20/04/10

Ashes to ashes (in Paris)

É possível a primavera quando não há aviões no céu. Um vulcão bate as asas na Islândia e o futuro como probabilidade fica suspenso. Então os homens, as mulheres e as crianças amontoam-se como numa fila para o pão, varados pelo mesmo frio perpendicular, esperando que nossa senhora dos transportes terrestres interceda por si e pelos seus. Há a rapariga que cheira a um bom Patchouli e a espanhola histérica que exige compensações. Há gente a rezar ao seu próprio deus e outros que descobrem o valor da má poesia. Cada um sente à sua maneira o tempo a mostrar-se para além das horas. Por mim recusarei ambulâncias e outras formas bruscas de regressar à realidade. No meio da cidade há umas árvores brancas, quase transparentes. Até amanhã ficarei à espera que sob elas caiam finalmente as cinzas.

1 comentários:

Joana Lopes disse...

Muito bom, Miguel!
Aproveita as últimas horas, enquanto eu espero que a Lufthansa possa voar e levar-me para bem longe destas cinzas de cá (tantas...), no próximo Sábado.