03/11/11

Um país a desligar-se

Há precisamente um ano, Paul Krugman alvitrou que talvez fosse boa ideia a Espanha proceder a uma “desvalorização interna”, reduzindo preços e salários de forma a recuperar a tão desejada e esquiva “competitividade”. Sempre desmancha-prazeres, os nossos vizinhos conseguiram, sem reabilitar a escravatura nem legalizar o canibalismo, subir seis posições no ranking mundial da competitividade deste ano, de acordo com o World Economic Forum.
Mas a receita draconiana era boa de mais para ficar sem vítimas. Vai daí, começou a ser-nos imposta, escusando-se a discussões ou referendos. Vamos lá a isto: desligar iluminações camarárias; acabar com os transportes públicos às onze da noite; acabar com as aulas de Informática no 9.º ano (para que precisará de tal luxo uma nação dedicada à hotelaria?); reduzir, segundo algumas luminárias influentes, os exames caros que os médicos têm a mania de pedir; levar o desemprego aos 15%.
Por onde progredir agora? Vamos congelar metade da população? Fosse isto possível e podem estar certos de que veríamos amanhã o nosso impreparado PM, de ar pesaroso, a explicar-nos em prime-time o carácter “inevitável” da medida.
Por mim, estou pronto a adoptar a nova configuração de um Portugal conformado com o empobrecimento, a desistência, o torpor dos moribundos: para poupar tinta/ largura de banda/ a vossa pachorra, fico por aqui.


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