Mas com melhor futuro

Por feitio e vocação, as apresentações sempre me fizeram espécie. A vida quotidiana e a irreversibilidade do tempo são temas tão fúteis e banais como outro qualquer e é deles que me pretendo ocupar aqui.
Quem passa os olhos pela antologia de textos da Internacional Situacionista (Lisboa: Antígona, 1997) não pode deixar de reparar na sua vocação para a eternidade. Como se tivessem sido escritos primeiro na pedra e só depois transcritos, em caracteres meio apagados, para o papel barato de um qualquer boletim. E assim é que, pensando num primeiro disparo, dei por mim a tropeçar constantemente numa paródia de questionário ali publicada.
Sendo interrogados quanto ao seu número, desviam a pergunta e respondem com um enigma: "Um pouco mais do que o núcleo inicial de guerrilha na Sierra Maestra, mas com menos armas. Um pouco menos que os delegados que estiveram em Londres em 1864, para fundar a Associação Internacional dos Trabalhadores, mas com um programa mais coerente. Tão firmes como os gregos nas Termópilas, mas com melhor futuro."
Seria pretencioso iniciar um blog reivindicando semelhante filiação? Claro que sim. Mas é preciso não perder de vista, nestas coisas da escrita informal, a ambiciosa proposta de Hakim Bey, inscrita na contra-capa do seu «Zona Autónoma Temporária» (Lisboa: Frenesi, 2000): "O mais importante é não ser um ditado - mas um convite ao jogo. Quer entrar no jogo? Saboreie o jogo. Isto não é um partido comunista."