O Governo dá sinais de querer proceder a reduções salariais - medida que, de algum modo, completaria as recentes reivindicações dos dirigentes de diversos sectores-chave da actividade económica, já aqui referidas pelo João Tunes. O mais curioso é, no entanto, o modo como o faz, negando como supérflua essa decisão, em lugar de a declarar inaceitável, ou de se comprometer a, "se for preciso", proceder a cortes que sejam suportados por outros agentes económicos, como aqueles, por exemplo, representados pelas confederações já referidas. Com efeito, segundo se pode ler no Público:
O primeiro-ministro José Sócrates rejeitou hoje em Bruxelas o cenário de redução de salários na função pública, afirmando acreditar que as medidas já adoptadas pelo Governo são suficientes para atingir os objectivos orçamentais em 2010 e 2011.
Sócrates, que falava à entrada para uma reunião do Partido dos Socialistas Europeus, que antecede a cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia de quinta-feira, disse que a redução de salários “não foi a opção” do seu executivo para reduzir o défice orçamental e garantiu que “não será preciso” seguir essa medida.
O primeiro-ministro respondia a questões sobre uma eventual redução de salários, depois de, à tarde, o patronato ter proposto ao Governo a adopção de medidas transitórias para melhorar a competitividade das empresas e aumentar o emprego, salientando a necessidade de “liberalizar mais” a contratação e o despedimento.
“Não, não vai ser preciso”, declarou.
Na realidade, o que José Sócrates diz é que não será por sua opção que procederá a medidas semelhantes, ao mesmo tempo que sugere que, se as contas assim o indicarem, não poderá deixar de tomá-las. Pois, caso contrário, seria preciso pôr a vontade do PS acima da dos responsáveis económicos, o que, como toda a gente sabe, seria uma irresponsabilidade. E não é evidente que quem impõe sacrifícios aos outros deve dar o exemplo e saber sacrificar as opções que gostaria de poder manter, se não contrariassem as exigências políticas do regime económico estabelecido, que, como lembra este outro post do João, vai sendo tempo de constitucionalizar?
17/06/10
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3 comentários:
MS.Pereira: No " Le Canard Enchainé " desta semana - na sua célebre pág. 2- é narrada uma " cena " edificante. Que serve para se ver- em especial tu- como funciona o " núcleo duro " da União Europeia, o tandem franco-alemão. Ora, Sarkozy teve conhecimento, a 8 de Junho, pela voz de Martin Schulz, o presidente do Grupo socialista no P. Europeu, que condecorava no palais de l´ Elysée, que o governo de Merkel estava disposto a fazer um passo para a construção de um modelo de "gouvernence " económica para a zona Euro. O PR francês passou-se dos carretos...O quê, nós temos 400 funcionários na nossa embaixada em Belim e não me deram o recado?!?Imagina que Portugal tem 5-cinco-cinco diplomatas de carreira, tão-só, na sua embaixada da Zimmer.Str... Além da " brutalidade " destes factos, há que sublinhar, como é evidente, que Sócrates tendo ajudado a desbaratar todas as " facilidades " concedidas pela U.E., terá agora que se " submeter " e " obedecer " aos diktats de Bruxelas, onde não se sabe onde começa o poder do " rolo compressor " fiscalista e monetário alemão e as "taxativas" directivas da Comissão Europeia...
Niet
Eloquente, Niet - eloquente.
Salut et égalité
msp
Caro M.S.Pereira- Imagina que não só o staff da representação diplomática portuguesa em Berlim, nos tempos que corremm, é ridiculamente reduzido- a comparar com as da França e do Reino Unido -
como o nível das instalações é assustador em comparação com as da antiga embaixada em Bona. O governo regional de Berlim concedeu, há anos, ao Governo luso uma parcela de terreno- na zona das Embaixadas - para que Portugal construisse um edifício de raíz para a sua delegação diplomática. Uma série de Estados foram implantando as deles, Portugal- com projecto aprovado a tempo e horas- protela e invoca tudo e mais alguma coisa para a não-construção. A tal ponto a situação é caricata e " perigosa " que os serviços da Polícia berlinense de apoio e vigilância ao pólo diplomático acreditado, têm alertado para o perigo de uma qualquer " ameaça terrorista "... se poder abrigar nos matagais à balda do terreno onde devia ser edificada a embaixada portuguesa! Os mais pequenos pormenores, meu caro, são fatais. Niet
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