O meu argumento é outro: é que parece-me que, em regra, os "bons alunos" tendem a ter uma personalidade "inner-directed", no sentido de confiarem mais no seu juízo do que no dos outros (e penso que faz sentido: é natural que aquelas crianças que, ao montar um carro de brinquedo, querem ser elas a descobrir como o carro se monta venham, no futuro, a ser melhores alunos - já que exercitam mais os neurónios - do que aquelas que preferem pedir ao pai que lhes explique como se monta o carro); e, sendo pessoas que confiam mais na sua própria opinião do que na da "sociedade", não sei se lhes fará grande diferença a escola dizer ou deixar de dizer "és um excelente aluno" (afinal, se eles já sabem que são bons alunos, que diferença em termos de incentivo fará o reconhecimento de tal pela escola?).
E, já agora, cito o que o Tárique (que até recebeu um prémio de melhor aluno, logo sabe do que fala) disse sobre o assunto:
A desenvolver melhor, a minha opinião por agora é que os quadros de honra clássicos são contraproducentes.*é um facto, grande parte dos meus posts começam a ser repetições de coisas que escrevei há anos atrás, mas pelos vistos os temas em debate na sociedade não têm mudado muito.
E parece-me que acertas quase na mosca quando falas na componente "inner-directed" .
No entanto, existem opiniões avaliativas que interessam aos bons alunos tanto quanto a sua: as dos seus pares. Não acho é que seja correcto nem eficaz (apesar de ser muito neo-liberal) fazer do egoísmo e soberba cobiçosa o motor da excelência académica. As desvantagens sobrepor-se-iam às vantagens.
1 - acho importante haver incentivos aos alunos para estudarem para ter 20 em vez de 19. E acho que isso é algo a mudar na escola pública.
2 - Os quadros de honra só servem para desmotivar e segregar os alunos. Cerimoniazinhas para a escola toda é um fréte, um martírio que só envergonhará uns e outros. Mas se se quer seguir mesmo este caminho, mais inteligente seria fazer saber aos melhores alunos que o seu esforço "extra" será recompensado com, por exemplo, uma viagem a um museu em espanha, um livro ou coisa do género, mas nada de cerimónias parvas.
3 - há formas muito melhores e mais horizontais de incentivar a excelência. uma que eu adorava eram as Olímpiadas da Matemática (nas quais cheguei a ganhar o bronze nacional). Os "clubes da matemática" em que nos podemos dedicar a resolver problemas mais complexos do que o básico programa oficial são outra.
4 - O prémio pontual, no fim do curso, com as notas já tiradas, incentivou-me pouco ou nada à excelência. Melhor teria sido que um prof um dia viesse falar comigo e dizer "olha, tu gostas destes desafios? que tal um mais complicado? vamos preparar-nos para o Prémio Bento de Jesus Caraça/Mário Silva? Eu ajudo-te!"
Em resumo: os (bons) alunos não precisam de prémios, reconhecimento, quadros de honra, etc. Precisam de desafios intelectuais! De acompanhamento. De elementos mais aliciantes. É típico da dialética neo-liberal dizer que as pessoas só trabalham para "se armar", para chegar a "alpha-male/female"
6 comentários:
Essa do "inner-directed" fodeu-me.
Muito piores que os quadros de honra são os prémios pecuniários. Ao menos os primeiros ensinam aos alunos que uma sociedade pode ter elites que não se reduzem à oligarquia financeira.
É um bom tema para se rebater. Numa vertente pedagógica, sendo essa a minha área, parece-me ter mais contras do que prós. No sentido de que, quem já é bom, é sempre, e quem não é, não melhora por estar no final da lista. A opinião deste ex aluno, é esclarecedora quanto aos quadros de honra.
Tanto o autor do artigo como o seu amigo Tárique acabam provavelmente por ter razão e por não a ter.
Não a têm, porque estarão a fazer uma generalização a partir de um(ns) caso(s) particular(es) sem ter aparentemente sujeitado essa generalização a uma confirmação estatística.
Haverá bons alunos que apreciarão estar no Quadro de Honra, ao mesmo tempo que outros considerarão isso um fardo que têm de transportar.
Não me surpreende se o próprio Dr. Portas derivasse um intenso prazer do facto de ser aluno de "Quadro de Honra".
Outro excemplo notável é o da personagem Alex Keaton da série "Quem sai aos seus" que, tal como o Dr. Portas, era um Republicano numa família de comunas.
Haverá portanto bons alunos que gostam, outros que detestam, e outros a quem é indiferente haver "Quadro de Honra".
Mas a questão nuclear não é esta, porque as ferramentas de motivação não servem para despertar sensações agradáveis a quem é alvo delas: servem para mudar comportamentos.
E o "Quadro de Honra" só será útil se, pelo facto de existir, haja alunos que passem a ser bons e que, sem a sua existência, não seriam.
Eu pessoalmente não creio que um aluno com potencial para ser bom aluno, mas que não o seja, se esforce por sê-lo pelo facto de poder ingressar no "Quadro de honra"...
Se recebesse um dinheirinho, talvez...
Se a miúda mais gira da escola fizesse marmelada com ele, talvez...
Se fosse dispensado das aulas de Área de Projecto, ou Educação Física, ou aquelas que há agora e não havia no meu tempo, talvez...
Pelo "Quadro de Honra", não estou a ver os miúdos do Rap e dos bonés que levam navalhas para a escola e preferir a Matemática à hipótese de entrar no gang...
O que devolve a razão aos meus amigos, porque estas ferramentas parecem mesmo irrelevantes para aumentar o núumero de bons alunos.
Não sei se o bom aluno confia mais no seu próprio juízo que no dos outros. Se tiver um ar, um comportamento ou gostos diferentes dos outros, como quase inevitavelmente terá; ou se for ostracizado ou humilhado pelos seus pares como punição por ser bom aluno, então o juízo dos outros será para ele muitíssimo importante. Todos precisamos, por mais inner directed que sejamos, de alguma forma de reconhecimento social, e é isto que falta muitas vezes aos bons alunos.
Sou contra os prémios pecuniários aos bons alunos, especialmente quando servem para encenar propaganda política nas televisões; mas no que toca os prémios simbólicos, sou totalmente a favor.
"Se tiver um ar, um comportamento ou gostos diferentes dos outros, como quase inevitavelmente terá; ou se for ostracizado ou humilhado pelos seus pares como punição por ser bom aluno, então o juízo dos outros será para ele muitíssimo importante."
Não vejo porquê - até acho que o mais provável nesse caso é desenvolver tendências associais e passar a dar ainda menos importância ao juizo dos outros (até por uma lógica de "há, mas são verdes").
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