Nada o ilustra como o caso da Bulhosa Livreiros – Sociedade Comércio Livreiro S.A.,
que despede quem denuncia os salários em atraso dos seus trabalhadores e
contrata estagiários e reformados para os substituir. Desde o início de 2013 que o calote se agravou, estando neste momento
por pagar vários meses de salário e largas centenas de euros em dívidas a
pequenos editores. As Edições Antipáticas (uma editora sem fins
lucrativos) pertencem a este segundo grupo, sendo-lhes devidos há mais
de 16 meses os valores referentes à venda de 50 livros (mais de 400€),
que a Bulhosa se recusa pagar invocando os mais variados pretextos. Hoje somos editores a quem não pagam, amanhã seremos trabalhadores
que não recebem o seu salário e nos dias seguintes todo e qualquer um
que se confronte com quem nos rouba a vida e o futuro. O que está em
dívida é mais do que o dinheiro e a Bulhosa irá pagar.
Para começar, propomos ocupar a Bulhosa Entrecampos para um debate
público no dia 27 de Setembro, pelas 18h00. Convidamos todos e todas
para uma conversa com o título “A propriedade é um roubo…” onde todas as
participações são bem-vindas.
O conjunto de tarefas que não puderam ser delegadas
na automação/automatização formam uma nebulosa de lugares que, por não serem
ocupáveis pelas máquinas, são ocupados por qualquer humano – pessoal da
manutenção, lojistas, trabalhadores da linha de montagem, trabalhadores temporários,
etc. Esta mão-de-obra flexível, indiferenciável, que passa de uma tarefa a
outra e nunca fica muito tempo numa empresa, já não pode agregar-se numa força,
não se encontrando nunca no centro do processo de produção mas sim pulverizada
numa multitude de interstícios, ocupada em tapar os buracos do que não foi
mecanizado. O trabalhador temporário é a figura deste operário que já não o é,
que já não tem um ofício, mas antes competências que vende no curso das suas
missões e cuja disponibilidade é também um trabalho. [...] O actual aparelho de produção é então, por um lado,
esta gigantesca máquina de mobilização psíquica e física, de sugar a energia
dos seres humanos tornados excedentários e, por outro, esta máquina de triagem
que concede a sobrevivência às subjectividades conformes e deixa sucumbir todos
os “indivíduos em risco”, todos os que encarnam um outro emprego da vida e, dessa
forma, lhe resistem. De um lado fazem viver os espectros, de outro deixam
morrer os vivos. Tal é a função propriamente política do actual aparelho de
produção.
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