Cada vez que a crise aperta, o pessimismo depressivo aumenta. Nada mais natural, dir-se-á. Mas também, e será o pior, há um baixar de guarda em todas as vertentes da cidadania. Em vez de estratégias de respostas com projectos e a mobilização de vontades e brios, os governados sabem que os governantes vão aproveitar a oportunidade para questionar o adquirido e rasparem euros e cêntimos nas âncoras do Estado social. E nunca é aproveitada a crise como oportunidade, que é, de, impulsionando solidariedades, redistribuir os contributos consoante a capacidade para contribuir, tornando a sociedade menos desigual. Não, os bolsos que se atacam, os direitos que se corroem, são sempre os dos mesmos: os assalariados, os reformados, agora até os desempregados com direito a subsídio. Assim, falando dos partidos charneira dos governos, se o PS, desde Guterres, cristalizou a sua “identidade socialista” no assistencialismo aos deserdados pela intensificação da polarização dos lucros e da selva capitalista e financeira, o PSD, por sua vez, justificando a sua natureza classista, atira as responsabilidades dos problemas para as costas do Estado, propondo sempre e monotonamente a diminuição do seu alcance social. Do lado do PS, invoca-se que a regressão social é uma necessidade para viabilizar o Estado social, o que, no mínimo, é um paradoxo. Pela parte do PSD, não se disfarça a evidência que a pulsão insaciável pelas privatizações mais não visa que inventar novos mercados, mercantilizando os serviços que dão corpo aos direitos sociais. E o Estado, o grande ponto de unidade de interesses entre o PS e o PSD, na medida que alimentam as suas imensas clientelas de beneficiários das ocupações massivas e partilhadas, com ou sem alternância, do aparelho de Estado e dos aparelhos municipais, verdadeiras molas reais do poder político efectivo em Portugal, surge no debate público concentrando a aparente disparidade ideológica entre os partidos governantes. Mas entendendo-se, se for caso disso, como parece ter resultado do acordo saído da cimeira entre Sócrates e Passos Coelho e com bênção cavaquista que, de tão evidente, não necessita ser explicitada. Entretanto, os portugueses que trabalham, os reformados e os desempregados sabem que vão ficar mais pobres num país ainda mais injusto porque, enquanto apertam o cinto, os intocáveis, os das grandes fortunas, manterão as suas isenções de contributos para os sacrifícios, sob o argumento sofismático de que são eles, os ricos, que criam emprego e geram riqueza. E mais pobreza com mais injustiça social gera menos cidadania, menos democracia e menos interesse pelo valor supremo da liberdade. O que, evidentemente, e como costume e natureza, não incomoda as hienas dogmáticas do revolucionarismo e da violência como parteira da história. Pelo contrário, mais e pior crise, segundo os revolucionários de tacticismo democrático, aproximam o apocalipse redentor, o momento revolucionário. E para que este ocorra, julgam os dogmáticos teimando num engano recorrente, o desespero ajuda mais que a cidadania. Recusando-se a aprenderam que, olhando para as lições dadas pela história, a extrema-direita sempre soube melhor e mais vezes tirar as castanhas do lume das grandes decepções.
(publicado também aqui)
28/04/10
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