26/04/10

E Salazar era antifascista porque não gostava do Rolão Preto

O João Galamba acha que o Aguiar Branco foi brilhante. Mas não tem razão. Qualquer concepção patrimonialista do 25 de Abril é um erro: mas, se isto é válido para quem "defende" Abril, também é para quem procura nacionalizar o dito Abril. Propriedade privada ou propriedade nacional, aqui como em tudo, não apresentam uma diferença assim tão grande entre si. O que interessa, em relação a Abril, é trabalhar no quadro de uma concepção não-proprietária da liberdade. Que celebre a revolução mais do que o regime, a libertação mais do que a liberdade. Sem a libertação não teríamos liberdade. E a libertação é por definição demasiado fluida para ser apropriada ou patrimonializada. De onde me situo, Abril são os inúmeros corpos que se comprometeram em lutas passadas contra a opressão. E essas lutas passadas não serão passadas se soubermos manter vivo o perigo que acarretaram. O que implica não termos simpatia por ter Aguiar Branco, num discurso pura e simplesmente táctico, a citar Lenine só porque quer dar uma de iconoclasta. (E por que não citou Cunhal?). Aguiar Branco, diga-se, não me irrita e o problema não tem que ver com ele directamente ou sequer com o PSD. Aliás, quanto aos efeitos do discurso de Aguiar Branco, uma coisa é certa: vai ser mais difícil começarem a dizer que o camarada Lenine era mais aterrador do que o Doutor Salazar depois da colagem de ontem. Com mais um esforço, ainda teremos deputados do PSD sob alçada da PSP.

2 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

grande, mas grande título

Anónimo disse...

Caríssimo Z.Neves: Texto brilhante e pleno de nuances. Para mim também a Revolução não deve ter donos nem parar, como é evidente e salutar. Já se nota na sua prosa um " cheirinho " da fase líquida da modernidade ensaiada por Zygmunt Bauman. Mais vinte e tal livros para ler...E agora para despistar bobagens, vou transcrever este comentário delicioso de Lénine sobre Aristóteles: " A diferença entre o sentir e o conhecer, é que,o que produz a sensação reside no exterior. A causa dirige a actividade sensitiva para o singular, o único, enquanto que o saber se dirige em direcção ao universal"; e acrescenta WI Lénine: é " esse fundo materialismo que Hegel tenta afogar sob o seu palavreado...".Niet