17/11/11

Marxismo-khomeinismo

George Orwell descrevia do seguinte modo, em 1941, o modo como a hipnose totalitária se sobrepunha, no espírito dos ideólogos estalinistas de serviço da época, ao exercício da reflexão racional do juízo político: "Não há muita liberdade de expressão em Inglaterra; logo, não há mais liberdade em Inglaterra do que na Alemanha. O desemprego é uma experiência horrível; logo, as câmaras de tortura da Gestapo não são piores do que o desemprego. Em tese geral, duas pretas valem uma branca, e ter metade de um pão ou pão nenhum vem a dar no mesmo".

Mas nem Orwell previu a brilhante vitória da lógica totalitária sobre o exercício racional do juízo político com que deparamos, a propósito de Israel, na seguinte afirmação: A ironia histórica é hedionda. As principais vítimas do Holocausto estão prontas para superar o mestre —ou seja, Hitler.

Esta identificação entre os pacientes do extermínio de Hitler e os agentes da opressão exercida sobre os palestinianos, que sustenta que uns e outros são os mesmos, e piores do que Hitler, tem evidentes vantagens do ponto do anti-semitismo militante e dos piedosos regimes que o patrocinam. Se as principais vítimas do Holocausto se esforçam por superar Hitler e fazer pior do que ele, o nazismo adquire retrospectivamente uma justificação inegável, pelo menos a título de mal menor, uma vez que se limitou a eliminar aqueles que estavam prontos a superá-lo. É certo que é difícil conciliar racionalmente esta justificação retrospectiva com essa outra tese fundamental do marxismo-khomeinismo que atribui aos sionistas e/ou a Washington a invenção do Holocausto. Mas que importa a razão, esse preconceito ímpio de democratas descrentes, incapazes de apreender a identidade dialéctica dos Princípios do Leninismo e das interpretações khomeinistas do Corão?

14 comentários:

Anónimo disse...

Pode não concordar com as ideias do renato, mas de onde sai esta conclusão?...

"Se as principais vítimas do Holocausto se esforçam por superar Hitler e fazer pior do que ele, o nazismo adquire retrospectivamente uma justificação inegável, pelo menos a título de mal menor, uma vez que se limitou a eliminar aqueles que estavam prontos a superá-lo. "

Ser contra o que se passa em Israel não é, de todo, ser anti-semita.

Diogo disse...

Um judeu, Ilan Pappe deu uma entrevista ao jornalista brasileiro Silio Boccanera sobre o que Israel fez na Palestina.

É uma entrevista extraordinária.
.

Anónimo disse...

Ui...

Anónimo disse...

Esta, "os agentes da opressão exercida sobre os palestinianos", é, sem dúvida, uma expressão notável! Quanto negacionismo! Atendendo ao contexto esta, "anti-semitismo militante", também é muito esclarecedora. A seu respeito!

Luís Teixeira Neves

Miguel Serras Pereira disse...

Sem dúvida, "ser contra o que se passa em Israel não é, de todo, ser anti-semita". E longe de mim a ideia de aprovar a política do regime israelita em relação a Gaza, aos colonatos, às medidas de segregação e relegação, etc. A minha posição, que tenho repetido muitas vezes neste blogue, é a seguinte:

"Contra a fascização e a discriminação em Israel e contra os "falsos amigos" de judeus e palestinianos; pela criação de condições que permitam que os israelitas, os palestinianos e os membros dos outros povos da região possam viver como cidadãos iguais em territórios partilhados ou vizinhos, o combate é o mesmo que contra os que localmente não só combatem todas as tentativas de democratização da ordem política europeia, como visam reformar autoritariamente os actuais regimes europeus. E deve ser travado em simultâneo, através da coerência das intervenções nas várias frentes".

Mas o problema começa quando se diz, textualmente, que "as principais vítimas do Holocausto estão prontas para superar o mestre". Se as vítimas do Holocausto são culpadas de estar "prontas a superar" Hitler - ou seja, a fazer pior do que ele -, então, poderemos, quando muito, considerar Hitler um mal menor.

Não há "indignação" que desculpe falsificação tão estúpida: nem os actuais opressores dos palestinianos são as vítimas do Holocausto, nem as vítimas do Holocausto o foram por serem sionistas ou outra coisa qualquer, mas simplesmente e só pela sua condição de "judeus".

A verdadeira "solução" do problema passa pela redefinição da luta e dos seus campos: pela substituiçao da oposição entre israelitas e palestinianos pela luta dos cidadãos palestinianos e israelitas pela igualdade e contra as oligarquias nacionais e rivais que os submetem à sua dominação efectiva ou anunciada.

Saudações democráticas

msp

Miguel Serras Pereira disse...

Luís Teixeira Neves,

não percebo o seu comentário. E creio que V. não percebe o que é o "negacionismo".
V. acha que o regime de Israel não é agente de opressão sobre os palestinianos? Ou acha que, por exemplo, o ditador de Teerão não é negacionista?

Leia o Edward Saïd, homem. E lembre-se dos concertos da paz que ele promoveu com Daniel Barenboim.

msp

Anónimo disse...

Apesar dos USA, como bem o sublinhou Robert Fisk,fazerem o impossivel para afastar a ideia/concepção de Democracia política do Médio Oriente,´parece inegável que a coligação israelita no poder em Telavive soma pontos ao " cercar " militarmente o Irão, por um lado, e ao negar/iludir aquela proposição-choque de Obama& H.Clinton, para se retirar para as balizas das fronteiras de 1967...No quebra-cabeças do puzzle archi-paranóico obsessional do M. Oriente, desaparecendo de cena Assad, Ahmin-Nejjad tem os dias contados e os satélites na região de Washington as mãos livres para imporem à Autoridade Palestiana o simulacro de um mini-Estado de vitrine, sem meios de defesa reais nem fronteiras livres. Niet

Anónimo disse...

Você é doente, pá. Doente.

Anónimo disse...

As opiniões desse Renato só têm algum sentido se realmente se acreditar que as câmaras de gás dos campos serviam apenas para matar piolhos.
Israel não está a exterminar os palestinianos e menos ainda por motivos racistas.
Claro que toda esta banalização do judeocídio cometido pelos nazis, esta obsessão com Israel, raia o anti-semitismo.
E a total ausência de críticas aos verdadeiros herdeiros ideológicos do nazismo, como o Hamas? O Hamas sim é uma organização anti-semita que pretende exterminar um povo.
Estes esquerdolas, que pretendem ser a vanguarda do proletariado, não passam da baba que a reacção espuma pela boca. É preciso marcá-los. A próxima vez que for berrar para uma assembleia é dizermos em voz bem alta: eis um idiota defensor de ditadores e um anti-semita raivoso! Um aspirante a burocrata! Que vá pedir financiamento à embaixada do Irão! Talvez ainda tenha sobrado alguma lavagen depois de terem alimentado os fachos mais clássicos.

Anónimo disse...

MSP,

então e racionalismo-villaverdecabralismo, pá? Do melhor, do melhor.

Miguel Serras Pereira disse...

Extracto de Robert Kurz sobre o "marxismo-khomeinismo":

"Até mesmo grandes fracções da esquerda mundial começaram a transferir, sem se interrogarem, a celebração do 'velho anti-imperialismo' para os regimes e os movimentos islamistas. O que só pode ser caracterizado como uma decomposição ideológica, porque o islamismo combate tudo o que a esquerda defendeu outrora - e reprime qualquer pensamento marxista por meio de uma repressão implacável e da tortura, pune com a morte a homossexualidade e trata as mulheres como seres humanos de segunda. (…) A aliança nada menos do que santa entre o caudilhismo 'socialista' de um Chávez e o islamismo não é mais do que a ratificação, ao nível da política internacional, dessa decomposição ideológica desprovida de qualquer perspectiva de emancipação" (R. Kurz, Vies et morts du capitalisme, trad. fr., Lignes, 2011).

E adiante: "Os interesses americanos e israelitas separam-se; Obama já não tem margem de manobra político-militar. Tolera-se a guerra islamista contra os judeus. É por isso que os disparos de rockets do Hamas contra a população civil israelita parecem não ter importância (…) Os palestinianos de Gaza são, enquanto vítimas, identificados com o Hamas, como se o regime deste não se tivesse imposto por meio de uma guerra civil sangrenta contra a Fatah laica.
(…)
Na realidade, o Hamas transforma em seu refém a população - como o Hezbollah libanês, em 2006 -. fazendo das mesquitas depósitos de armamento ou autorizando os seus quadros armados a abrirem fogo das escolas ou dos hospitais. A opinião pública mundial não dá grande importância ao caso, pois já reconheceu o Hamas como um 'factor de ordem' na crise social (…) trata-se de pacificar autoritariamente as massas empobrecidas; e, para esse fim, até mesmo o islamismo serve (…) Contra o mainstream ideológico, devemos afirmar que a destruição do Hamas e do Hezbollah é uma condição sine qua non não só de uma paz capitalista precária na Palestina, mas também de melhores condições sociais nessa região do mundo" (idem).

msp

Anónimo disse...

Penso que esses textos do Kurz estão traduzidos no site http://obeco.planetaclix.pt/

Anónimo disse...

O que dizer a uma "puta" desonesta...
A diferença substantiva entre o Holocausto e a Nakba (e os seus prolongamentos)está no facto de o primeiro ser passado e a segunda (os seus prolongamentos) ser presente. Substantiva porque importa que estes também sejam passado (que aquele não se repita). Esta diferença também não nos permite uma comparação (global) mesmo ao nível da mera contabilidade dos mortos: a Nakba (os seus prolongamentos) sendo presente, ainda não acabou. E não sabemos como vai acabar. Podemos contudo comparar os princípios. E esses apresentam semelhanças aterradoras. Há mais ainda a acrescentar para motivo de preocupação: Hitler não tinha a bomba atómica, Israel tem.
Luís Teixeira Neves

Anónimo disse...

Luís Teixeira Neves, um imbecil!

A Nabka pode ser comparada a outros fenómenos do género, em que o nacionalismo provoca catástrofes, como aconteceria se o nacionalismo palestiniano fosse para a frente. O extermínio dos judeus europeus, além de ser um extermínio deliberado, algo bem diferente da fuga forçada e voluntária dos palestinianos, foi motivada por um plano racista que colocava os judeus como os fautores de todos os problemas da humanidade, e que por isso nunca encontraria um compromisso para além do extermínio. O anti-semitismo continua vivo como se pode ver nos comentários destes esquerdosos que não hesitam em colocar Israel como o única país merecedor de extinção, pouco lhes importando o destino do povo israelita. O anti-semitismo está bem vivo no projecto do fascismo islâmico e no nacionalismo palestiniano. A tarefa dos comunistas é lutar pelo fim de todos os estados e pala unificação mundial do proletariado. A tarefa dos comunistas é derrotas a esquerda, um dos maiores baluartes do anti-comunismo.