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O grande problema de Lenine e do leninismo é que ambos só se adequam, se for esse o caso, a momentos históricos em que a política se centra e se decide pela brutalidade, pela violência, pelo terror, pela revolução ou por golpes. E, nesse sentido, Lenine e o leninismo entendiam-se e serviram (com a eficácia reduzida das particularidades da dimensão lusitana) nos momentos de desmantelamento da ditadura derrubada e na resposta à violência contra-revolucionária liderada por Spínola e outros. Como aprender com Mao, Giap e Che só fazia sentido se a perspectiva fosse a opção pela guerrilha de base camponesa (o que significou que, em Portugal, mesmo no PREC, o maoísmo e o guevarismo nunca tenham passado de excitações juvenis e … urbanas). Numa democracia estabilizada, em que o problema que se coloca é o seu aperfeiçoamento, não se questionando o regime mas sim a governação, citar Lenine, invocar Lenine, ou alimenta um jogo perverso de duplicidade entre democracia e revolução (em que a primeira só serve de “sala de espera” até que a segunda opção, a estimada, adquira condições objectivas e subjectivas), categoria de que dispenso incluir Aguiar Branco, ou então é recurso usado na área da retórica da ironia de alfinete. Ter-se-á, claramente, verificada a segunda hipótese. O que, sem a profundidade da autenticidade ou da oportunidade, teve o efeito do insólito. Sobretudo ao provocar risos nos companheiros parlamentares e leninistas que nunca invocam Lenine ali, na Assembleia da República, templo da democracia burguesa por quem o mestre dos mestres revolucionários nutria um profundo e coerente desprezo.
(também publicado aqui)
2 comentários:
É um prazer lê-lo. Oxalá nos próximos tempos, em que o Capital apertará o cinto a todos nós, se exija democracia fora desse templo de democracia burguesa.
Bom tema para um próximo post.
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