20/11/11

O regime de ferro das caricaturas?

O filme "Tintin", de Spielberg parece-me um marco relevante. Pela primeira vez, acedemos com inteiro realismo a uma modalidade representativa algures entre o mundo e a sua caricatura; esta alcandora-se nesta obra a um patamar de verismo e detalhe nunca antes visto. Deslumbramo-nos agora com cartoons que obedecem às leis da refracção, da cinemática e da física em geral. Quando logo no arranque do filme deparamos com um retrato paródico mas hiperdetalhado de Hergé a desenhar um retrato em modo "linha clara" do protagonista (que ele criou), resultando a sua obra num desenho "infantil" e infra-real, o diagnóstico fica traçado: a animação já transcendeu a realidade e até o seu genoma BD; para nada precisa dessa ascendência, agora. Opera para lá das suas origens, longe da obediência aos velhos modelos. Tudo isto é old news. E só me subiu agora ao entendimento porque acabo de perceber que outros dispositivos de reflexo do mundo já há muito adoptaram este regime: basta ver as estátuas de Hafez al-Assad para reparar no óbvio paralelo. O nariz desmesurado, o formato grotesco da cabeça, o bigode cómico. A ditadura do novo sistema de imagens começou por ser instaurada na menos previsível das paragens. E parece ter deparado com um público aquiescente; em Damasco, como em muitos milhares de salas de cinema.

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