Olhamos para a China de fora, elogiamos ou condenamos os seus efeitos na inevitável globalização, protestamos contra a repressão dos que pretendem exprimir-se livremente, comentamos as manobras, louváveis ou nem por isso, do tipo de permanência do Google no país - sempre com as imagens da Praça Tiananmen em pano de fundo e com a herança de Mao na memória e nas prateleiras.
Pouco sabemos, no entanto, da movimentação interna de centenas de milhões de pessoas, do seu significado e das consequências ainda certamente imprevisíveis que ela terá, a médio prazo, não só naquele país mas no mundo em geral.
Estima-se em pelo menos 200 milhões o número de camponeses migrantes para os arredores das grandes cidades, onde vivem em péssimas condições depois de, na melhor das hipóteses, terem conseguido uma autorização de residência temporária que pode caducar em qualquer momento pelos mais variados motivos, sendo os seus portadores recambiados para o local de origem. Mas, num país onde não há «liberdade de habitação», muitos vivem ilegais ou mesmo na clandestinidade.
Neste vídeo, explica-se que, embora seja oficialmente proibido impedir o acesso dos filhos destes migrantes às escolas públicas – 200.000 crianças, só em Pequim -, a realidade é bem diferente e os pais são obrigados a pagar a instituições de ensino, privadas e clandestinas, importâncias relativamente exorbitantes para que os filhos acabem pelo menos o ensino primário.
Trata-se que fenómenos que dificilmente realizamos na prática, pelas dimensões que atingem.
Estive na China há uma meia dúzia de anos e passei três dias no Rio Yangtze, quando a gigantesca barragem das Três Gargantas ainda estava em construção. Um elevado número de aldeias foi então riscado do mapa pela subida programada das águas do rio, tendo sido atingido mais de um milhão de pessoas. A páginas tantas, na margem do dito Yantze, através de um guia, falei com uma rapariga muito jovem que vendia bugigangas a turistas. Explicou que estava sozinha porque a família já deixara aquele local que, pouco tempo depois, ficaria inundado. Estavam agora longe? Nem por isso: de comboio, a dois dias de viagem.
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