nacionalidade mas um dos exemplos de maior afirmação de pertença nacional:

http://www.youtube.com/watch?v=P53Gqrs7EEc

João.

menvp disse...

---> Veja-se quem andou por aí a apregoar aos sete ventos... que o FEDERALISMO (nota: implosão de soberanias) era a solução necessária... para que a Europa não caia num caos económico: FOI PRECISAMENTE o pessoal que, no passado, andou a apregoar «há mais vida para além do deficit»!
Este pessoal [marionetas ao serviço da superclasse (alta finança - capital global)] sabia, muito bem, que contrair endividamento... esperando um crescimento económico perpétuo... era uma RATOEIRA!...
.
-> Anda por aí muito político cujo trabalhinho é 'cozinhar' as condições que são do interesse da superclasse (alta finança - capital global).
- privatização de bens estratégicos: combustíveis... electricidade... água...
- caos financeiro...
- implosão de identidades autóctones...
- forças militares e militarizadas mercenárias...
resumindo: estão a ser criadas as condições para uma Nova Ordem a seguir ao caos (*) - uma Ordem Mercenária: um Neofeudalismo!
.
.
(*) Países em vias de 'Detroitização'... pode-se ver, por exemplo, «aqui» o "paraíso" que é Detroit.