03/04/10

Ainda a pedofilia e a Igreja Católica

Eu nem sou e pode-se dizer que nunca fui católico (embora hoje tenha comido pescada em vez dos meus pratos habituais), pelo que se poderá argumentar que não faz sentido eu ter opinião sobre a organização interna da ICAR. Mas mesmo assim vou meter-me na discussão.

No Blasfémias, José Manuel Fernandes escreve que "Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais (...) tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos." (pelos vistos, esse Thomas Plante estima a incidência de actos sexuais com menores por parte de padres católicos em 4% e de 8% entre os homens em geral).

No entanto, mesmo o autor que JMF foi buscar afinal parece que é da opinião que o problema é maior dentro da ICAR, e que o problema tem a ver, realmente, com as suas normas internas:
The best data we have suggest that approximately 5 percent of the Catholic clergy have had involvement with minors, the vast majority being adolescent boys. That figure is not inconsistent with other male clergy or with the general population. In fact, in the general population it's probably a bit higher. But what is unique about the Catholic Church is that there are so many victims — the case in Boston that kicked this off had 138 victims and the guy moved from parish to parish over 30 years. That's unique.

Why does this happen with Catholics and not other religious traditions? I think that with Catholics, there is a more militaristic hierarchy. In other traditions you have boards of directors who hire and fire and evaluate their clergy, and problems tend to get nipped in the bud better because you've got perhaps 30 pairs of eyes watching, observing and evaluating. 
[comentário de Plante a este artigo da Time; negritos meus]
Ou seja, segundo esse autor,  a quantidade de padres católicos que abusam de menores não é anormalmente alta, mas a quantidade de menores que são abusados por padres católicos é-o (porque o rácio de abusados por abusador é muito elevado).

Já agora, há uma boa razão para mesmo os não-católicos discutirem as vantagens e defeitos da organização católica - para a partir daí obterem ensinamentos sobre como estruturarem as suas próprias organizações (claro que isso será mais relevante se se considerar que o problema da ICAR é a "hierarquia militarista" do que se for o celibato).

Uma nota final - efectivamente muitos destes casos de "pedofilia" não são verdadeiros casos de pedofilia (atracção sexual por crianças pré-puberdade) mas sim de efebofilia (atracção sexual por adolescentes), mas isso passa-se tanto com a "pedofilia" entre o clero como com outros casos de "pedofilia" frequentemente referidos; de qualquer forma, para simplificar referi-me (e irei referir-me se escrever mais algo sobre o assunto) apenas a "pedofilia", até porque acho que essa simplificação não afecta o essencial.

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Miguel,
a tua nota final é talvez mais importante do que parece, uma vez que há uma diferença de natureza, por assim dizer, entre o abuso perpetrado sobre uma criança pré-púbere de um jardim-escola e a sedução ou persuasão empreendida por um adulto junto de um adolescente, que não esteja sob a sua dependência ou autoridade legal, visando e acabando por obter a consumação por mútuo consentimento de uma relação sexual.
Claro que não é este aspecto que propões à discussão no teu post ou afecta a validade das tuas razões. Mas já que o levantas, creio que qualquer coisa como o que acabo de dizer deve ser dito.
Um abraço

miguel (sp)

Anónimo disse...

A propósito, seria possível colocar o feed rss com entradas completas? Obrigado e parabéns pelo blog

Anónimo disse...

M. Madeira: Urge esclarecer as relações de poder e cumplicidade.Os alunos do Colégio da Opus Dei em Roma, cerca de 4 mil, escreveram ao Papa para tomar medidas e denunciar a Imprensa por uma hipotéctica campanha de calúnias...O José Manuel Fernandes saiu a terreiro...Entretanto, no blogue AgoraVox.fr-Tribune Libre-(secção), saiu um documento do Cogregatio Pro Clericis, Ministério do Vaticano encarregado da vida sacerdotal mundial, onde se explicita a forma anti-democrática e capciosa assumida por Ratzinger para " calar " a voz das vítimas, desde há anos. Niet