10/03/10

Em tempo de crise permanente


 
"Os acontecimentos do Inverno de 2008-2009, na Grécia, exprimiram, de modo extremo, problemas comuns às diversas sociedades europeias. Pela amplitude e pelo eco que encontrou na sociedade, pela ocupação do espaço urbano gerado, esta revolta acordou por todo o lado os receios das classes dirigentes. Antes de mais, porque o fogo da insurreição alimentou-se da precariedade da juventude estudantil, condição que é hoje comum a todas as sociedades europeias. Uma proletarização que apaga progressivamente a distância anteriormente existente entre o mundo estudantil e o do trabalho, e que, pelo menos na Grécia, se tornou no elo entre os estudantes, os deixados à sua sorte, os jovens imigrantes e os trabalhadores. Receio também porque a insurreição grega se insurgiu contra a arbitrariedade e a arrogância repressiva do poder político, contra o clima de corrupção e os traços mafiosos da nomenklatura política, exprimindo uma rejeição da classe política que é palpável por toda a Europa. Na altura em que o sector financeiro aparecia associado à avidez capitalista e à corrupção do político, eis o que viria deitar óleo na fervura."
Reflexões em tempos de crise permanente, Charles Reeve, Passa Palavra

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro NR: Questão deliciosa que nos vai fazer recordar os gloriosos tempos da " Comuna do 5 Dias", que se consumaram,helàs, em 10 escassas semanas, com a entrada e saída relâmpago do MS Pereira. Na narrativa plural e ultra-democrática desses 75 dias gloriosos, de sonho, estão lá muitos dos sinais de uma alternativa política e cultural a um Estado-Molloch, crise agravada pelo quase krach financeito/ bancário de 2008.
" A ideia de uma homogeneização total da sociedade é, de facto, o horizonte do pensamento de Marx( e esta ideia concretizou-se, alterando-se no seu contrário, no e pelo totalitarismo estaliniano). Para nós, não se trata de alcançar a homogeneidade nem de suprimir as diferenças ou as alteridades na sociedade. Trata-se, isso sim, de suprimir a hierarquia política, a divisão da sociedade como divisão do poder e do não-poder(...) O que visamos, é a igualdade efectiva sobre o plano do poder- e uma sociedade que tenha como pólo de referência essa igualdade. E é evidente que esta ideia é também uma criação histórica e uma significação imaginária", C. Castoriadis, Capítulo sobre" A exigência revolucionária" in " O Conteúdo do Socialismo ", págs.323/ 366. Christian Bourgois.Col.10/18.France. Niet

Pedro Viana disse...

Bela citação de Castoriadis, Niet. Bem-vindo aos comentários!

Anónimo disse...

Ò Pedro Viana: eu já cá ando nas minas&armadilhas, há um bom bocado de tempo. E percebeu a da " Comuna do 5Dias"? O Carlos Vital não percebeu. Julgava que eu estava a falar da Comuna de Paris. Coisas. Mas, como devemos ser exigentes, há
um tempo para cada coisa. Até já. Niet