“E isto não é uma opção ideológica, é uma fatalidade inultrapassável.” Uma das quatro pessoas a quem o deputado ainda não tenha chamado filho-da-puta deveria explicar ao deputado que a definição do que é ou não é uma fatalidade e do que é ou não é inultrapassável não é indiferente às opções ideológicas de quem define o que seja uma fatalidade inultrapassável. Porra, isto devia ser óbvio, aliás, era a única coisa que devia ser óbvia para alguém com um mínimo de seriedade intelectual. Não é preciso ler nem o White nem o Boaventura para se chegar até aqui. Basta não sermos vaidosos ao ponto de acreditarmos piamente em tudo o que nos diz o espelho quando estamos a fazer a barbinha pela manhã. Haja paciência para a ortodoxia do centro: ostenta a arrogância dos que se julgam iluminados por Deus (e por Marx, no caso do Galamba) e faz uso da irresponsabilidade de quem se afirma o mais simples fiel do Senhor (o que, bem vistas as coisas, permite que não nos olhemos ao espelho...). Se é para continuarem com o rabinho sentado a votar de acordo com o Progresso, o Óbvio, O que tem que ser tem que ser, Os constrangimentos estruturais, o Durão Barroso, e mais não sei o quê, era melhor levantarem o dito cujo e darem lugar a outro autómato.
ps: o Tiago Ribeiro, a quem não consta que o deputado tenha chamado filho-da-puta, já explicou o que havia a explicar, de modo mais meigo do que eu.
19/03/10
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2 comentários:
Camarada Zé Neves,
gostaria de acrescentar ao que dizes, para o sublinhar, que subjaz às declarações do bolguista que citas uma operação que ele compartilha com todo a ideologia económica dominante: a naturalização sacralizadora das opções instituicionais e políticas que articulam qualquer regime económico.
Porque é que a economia é "economia política" e "ciência moral"? Porque não tem objecto nem conteúdo que não sejam os que lhe dão os usos e costumes ou os fins que as instituições fundamentais de uma sociedade lhe dão.
A entronização da economia e dos objectivos económicos - a expansão ilimitada das forças produtivas, que é, segundo Castoriadis, a significação imaginária central do capitalismo - é uma escolha institucional e política, que compete à acção democrática tornar explícita e pôr em causa.
É por isso que a afirmação da autonomia democrática implica o governo da economia por meio da participação igualitária do conjunto dos cidadãos que a organização económica afecta. Excluir, em nome de não se sabe que "autonomia sistémica", a esfera da economia da deliberação e decisão dos cidadãos é excluí-los de uma dimensão fundamental do poder político, arruinando a liberdade e a igualdade próprias da cidadania activa.
Assim, a necessidade que o JG invoca é a máscara do propósito de manter a economia política vigente por todos os meios - pondo-a ao abrigo da vontade e da acção democráticas dos cidadãos que somos.
Porque, como citam os Ladrões de Bicicletas ( http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2010/03/e-preciso-derrotar-os-predadores.html ) e escreve no Politeia JM Correia Pinto ( http://politeiablogspotcom.blogspot.com/2010/03/contra-o-pec.html ), perante "Um programa que aponta como meta de futuro a degradação dos salários reais, a precariedade, o trabalho temporário, o aumento crescente e permanente do desemprego, a ansiedade como companheira inseparável da vida, a desagregação social, enfim, um sistema que não é capaz de criar as condições mínimas de vida em sociedade e relega uma parte considerável dos seus membros, ano após ano, para a periferia da vida" - o que temos a fazer, em legítima defesa, é opormos ao PEC, aos seus agentes e à sua cultura política todos os meios democráticos que formos capazes de mobilizar na praça pública e nos lugares de convivência colectiva que enquanto cidadãos partilhamos todos os dias.
Abç
miguel (sp)
este post está fantástico.
já tinhas dito tudo.
mas eu n sabia
LOL LOL
esta merda é diabólica (net)
cumps
z
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