18/11/11

Merkel propõe uma "solução portuguesa" para o conjunto da UE

O governo alemão de Angela Merkel quer uma "solução política sólida" para a Europa — tão sólida que, de facto, entregue a política aos mercados, a fim de estes readquirirem a "confiança" em si próprios.

La Unión solo funcionará, (…) [segundo Merkel], si los miembros "ceden más competencias a las instituciones comunes". Este sería un "paso definitivo hacia una nueva Europa". Repitió ayer Merkel que los instrumentos con los que cuentan las autoridades europeas no bastan para obligar al cumplimiento de los criterios de estabilidad, de modo que es necesario ampliar su capacidad de sanción y regulación. Quiere que los países que incumplan sistemáticamente sus compromisos de déficit puedan verse obligados a responder ante el tribunal de Justicia de Luxemburgo. Merkel considera que así se podrá recuperar "la confianza de los mercados".

Trata-se, no fundo, de aplicar à zona euro, primeiro, e, depois, ao conjunto da UE, a solução portuguesa: primeiro o acordo (para-)constitucional que decide da linha geral; depois, as eleições, que de nada decidem. Ou, como há dias dizia Van Rompuy, outra das cabeças da oligarquia da UE, primeiro as reformas, depois as eleições — eventualmente já "reformadas" e que, se assim for, permitirão apenas a participação dos cidadãos cujas performances económicas os tornem da confiança dos mercados, ou somente terão lugar nas regiões "cumpridoras" dos objectivos do plano soberanamente fixado para a UE.

A estupidez grotesca deste programa de eliminação completa das formalidades democráticas, efectivas ainda que precárias, que restam aos cidadãos da Europa através da sua redução ao simples ritual decorre do facto — bem assinalado, ainda que noutros termos por José Manuel Pureza — de a cajadada com que pretende matar a democracia ter simultaneamente por efeito inevitável a liquidação/fragmentação/balcanização da Europa. E a verdade parece bem ser que, se as oportunidades de preservação da democracia, para já não falarmos do seu desenvolvimento, se tornarão ainda mais precárias sem "mais Europa", só a democracia, como escreve José Manuel Pureza, pode salvar a Europa.

Não há tempo a perder.

4 comentários:

António Geraldo Dias disse...

A propósito Miguel"The revelation that documents relating to the forthcoming budget were found today (17 November) in the German Bundestag, with German politicians poring over their contents, while neither Dáil Éireann nor, most importantly, the Irish people have seen or read what is in store for them, is almost beyond belief.

The opinions of the Irish people count for little, for it is now clear that what Germany wants, Merkel gets, and the Irish people will pay the price. It seems clear that Enda Kenny delivered these documents by hand on his recent visit to Berlin." [Who Is Running Ireland?by CPOI of Communist Party of Ireland]

Miguel Serras Pereira disse...

Revelador, sim, António. Obrigado pelo contributo.

Saudações democráticas

msp

Anónimo disse...

Vai tudo a despacho à Chancelaria a Berlim! Mesmo o Cameron.Para não falar dos contactos permanentes do Sarko que quer agarrar-se às saias da eng.a Merkel para que a Moddys não corte um dos A do triplo sinal de confiança da economia indígena gaulesa. E os tedescos " implantaram " homens de super-confiança- oriundos da Goldman Sachs-no poder em Itália, na Grécia, no BCE...O que quer dizer, salvo ultimatum de Washington,via FMI e G20, que o Euro pode ter os dias contados, e com isso, a União sai de cena pela força dos novos imperativos de conquista de novos horizontes para a economia alemã.Niet

Anónimo disse...

Adenda: Richard Greeman num texto recente sinaliza que Immanuel Wallerstein já perspectiva o futuro do "eixo" Berlin-Moscovo. Niet