José Fontana, relojoeiro e livreiro nascido na Suíça, foi um dos organizadores das conferências do casino e fundador do Partido Socialista Português, tendo-se correspondido regularmente com Marx e Engels a propósito das questões organizativas do movimento operário português, no quadro da Associação Internacional dos Trabalhadores.
Sobre ele escreveria, nas suas memórias, Antero de Quental: "A Revolução convivia no Cenáculo. E em meio àquele punhado de revolucionários utópicos, contava-se José Fontana, empregado da Livraria Bertrand, muito alto, muito magro, sempre vestido de preto."
Tudo isto a propósito da catástrofe que aí vem e de como combatê-la. Os socialistas de hoje encaram as coisas de outra maneira - talvez pelo facto de não construírem relógios, dão menos sinais de compreenderem o seu tempo com a mesma aguda percepção que caracterizava o seu ilustre antepassado. Os bons leitores de Fontana poderão ser encontrados sobretudo aqui, onde o tema da emancipação dos trabalhadores continua a desafiar a lógica da acumulação capitalista. Eis o que ele escrevia há mais de 120 anos e mantém a hoje a precisão de um relógio suíço:
"Dada a existência social do mundo operário como uma classe, o que é evidente, porque as condições económicas em que vive a extremam e especializam na sociedade, segue-se que os seus progressos como classe só serão efectivos quando realizados pelo seu esforço, à sua custa e sob a sua responsabilidade. Fora disso, esses progressos, tendo fora da classe operária a sua origem e razão de ser, poderão ser contestados com toda a justiça, serão por assim dizer progressos postiços e de empréstimo, sem mérito e destituídos de garantia séria.
Para que se possa dizer: a classe trabalhadora conquistou no século XIX tais e tais melhoramentos, é necessário que ela os conquiste efectivamente, ela e não outrem por ela, pela sua própria actividade e correndo-lhe os riscos. Doutro modo, esses melhoramentos serão como os do mendigo, precários, transitórios, exteriores e a sociedade não pode razoavelmente contar com eles como elementos reais de força e de vida. É pois não só justo, mas necessário, que a emancipação dos trabalhadores seja a obra dos mesmos trabalhadores."
9 comentários:
O texto é actual, embora a palavra "operário" se desenquadre absolutamente. Como convencer as gerações mais novas que a classe que deve conduzir a gloriosa revolução trabalha em fábricas? Foram outros tempos, acabaram com a era da automação. O proletário hoje trabalha na repartição das finanças ou é professor ou mesmo arquitecto. Se bem que isto é o ABC do socialismo hoje em dia, é uma mensagem que, claramente, não chega a quem tem 18 anos e não compreende de onde vêm as crises.
R.Noronha: Texto muito interessante.Fica-se com imensa vontade de ir ler tudo o que indica. Por acaso ando a ler e reler os Conflitos na A.I.Trabalhadores. Infelizmente não vem lá indicado o nome de José Fontana. Nem pela Suiça, que tinha duas Federações, a Jurassienne e a Romande. Duval e o famoso amigo de M. Bakounine, Schwitzguébel, eram os delegados ao Congresso de Haia ( 27/ Setembro 1872), que ficou a marcar quase o fim da AIT fundada e dirigida por punho de ferro por Marx e Engels, o PM do autor de " O Capital ", como todo o mundo dizia...Paul Lafargue, cunhado de K. Marx, representou nesse Congresso a nova federação de Madrid e a federação de Lisboa(Portugal). A AIT tinha uma doutrina oficial, que era a veiculada pelo Manifesto Comunista datado de 1848. O que veio dar origem a uma longa guerra dos estatutos, iniciada em 1866, que viria a tomar efeitos de bola de neve inquisitoriais de alto coturno e perversidade, e culminado no Congresso realizado na capital da Holanda com a expulsão de Bakounine. Na base, a suspeita de " entrismo" e divergências estratégicas decisivas; e acusações de fraccionismo entre Marx e Bakounine, quando ambos tinham iniciado a AIT pela refundação de duas sociedades secretas,a Liga dos Comunistas e a Aliança Internacional para a Democracia Socialista, respectivamente. Niet
Bakounine sobre o papel de Marx na fundação da A.I.Trabalhadores-
Neste texto datado logo apòs o Congresso de Haia(1872),Bakounine que caracterizou o conclave de " batalha e rendição de Sedan, a invasão triunfante do pangermanismo não-bismarkiano, mas marxista, impondo o programa político dos comunistas autoritários ou democratas socialistas da Alemanha e a ditadura do seu chefe ao proletariado de todos os países da Europa e da América ".E acrescenta ainda:" Uma vez que a unidade de acção política foi reconhecida necessária, não podendo esperar de a ver sair livremente da colaboração expontânea das federações e secções dos diversos países, foi por Marx e cúmplices decidido que tinha que ser imposta. Só dessa forma conseguiram criar a unidade política tão desejada e proclamada, mas ao mesmo tempo criaram a escravatura .(...)Evitei sempre de nomear Marx e os seus homens de mão os " fundadores " da Internacional; apesar de lhes reconhecer algum mérito, a Internacional não foi de forma nenhuma uma obra sua, mas sim, obra do próprio proletariado. O grande autor, inconsciente como o são muitas vezes os autores das grandes obras,foi o proletariado representado por algumas centenas de operários anónimos, franceses, ingleses,belgas, suiços e alemães. Foi o seu vivo e profundo instinto de trabalhadores castigados pela opressão e sofrimento inerentes à sua condição que os fez encontrar o verdadeiro princípio e o verdadeiro fim da Internacional: a solidariedade das necessidades como base de partida e a organização internacional da luta económica do Trabalho contra o Capital como o verdadeiro objecto da referida Associação. Atribuindo-lhe unicamente essa base e este objectivo, criaram de uma vez só toda a potência da Internacional ". Niet
Nos nossos dias, o que têm Sócrates ou Teixeira dos Santos (socialistas) a ver com o conteúdo deste texto???
Cara Bolota, o melhor é perguntar-lhes a eles.
Genericamente de acordo com o primeiro comentário. Niet, parece que Fontana nasceu na Suíça mas veio para Portugal relativamente novo, onde militou nas primeiras organizações operárias existentes, de natureza mutualista, se bem entendi.
Niet: Entre o chorrilho de erros e imprecisoes históricas do teu comentário refiro apenas o menor: paul Lafargue, casado com Laura arx, filha de Karl Marx, era genro não cunhado.
Abstem-te de comentar!És burro!
Anónimo(a) Weggie or Weedy?: Que falta de nível é esse para atacar quem não conhece de parte nenhuma? Que baixeza e miséria moral!A minha opinião seguiu à risca a posição explicada detalhadamente por M. Bakounine em vários livros das suas OC.O engano no parentesco de Lafargue é um fait-divers de pequeníssima dimensão comparado com a sua má-fé e arrogância senil. Weggie ou Weedy?!? Niet
Caro Ricardo Noronha: Creio que existem limites éticos para imprimir comentários! O comentário do anónimo Wegie de baixo e nauseabundo ataque pessoal era impublicável.Por sanidade mental e clareza democrática de base, como é evidente.Que direitos é que têm os comentadores e os membros da tripulação? Dá a impressão que os comentadores- que muitas vezes ajudam a descobrir e aprofundar temas- não têm direitos de espécie nenhuma. E ficam sujeitos à arbitraridade mais vesga ou cretina, como a concebida por este descarado insulto de analfabeto.Que eu sei já quem possa ser,pois sente-se a mediocridade e o estilo de trouxe-mouxe a milhas... A defesa da dignidade e liberdade das pessoas passa muito pela não-aceitação do vale tudo na escrita e na Vida! Niet
Enviar um comentário