22/03/10

A reforma da saúde nos EUA

Foi aprovada a reforma do sistema de saúde nos EUA.

Quem ganha?

- As pessoas doentes
- As pessoas de rendimentos baixos
- As companhias de seguros

Quem perde?

- As pessoas saudáveis
- Os contribuintes

(claro que muita gente estará simultaneamente em vários grupos)

Porquê?

Basicamente, a "reforma Obama" assenta em 3 principios:

- as companhias de seguros deixam de puder discriminar entre clientes com base em condições prévias (p.ex., deixam de puder recusar-se a segurar clientes seropositivos ou, creio, cobrar-lhes prémios mais elevados)

- toda a gente vai ser obrigada a subscrever um seguro de saúde (mais exactamente, toda a gente que não esteja coberta pelos seguros estatais que actualmente existem)

- o governo federal vai subsidiar a compra de seguros por pessoas de baixos rendimentos

Esta tríade tem a sua lógica, mas tem estes efeitos:

As pessoas doentes (nomeadamente os crónicos) ficam a ganhar e as saudáveis a perder porque, como as seguradoras vão ter que passar a tratar todos por igual, os preços que os saudáveis pagam vão incorporar tambéms os custos com os tratamentos dos doentes crónicos (claro que esses "sudáveis" podem também vir a ser doentes crónicos um dia...), em vez de haver preços diferenciados para uns e outros

As pessoas de baixos rendimentos (mas não muito baixos, porque os baixos-baixos já estavam cobertos pelo seguro estatal Medicaid) ficam a ganhar porque passam a receber subsídios do Estado para comprar seguros de saúde (e, por isso, os contribuintes ficam a perder)

Finalmente, as companhias de seguros ficam a ganhar porque passam a ter mais clientes (obrigados a tal - e nalguns casos subsidiados - pelo Estado). Poder-se-á perguntar se a reforma não será um pau de dois bicos para as seguradoras - ficarem a ganhar com a obrigatoriedade e os subsidios para a compra de seguros de saúde, mas a perder com o deixarem de poder discriminar entre os (ou mesmo recusar) clientes; mas não - a partir do momento em que comprar um seguro de saúde vai passar a ser obrigatório, não há nada que impeça as seguradoras de passarem para os clientes (através de aumentos de preços) todos os aumentos de custos que tenham (podem aumentar os preços à vontade que não perdem clientela).

Alem deste efeito imediato, as seguradoras ficam também a ganhar por outra razão - a partir do momento em que passa a ser obrigatório comprar um seguro de saúde, torna-se quase impossível que, no futuro, venha a surgir um modelo de negócio alternativo ao dos seguros (que modelo? não sei; mas podia ser que alguém viesse com alguma ideia).

Somando tudo, parece-me que os prós da reforma suplantam os contras, mas que há aí um bodo ao greande capital, há.

2 comentários:

André Jerónimo disse...

Duvido que ninguém tenha pensado no aumento de preços. Isso deve estar regulado, ou pelo menos presume-se que a competição impede esse aumento, não?

Miguel Madeira disse...

"ou pelo menos presume-se que a competição impede esse aumento, não?"

No caso de um aumento de preços provocado por um aumento de custos, não, já que esse aumento de custo afecta todas as empresas da indústria.