24/11/11

À atenção do professor Mamadu

Uma amiga minha usa as suas excursões à Baixa de Lisboa como barómetro socioeconómico. E assevera que a “rua” anda a emitir maus agouros: já nem droga se tenta vender por ali, apenas anéis roubados. O ouro, tradicional valor de refúgio, conseguiu destronar até os psicotrópicos no mercado das ofertas ilegais. 
Como bom sociólogo diletante, também tenho as minhas fontes: os panfletos dos videntes. Colecciono os papéis manhosos que recebo à saída do metro, aguardando que ali se cristalizem tendências, rumos futuros de valores bolsistas, sei lá. Não riam – ao preço actual das perdizes, quem poderá dedicar-se seriamente à aruspicação? Mas até este oráculo anda em crise. Continuo a ler estafadas promessas de cura para “doenças espirituais”, “frieza sexual” e maleitas quejandas. 
Um “Grande Médium Vidente” a sério teria um reclamo mais actual. Algo como “Afaste a maldição da troika. Recupere os subsídios fugitivos. Desvie o espectro do despedimento para o colega do lado. Fuja do azar ao jogo da bolsa, do mau-olhado das Finanças e da maldição dos governos de medíocres”. 
É que faz falta uma qualquer forma de influenciarmos o nosso futuro. O voto já deu o pouco que tinha a dar: o governo segue as deixas de uns funcionários estrangeiros e exigir acção à malta eleita é o mesmo que decidir espremer uma pedra até que dela jorre vinho. A greve geral, abarcando sobretudo funcionários públicos, ainda é capaz de poupar dinheiro ao Estado. 
Se até o sobrenatural nos falha, estamos bem tramados. 
 
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3 comentários:

joão viegas disse...

Da ultima vez que la estive (ha uns meses, senão mesmo uns anos) estava um homem a vender uns livros em que se fala de fazer jorrar agua de pedras e também de transformar agua em vinho.

Serve ?

Tem os livros expostos numa mesa e fala de microfone, logo a seguir à passadeira para a rua do Carmo.

Boas

Diogo disse...

«É que faz falta uma qualquer forma de influenciarmos o nosso futuro. O voto já deu o pouco que tinha a dar: o governo segue as deixas de uns funcionários estrangeiros e exigir acção à malta eleita é o mesmo que decidir espremer uma pedra até que dela jorre vinho»


E que dizer da Democracia Directa? Com o estado actual, e em constante evolução, da informática e das telecomunicações, para quê «eleger os nossos representantes» que vão sempre parar ao bolso do Grande Dinheiro?

Luis Rainha disse...

João, lembro-me dessa personagem. Mas já não a vejo por lá há uns tempos.


Diogo, enquanto precisarmos de leis vamos, infelizmente, precisar de quem as redija...