29/04/10

A crise como profecia auto-cumprida?

O Miguel Botelho Moniz e o Rui L. Castro, de uma ou outra forma, perguntam-se se as pessoas que acham que a crise foi criada artificialmente pelos mercados especulativos vão aproveitar a oportunidade de negócio e comprar dívida do Estado português.

Não sei se esse argumento fará grande sentido - creio que o que muitas pessoas acreditam é que a crise é uma profecia auto-cumprida: que a expectativa de "default" da Grécia e de Portugal (e eventualmente de Espanha, Irlanda e Itália) está a fazer subir os juros da dívida grega e portuguesa (para compensar o risco percebido), e que é exactamente essa subida dos juros (motivada pelo risco de default) que está à beira de realmente provocar o default.

Ora, para uma pessoa que pense assim, não faz sentido investir em dívida pública portuguesa - esse racioinio diz que são as expectativas dos mercados que estão a causar os problemas financeiros, mas não nega que, a partir desse momento, os problemas financeiros e o risco de default existem realmente.

Uma analogia - imagine-se que eu tenho dinheiro num banco (numa sociedade sem garantia estatal de depósitos),e acho que os negócios do banco são fundamentalmente sólidos, mas toda a gente mete na cabeça que o banco está à beira da falência e vai levantar o seu dinheiro. Faria sentido neste caso eu manter o meu dinheiro no banco (oua até reforçar a conta)? Não; a partir do momento em que toda a gente vai levantar o seu dinheiro, o banco vai rebentar, por melhores que sejam  (ou fossem) as suas contas, logo tenho é que me apressar para levantar também o meu.

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