21/04/10

Re: Engenharia social

Aparentemente, Helena Matos considera como "engenharia social" que duas lésbicas bitânicas tenham sido reconhecidas como "pais" (na verdade como "mother" e "parent", o que não é mesma coisa que "father") legais da filha nascida por inseminação artificial e que o nome do dador de esperma não apareça no registo de paternidade.

Não lhe ocorrerá que é tanto "engenharia social" duas lésbicas puderem registar-se ambas como "pais" como a outra hipótese - serem obrigadas a registar o pai biológico como pai? A partir do momento em que há registos de paternidade regulados por lei, é tanto "engenharia" a lei ser usada para legitimar as "famílias alternativas" como para defender a família "tradícional", não?

Ainda mais se pensarmos por referência ao que seria uma sociedade sem "registos de paternidade" oficiais - numa sociedade dessas, se um casal de lésbicas quisesse que uma criança fosse considerada filha delas, em vez de filha de uma e de um pai biológico, nada as poderia impedir; o que é que as obrigaria a identificarem um pai biológico para o seu filho? Mesmo que esistissem (como provavelmente existiriam) sistemas voluntários de "registo de paternidade" (exemplo tradicional: baptismo na Igreja; exemplo não tradicional - um sindicato que emitisse cédulas de nascimento para os filhos dos associados) e elas quisessem (como provavelmente quereriam) registar o seu filho, de certeza que haveria, algures, uma associação ou coisa parecida que emitisse registos de paternidade com duas mulheres como "parents". Ou seja, o reconhecimento dessa possibilidade pelo Estado mais não é do que aproximar a realidade ao que surgiria espontaneamente se o Estado não regulamentasse o registo da paternidade. Ou seja, se havia "engenharia social" até era na situação anterior.

Mas, curiosamente, esse chavão da "engenharia social" só costuma ser usado quando são feitas politicas com o objectivo de transformar a sociedade; essa expressão raramente se utiliza para a "engenharia de manutenção de sistemas", ou seja quando as políticas estatais contribuem para sociedade se manter como está.

0 comentários: