12/04/10

"Trabalho forçado" para os desempregados?

Pelos vistos, Pedro Passos Coelho veio com a velha ideia de os beneficiários do subsidio de desemprego terem que prestar trabalho comunitário ou coisa parecida. Assim, repito o que escrevi há uns tempos no meu outro blogue:

Imagine-se que eu tenho um seguro para a minha casa, pelo qual pago prémios regulares, e esta é destruída por um incêndio. Alguém iria exigir que eu trabalhasse para a seguradora para compensar o dinheiro que iria receber? Imagino que ninguém iria defender tal coisa - afinal, eu já paguei os prémios à seguradora e são esses pagamentos que me dão direito a receber o valor do seguro.

A filosofia do subsídio de desemprego é a mesma que dum seguro (penso que nalguns países a expressão é mesmo "seguro de desemprego") - eu contribuo todos os meses e, se perder o emprego, recebo o valor do subsídio. Sim, é verdade que é possível que muitas pessoas recebam, durante a sua vida, mais de subsídio do que o que contribuem, mas o mesmo acontece com todos os sistemas de seguro - uma pessoa que veja a sua casa destruida por alguma catastrofe, ou que tenha um acidente, ou coisa assim, provavelmente irá receber mais da companhia de seguros do que o que descontou de prémios.

De qualquer forma, se esses trabalhos que se sugere que os desempregados deveriam fazer são mesmo necessários, faria mais sentido, pura e simplesmente, o Estado contratar pessoas para os fazer, não?

7 comentários:

jsaldanha disse...

Na minha opinião, é que não são as pessoas que perderam os empregos e que descontaram até os terem perdido, que deveriam ir prestar trabalho comunitários. O trabalho comunitáriom deveria ser prestado por militares que de momento não têm nada que fazer, alem de se roçarem pelas paredes. Guerra no Ultramar já não há. O Kovovo não é nosso. Na Madeira temos Alberto João. Cada vez há mais fogos! Ora depois de tudo isto, se os militares ajudassem a limpar as matas, haveria menos fogos e mais poupança para o Estado. Se somos apologistas de que as politicas se resolvem com conversa, que fazem os nossos militares no estrangeiro?

Alexandre Cotovio Martins disse...

Na verdade, parece que estamos prestes a voltar ao tempo dos bons costumes. Já ouço as senhoras sérias a discutirem nas pastelarias que este tipo de medida não apenas tem a vantagem propriamente económica de poupar dinheirinho, como ainda propicia a oportunidade de mandar trabalhar os mandriões que por este País campeiam.
De forma um pouco mais séria, isto faz lembrar os tempos dos "deserving" e "undeserving poors". É lastimável.

Renato disse...

Estes senhores não têm vergonha.

A evolução do liberalismo para o Estado social instituiu, à uma, o direito ao trabalho e, como forma de responsabilizar socialmente o indivíduo, o DEVER de trabalhar. Constituições como a Francesa, de 1946, ou a Italiana, de 1947, por exemplo, consagraram quer o direito ao trabalho, quer o DEVER de trabalhar. Nessa linha, pesem embora tardiamente, o mesmo veio a suceder com a Constituição portuguesa de 1976.

A contra-revolução neoliberal, pela mão desses senhores, não só tem destruído o direito ao trabalho, como aboliu o DEVER de trabalhar. Tal dever foi retirado da nossa Constituição pelo PS/PSD/PP, com a "nova" argumentação de que ofende o direito à liberdade do indivíduo.

Todavia, quando toca a satisfazer o elementar subsídio de desemprego, já não lhes choca a ofensa ao direito à liberdade. Aí, vale até impor o DEVER de prestar o trabalho escolhido pelo Estado.

Anónimo disse...

Mas o que é curioso é como estas ideias se espalham. Ouvi gente a pedir o mesmo no metro, na mercearia e noutro lugar qualquer. As pessoas são incapazes de atribuir a crise ao nosso modo de produção. O socialismo está ao virar da esquina, mas a fugir para longe.

Anónimo disse...

Para isso as pessoas teriam de querer ser contratadas para fazer esses serviços.

Carlos Guimarães Pinto disse...

"De qualquer forma, se esses trabalhos que se sugere que os desempregados deveriam fazer são mesmo necessários, faria mais sentido, pura e simplesmente, o Estado contratar pessoas para os fazer, não?"

E se esses trabalhos forem necessários mas o valor acrescentado é inferior ao salário mínimo nacional?

Anónimo disse...

na minha opinião, essa medida é muito bem vinda! Exsitem milhares de pessoas que não querem trabalhar! Sim, é verdade que descontaram enquanto trabalhavam, mas depois de estarem desempregadas não aceitam nenhum trabalho até o subsído acabar!
Claro que nem toda a gente é assim, mas exsitem milhares de vagas nos centros de emprego e mais milhares ainda de pessoas desempregadas! Não é estanho haver tanto desemprego e tantas vagas?
Eu acho é que a cultura das pessoas está de tal forma decrépita que acham que só devem trabalhar quando lhes apetece e nos trabalhos que lhes apetece, pois há trabalhos que parecem ser indignos de algumas pessoas! Claro que este comentário tem de ser aprovado, mas por favor...conheço pessoas que recusam trabalhar porque querem continuar a dormir até às 14 horas e receber o subsídio de desemprego!