23/06/10

Por falar em monárquicos direitosos

21 comentários:

Anónimo disse...

Se, porventura, essa for para mim,ó Ricardo Noronha, nem sabe quantas ofensas me faz.

Tantas quantas as palavras benévolas que em toda a vida escrevi sobre a Coreia do Norte: zero, nada, nicles.

Carlos Vidal disse...

Gráfica e poeticamente, não acho nada, mas mesmo nada mau.

Ricardo Noronha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Noronha disse...

Pois Vítor, ainda estou para perceber o que você pensa ao certo sobre a Coreia do Norte. Por enquanto ainda só sei o que você pensa sobre o que certas pessoas pensam sobre a Coreia do Norte.
Um filho sucedeu ao pai no governo do país. Para um comunista - que imagino republicano - mecanismos dinásticos desta natureza não devem merecer grandes simpatias. Partilho consigo as minhas inquietações: tenho dúvidas de que a Coreia do Norte seja uma sociedade socialista. Mas esclareço que não o queria ofender. Nem saberia como.
Carlos pá, foi mesmo a pensar em ti que escolhi a imagem. Há já algum tempo que não vinhas aqui comentar e eu já temia pela tua saúde. Espero que o querido líder te transmita uma longa vida e consciência de classe. À falta de uma refeição quente...

Carlos Vidal disse...

Uma refeição quente...
Há quanto tempo não vejo uma coisa dessas...
E tal não é nada, mas mesmo nada mau.

Anónimo disse...

Ricardo Noronha:

Dada a sua curiosidade sobre o meu pensamento sobre a Coreia do Norte, lamento não o satisfazer plenamente mas sempre lhe posso dizer que me identifico plenamente com uma afirmação do PCP no seu último Congresso e que tem sido sempre desavergonhadamente omitida, esquecida ou desvalorizada.

Trata-se, nem mais menos, daquela em que, em relação a um conjunto de experiências (em que a Coreia do Norte é integrada), se fala «das inquietações e discordâncias, POR VEZES DE PRINCIPIO, que suscitam à luz das concepções programáticas próprias do Partido».

Ricardo Noronha disse...

Desculpará Vítor, mas essa formulação diz muito pouco. Quais são exactamente essas "inquietações e discordâncias"?
Se a Coreia do Norte merece uma referência na moção do congresso, é um pouco estranho que não haja mais a dizer do que isso.
Mas peço a sua ajuda para encontrar o texto da resolução política do último congresso, on-line, para ler com mais atenção e formar uma opinião mais informada. Para que as vias sejam efectivamente de facto.

miguel disse...

Resolução Política do XVIII Congresso do PCP:

Importante realidade do quadro internacional, nomeadamente pelo seu papel de resistência à «nova ordem» imperialista, são os países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista - Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia. Com percursos diversos, experiências históricas próprias, evoluções distintas, problemas e contradições inerentes ao processo de transformação social num quadro de relações capitalistas dominantes, estes países estão sujeitos pelo imperialismo a uma intensa campanha de pressões económicas, ameaças militares e operações de desestabilização e intoxicação mediática que encerram graves perigos para a segurança internacional e que, a vingarem, significariam um grave retrocesso na luta libertadora. Independentemente das avaliações diferenciadas em relação ao caminho e às características destes processos - a exigir uma permanente e cuidada observação e análise - e das inquietações e discordâncias, por vezes de princípio, que suscitam à luz das concepções programáticas próprias do Partido, o PCP considera que não há vias únicas de transformação social e reafirma o inalienável direito destes países e dos seus povos, como de todos os povos do mundo, a decidir livremente sobre o seu próprio caminho. É esse o interesse da causa do progresso social e da paz em todo o mundo.

Carlos Vidal disse...

Cair sistematicamente em cima da Coreia do Norte, atacá-la racicamente como o faz o pobre Daniel oliveiresco, é sinal de desconforto vosso, daqueles que nada dizem sobre a pestilenta sociedade euro-norteamericana. Comam bem a massa que esculpirem.

Joana Lopes disse...

Por acaso, deu-me jeito um texto transcrito num destes comentários para escrever isto.

Ricardo Noronha disse...

Carlos, acho que digo e faço mais (muito mais) contra aquilo a que chamas "a pestilenta sociedade euro-norteamericana" (onde é que vais buscar estas formulações?) do que tu, ainda que não faça disso um argumento. Fica-te pelo Caravaggio e come bem.

Miguel Serras Pereira disse...

Camarada Joana,
já fui ao Brumas comentar o excelente post que aqui referes e aproveito para recomendar a sua leitura a todos os que por aqui passem.
Aproveito também - a fim de manter a cooperação entre os dois blogues - para repescar para aqui, adaptando-o, o comentário que pus no Brumas.

Quando escreves: "há cerca de um ano e meio, em assembleia magna de Congresso, o PCP não só elogiou alguns países porque considera que «definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista», esquecendo que, neles, direitos humanos básicos são sistematicamente desrespeitados (…)", etc., etc., estás a falar daquilo a que eu chamo o socialismo Humpty-Dumpty do PCP e dos partidos-irmãos.
Senão vejamos: porque é que uma monarquia de direito divino, porque é que a exploração desenfreada dos trabalhadores e a erosão dos seus direitos elementares de auto-defesa e associação, porque é que o combate contra a hegemonia dos imperialismos apresentada como justa causa da supressão das liberdades fundamentais, porque é que a falsificação da história e a calúnia sistemáticas, etc., etc., são práticas socialistas ou métodos, mais ou menos inspirados, da construção do socialismo? São-no porque o PCP, como Humpty-Dumpty, diz que socialismo é o que ele faz e o que ele diz, e diz que o que ele faz e diz é o socialismo. Arroga-se o poder de o fazer e dizer e visa estender esse poder e impô-lo aos outros - precisamente à semelhança do que se passa na RPC ou na Coreia do Norte.
Humpty-Dumpty, sem tirar nem pôr: "Quando uso uma palavra (…) ela significa exactamente aquilo que eu quero, nem mais nem menos". Porque "a questão é saber (…) quem vai ser o chefe".

Post-scriptum: O Vítor Dias, pelo seu lado, apresenta no seu blogue excelentes exemplos do discurso peculiar do socialismo Humpty-Dumpty. É o que vemos quando ao lê-lo descobrimos que para o VD aquilo a que chamamos um democrata chama-se um verme, uma monarquia absoluta chama-se uma experiência de construção do socialismo, enquanto a defesa de uma tirania exercida por uma fracção minoritária da sociedade sobre o conjunto dos cidadãos espoliados dessa condição passa a chamar-se defesa do "inalienável direito destes países e dos seus povos, como de todos os povos do mundo, a decidir livremente sobre o seu próprio caminho". QED.

Joana Lopes disse...

Miguel,
Estás a referir-te a algum post concreto de O T. das Cerejas? Fui lá agora e o último post tem as letras tão encavalitadas que nem consegui ler.

Joana Lopes disse...

Esqueci-me de dizer que estou a tentar que o V. Dias explique, no Brumas (porque já lá foi comentar), quais são as «discordâncias, por vezes de princípio» que ele e o PCP têm em relação à Coreia.

Carlos Vidal disse...

Achar que o "Caravaggio" e o trabalho em seu redor é politicamente "menos" ou "menor" que as actividades políticas, digamos, "directas", é revelador de alguém que tem pedras no lugar de miolos.

Ricardo Noronha disse...

Essa é uma inferência tua Carlos. Não foi isso que eu escrevi.
Alguém acha que os norte-coreanos podem "decidir livremente sobre o seu próprio caminho" e que o imperialismo é o único obstáculo a essa decisão? Cuidado com a maionese.

Carlos Vidal disse...

Dois pontos encerrando a conversa:
1. Dizer "eu fiz mais do que tu" politicamente, ou é ignorar centenas de trabalhos (textos, críticas, ensaios) que publiquei como crítica ou teoria de arte (do "Público" à "Lapiz" espanhola, etc.), ou é afirmar que isso "politicamente" é irrelevante, ignorando parvamente que uma posição estética é igualmente uma posição política.

2. Não defendo, nem tenho que atacar, a Coreia do Norte, país de que pouco sei e nunca visitei. Rejeito é - à abjecção - bocas racistas à Daniel Oliveira (gozando com a "fome" dos coreanos e outras merdas; qualquer dia temos o imbecil a contar anedotas de pretos; já faltou mais).

Tenho dito.

Miguel Serras Pereira disse...

Caríssimo camarada Ricardo,
não sabia que a publicação deste post surgira na sequência de uma iniciativa coordenada com o Daniel Oliverira.
Em contrapartida, sei que li num post do 5dias (http://5dias.net/2010/06/22/so-ha-legalidade-se-for-democratica-atencao-presidencia-espanhola/#comments), a seguinte troca de ideias:

"Comentário de EMS
Data: 23 de Junho de 2010, 0:22
Porque é que na cidade da foto de baixo [a capital norte-coreana] quase que não há gente nas ruas?
Estarão nas suas casas a almoçar e a ver a bola?
Comentário de Carlos Vidal
Data: 23 de Junho de 2010, 0:29
Estão a pensar, caro EMS. A pensar, actividade não lucrativa, como sabe.
Provavelmente, na segunda cidade pode pensar-se solitariamente, e na primeira cidade vende-se o produto (fetichizado) desse pensamento.
Ou, EMS, na sua linguagem, a primeira cidade é o “mundo”.
A segunda cidade, vive “de costas voltadas para o mundo”.
Não é uma escolha possível?
Não é permitida??"

E já tinha lido, no corpo do texto do mesmo post: "não percebo porque é que uma pessoa, um grupo de pessoas ou um país que se fechem ou isolem completamente do mundo têm de ser automática e consequentemente chacota e bobos da festa desse mesmo mundo, todo unido nessa causa. Democrática, naturalmente".

Claro que, depois, só tive de esperar que a assídua leitura a que me dedico dos clássicos da contra-revolução me sugerisse a seguinte pergunta: o autor do post achará que é, de facto, uma escolha, manifestando a liberdade dos norte-coreamos, o que faz com que "se fechem ou isolem completamente do mundo"? E como sabe que essa escolha não lhes é imposta pelo faraó e detentor de todos os direitos de disposição sobre a força de trabalho e a própria vida dos habitantes do país? Por fim, que divino emissário lhe terá dito que condições de vida semelhantes favorecem a actividade não-lucrativa do pensamento, cujos produtos, no entanto, nos é explicado que são vendidos, sob a forma de fetiches, nas capitais do imperialismo?

Abrç para ti

miguel sp

Ricardo Noronha disse...

Acho Miguel, que não há nem é suposto haver uma resposta a esse tipo de perguntas.
O Carlos está demasiado ocupado com as centenas de trabalhos (textos, críticas, ensaios) que publicou como crítica ou teoria de arte (do "Público" à "Lapiz" espanhola, etc.)
Estranhamente, todos esses contributos para o combate-político-que-também-é-estético foram publicados na comunicação social da pestilenta sociedade euro-norteamericana.
Mas Carlos, se uma posição estética é igualmente uma posição política, não se pode dizer que saibas pouco sobre a Coreia do Norte. Não será este quadro, com o grande líder encimando uma paisagem florida, politicamente revelador pela sua estética? Vá lá, satisfaz os nossos leitores e leva mais longe o teu combate. É esse o interesse da causa do progresso social e da paz em todo o mundo.

Carlos Vidal disse...

Não me digas que não tens centenas de textos e textinhos publicados (só na Unipop são uns mil, não?).
Ora, se não tens, problema, porra.
Não te posso ajudar.

Mas vá lá, uma achega, a última (para o teu post, à minha custa, ter bastos comentários): se eu disser que uma obra de arte apenas se deve preocupar com as suas realidades "internas" formais, e nada mais, se eu disser que ela é apenas "interior" sem comunicação, eu estou a fazer política. Pois há nesse "mergulho interno" uma rejeição do mundo, uma rejeição ontológica, total. (Até de forma insuspeita: quando o académico pompier Bouguereau se alheava das conquistas impressionistas, ele rejeitava, ao mesmo tempo, arte e mundo - curioso pá.)
Se eu disser que a arte pode/deve ser panfletária (como Haacke, por vezes), a postura é política também, ainda que por via oposta à via "formalista". Depois estuda-se as repercussões disto de muitas maneiras.
Mas, como não estou a lidar com um tipo sério, volto cá apenas para o ano.

(Quanto ao poster do Kim, já disse, não é mau de todo: O seu autor evidencia capacidades de composição e coerência cromática. É só.)

Ricardo Noronha disse...

Não tenho não. A pestilenta sociedade euro-norteamericana trata-me pior do que a ti. Gostava de invocar o racismo e dizer que isso se deve à minha ascendância asiática, mas o sucesso do Zé Neve não mo permite. Três palavras a propósito do quadro: culto da personalidade.